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A Outra Ponta do Lápis | Linda Woolverton

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A Bela e a Fera (1991) é um clássico da animação criado pelas mãos de grandes artistas, como os já mencionados em A Outra Ponta do Lápis: Glen Keane; Andreas Deja; Mark Henn; Chris Sanders; Alan Menken e Howard Ashman.

Porém, todo grande filme começa com uma ideia. Nas mãos habilidosas de contadores de histórias, essa ideia se transforma em um roteiro. Hoje, falaremos sobre a primeira roteirista dos estúdios Disney, famosa por defender seus pontos de vista e assim criar heroínas fortes e atuais, Linda Woolverton.

Linda nasceu na Califórnia, em Long Beach, no dia 19 de Dezembro de 1952. Ela cresceu em um mundo e em uma época na qual meninas eram criadas para se tornarem apenas “princesas”, e ia com frequência à Disneyland.

Desde a adolescência, seu foco sempre foi contar histórias. Sendo assim, passou seu ensino médio participando de grupos de teatro. Após se formar, em 1969, ela partiu para a Universidade do Estado da Califórnia, onde continuou aprimorando seu talento e, no fim, adquiriu um bacharelado em teatro.

Enquanto trabalhava como professora substituta, ela continuou estudando e logo terminou seu mestrado, também em teatro. Mais precisamente, em teatro infantil. Após deixar o mundo acadêmico, Linda fundou uma companhia de teatro infantil na qual escrevia, dirigia e atuava. Eles se apresentavam com frequência em locais como escolas e igrejas.

Em 1980, ela começou a trabalhar como assistente na CBS. tudo isso sem deixar de escrever. Em seus horários livres de almoço, ela finalizou dois romances: Star Wind (1986) e Running Before the Wind (1987). Enquanto trabalhava na emissora, Linda descobriu uma nova paixão: escrever roteiros. Ela roteirizou diversos programas infantis televisivos, e foi então que começou a se interessar por trabalhar nos estúdios Disney.

A jovem roteirista não conhecia ninguém que pudesse indicá-la, então resolveu deixar uma cópia de seus livros nos estúdios Disney de Burbank, na Califórnia. Woolverton apenas pediu à secretária que entregasse-os para alguém ler. Surpreendentemente, dois dias depois, recebeu uma ligação. Um dos executivos Disney, Jeffrey Katzenberg, lhe fez um convite de ouro, que mudaria sua carreira para sempre. Ele a queria trabalhando na mais nova animação Disney, A Bela e a Fera.

Linda se mostrou fantástica. Quantos podem dizer que estrearam como roteiristas com um filme que não apenas foi um sucesso de público, mas também fez história, sendo a primeira animação indicada ao Oscar® de Melhor Filme? A jornada da escritora, apesar de rápida, não foi nada fácil. Quando ela entrou para a equipe o longa estava passando por uma reformulação completa. Toda equipe criativa estava sendo trocada e o roteiro inicial foi completamente descartado.

O prazo, porém, permaneceu o mesmo. Isso significava que aos invés de quatro anos de produção, os artistas teriam apenas dois. Woolverton era uma das poucas mulheres do estúdio – talvez a única trabalhando diretamente com os diretores – e isso dificultava muito seu entrosamento com a nova equipe.

E, para piorar, Linda não entendia nada sobre o mundo da animação ou como o processo colaborativo entre roteiristas e artistas de storyboard funcionava. Ela não entendia o porquê escrevia uma cena e quando olhava para os storyboards via algo totalmente diferente. E essas alterações nem sempre eram para melhor.

Enquanto os veteranos da casa imaginavam Bela à moda princesa clássica e desenhavam a protagonista cozinhando alegremente em sua cozinha, Woolverton a imaginava lendo muito e marcando em grandes mapas lugares onde ainda desejava ir.

Woolverton não queria escrever uma princesa tradicional. Envolvida na causa feminista, ela queria que Bela fosse um novo tipo de heroína. O tipo que luta por seus sonhos todo o instante. Ela não iria apenas reagir aos acontecimentos, e sim tomar decisões. Definitivamente não iria ver sua vida passar.

Curiosamente, Linda nunca realmente descreveu a aparência de Bela no roteiro. Apenas disse que ela deveria ter uma mecha de cabelo caindo em seu rosto constantemente, característica que Mark Henn manteve, mostrando que a personagem não era perfeita. A roteirista estava cercada por profissionais que já trabalhavam na área e achavam saber o melhor modo de fazer um filme. Pessoas que trocavam suas cenas e tentavam manter a fórmula pronta usada até então.

