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Caminhos da Floresta | A Importância dos Contos de Fadas

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Bruxas podem estar certas, gigantes podem ser bons. Você decide o que é certo, você decide o que é bom…

No One is Alone

Quando Stephen Sondheim e James Lapine se reuniram para discutir “Caminhos da Floresta“, a intenção era criar um musical provocante baseado em um mundo de fantasia no qual os personagens embarcam em uma missão. A dupla, que anteriormente trabalhou no musical ganhador do prêmio Pulitzer “Sunday in the Park with George”, começou combinando alguns contos de fadas e criando um novo conto sobre um Padeiro e sua Mulher. O resultado final é uma história bela e comovente com temas atuais que são elegantemente contados pelos personagens clássicos de Cinderela, João e o Pé de Feijão, Rapunzel e Chapeuzinho Vermelho, que juntos exploram o que acontece depois do “felizes para sempre”.

Contos de fadas datam do início do registro da História, e foram passados de geração em geração deste então. Embora na superfície a intenção deles possa parecer apenas uma fonte de entretenimento, eles também servem como importante ferramenta educacional e emocional graças à visão que oferecem da jornada humana. O psicólogo Bruno Bettelheim escreveu extensivamente sobre a profundidade psicológica dos contos de fadas em seu livro “The Uses of Enchantment: The Meaning and Importance of Fairy Tales”, onde ele defende o poder dos contos de fadas para ajudar as crianças a chegarem a suas próprias conclusões sobre seus verdadeiros significados.

Meryl Streep concorda com isso e diz “Os contos de fadas evoluíram para contos de alerta. Eles eram contados para afastar as crianças de perigos que encontrariam na vida e para encorajar mulheres jovens a se casar com homens ricos. Todos são incentivados a encontrar um príncipe e viverem felizes para sempre e algumas vezes isso não acontece”. Dar vida a contos de fadas de modo realista, que era um dos objetivos de Sondheim e Lapine, foi um aspecto que os astros acharam encantador. Anna Kendrick explica. “Há uma razão para que maioria dos colégios secundários só faça o primeiro ato, porque o primeiro ato acaba com felizes para sempre. Mas realmente, o segundo ato é o que torna a história incrível, intensa e substancial.”

Johnny Depp concorda e diz, “Eu adorei a ideia de dar vida a todos esses contos de fadas que nós conhecemos em um grande musical. Nós pudemos saber mais sobre eles, o que se mostrou ainda mais arrepiante e engraçado do que imaginávamos, então foi uma ideia simplesmente brilhante. E foi reunido lindamente”. Sondheim elabora, dizendo, “James Lapine fez algo que ninguém fez em 500 anos com a história de Cinderela. Ele a fez deixar o sapatinho para trás de propósito, o que é muito inteligente, porque é como ela descobre se o Príncipe a ama de verdade ou não”.

Como o Príncipe que corteja Cinderela, Chris Pine inicialmente não conhecia “Into the Woods” como peça musical, mas logo depois de ler o roteiro do filme ficou cativado pelos temas e técnicas de Lapine e Sondheim. Ele explica, “Eles pegaram contos de fadas, que existem desde o início da história, e criaram uma mistura de todos os diferentes mundos e histórias, que vai ficando mais profunda e mais complexa. De muitas maneiras, este filme fala sobre amadurecimento, pois os personagens entendem que a vida é espetacular em todas as suas formas e manifestações. Fala sobre descobrir o mundo”.

Achei que bastava um, mas não é verdade: É preciso ter dois…

It Takes Two

Into the Woods”  estreou na Broadway em 5 de novembro de 1987, no Martin Beck Theatre. A produção, que fez 764 apresentações, ganhou o prêmio Tony® de Melhor Trilha Sonora (Stephen Sondheim), Melhor Livro de um Musical (James Lapine) e Melhor Atriz em Musical (Joanna Gleason como a Mulher do Padeiro). Entre outros, o musical ganhou cinco prêmios Drama Desk, incluindo o de melhor musical e um GRAMMY® de Melhor Disco de Elenco Original. Desde então, “Into the Woods” foi produzido pelo mundo todo, incluindo uma turnê nos EUA em 1988, uma produção do West End de 1990, remontagens na Broadway e em Londres, além de uma produção de TV e um concerto no décimo aniversário.

Criar um set de produção complexo como “Caminhos da Floresta” provou ser uma tarefa incrivelmente árdua. Sondheim explica, “Você se senta e fala sobre o filme para quem quer que tenha escrito o livro durante muitas semanas, e decide como a história será contada. A coisa mais importante é que os dois escrevam o mesmo espetáculo. Suas atitudes em relação à história e aos personagens precisam ser as mesmas”.

Lapine sempre teve interesse por contos de fadas e psicologia junguiana, e a ideia de fazer um conto de fadas como um musical foi muito atraente para ele e também para Sondheim. “Eu parti para escrever um conto de fadas original, mas já que os contos são curtos por natureza, eu logo percebi que expandir um deles em uma peça seria esticá-lo além do que deveria”, explica ele. “Então, eu tive a ideia de pegar vários contos de fadas de reuni-los em um conto original, o que se tornou a nossa história do Padeiro e sua Mulher.”

Caminhos da Floresta

As referências de Lapine foram as histórias dos Grimm e Perrault, e Sondheim conhecia as histórias através de desenhos animados, então Lapine escreveu a primeira cena e disse a Sondheim que seria praticamente impossível musicá-