Quem então corria para ajudá-la? O letrista Howard Ashman. Ashman foi a alma de A Bela e a Fera, ensinando a todos como um musical realmente deveria ser desde A Pequena Sereia (1989). Howard e Linda se apoiavam todo o momento e, juntos, batiam de frente com outros artistas para garantir que Bela fosse uma heroína forte e original.

Com o tempo – e muito trabalho – Linda começou a perceber que os animadores poderiam contribuir de modo muito positivo em suas cenas e se apaixonou pelo processo. E toda a equipe entendeu o porquê ela havia sido a escolha certa. Não sem motivo, o esforço de todos foi recompensado quando o filme foi indicado ao Oscar® mais almejado da noite.

Cerca de um ano depois, a roteirista também foi indicada a um Tony Award por sua adaptação do roteiro para a peça musical da Broadway. Infelizmente, a roteirista não se envolveu com o filme recém-lançado. Apesar de ter adorado a escolha de Emma Watson como protagonista, Linda tem ciúmes de sua primeira grande personagem e tem receio do resultado final. O que acham, Camundongos? Watson fez jus ao trabalho de Linda?

É interessante apontar que, apesar de Linda ter construído sua carreira recriando o conceito de heroínas Disney e escrevendo protagonistas fortes e independentes, ela não condena a personalidade de princesas de décadas anteriores.

Ela acredita que personagens como Branca de Neve e Cinderela são grandes exemplos de sua época e foram excelentes modelos para todas as meninas de seu tempo. Hoje, podem parecer antiquadas, mas funcionam como um belo registro da grande jornada já percorrida pelas mulheres.

Como se não bastasse ter trabalhado em uma das mais clássicas animações Disney, ela também fez parte do time que escreveu aquele que é considerado por muitos como sendo o melhor filme dos estúdios, O Rei Leão (1995). Linda voltou a brilhar sozinha quando roteirizou a readaptação Alice no País das Maravilhas (2010).

Ela colocou na protagonista muito de sua personalidade, já que quando criança e adolescente viveu grandes aventuras – velejando, por exemplo. Ela tomou a personagem de Lewis Carroll para si, e transformou-a de criança para adulta. O filme, dirigido por Tim Burton, foi um sucesso de bilheteria e fez com que Linda se tornasse a única roteirista mulher na história a escrever um filme de um bilhão de dólares.

Depois de tanto sucesso, Woolverton recebeu a tarefa de ser a principal roteirista de mais uma versão com atores da Disney, Malévola (2014), estrelada por Angelina Jolie. Como reescrever a história da vilã, colocando-a como protagonista? Como transformar uma das personagens mais perversas do mundo dos contos de fadas, capaz de fazer mal a um bebê, em uma criatura digna de nossa simpatia? Seria um imenso desafio.

A escritora começou buscando inspiração no conto original, no qual Malévola é mais uma das fadas do reino, e se perguntou “Se ela é uma fada, onde estão suas asas?” Desde o início, Linda já havia decidido que o beijo que quebraria o feitiço seria entre Malévola e Aurora, não entre a princesa e Philip. E diz que a cena clímax, na qual a fada acorda Aurora, foi uma das mais difíceis de se escrever.

Após provar seu talento ganhando prêmios e escrevendo sucessos de bilheteria estrelando mulheres fortes, me pergunto se algum dia veremos Woolverton escrevendo um filme de ação com uma protagonista feminina. Talvez uma produção do Marvel Studios ou da saga Star Wars. Apesar de estar envolvida com a continuação já anunciada da história de Malévola, seu foco tem sido o mundo televisivo.

Primeiro, por ser um mundo cheio de profissionais mulheres; e segundo, por ser um ambiente com mais espaço para liberdade criativa. Linda continua original, e atual, em sua escrita porque acredita que mais e mais mulheres devem ser colocadas em papéis de destaque pouco usuais, para que assim as futuras gerações as vejam em tais posições com naturalidade.

Não apenas como fã, mas principalmente como mulher, sou grata a Woolverton. Sou grata porque com sua visão única e perseverança ela criou a personagem feminina com a qual mais pude me identificar enquanto crescia.

Sua Bela nos ensinou que o real valor de uma pessoa está em sua beleza interior. Que não devemos nos conformar com a realidade do local onde vivemos, e sim, seguir nossos sonhos. Que livros podem nos libertar. E que ser diferente da multidão pode ser nossa maior qualidade.

Escrito por Caroline

Designer Gráfico, Disney freak, viciada em café, quer ser roteirista e princesa quando crescer. Têm mais livros do que deveria e leu mais vezes “Orgulho e Preconceito” do que têm coragem de admitir.

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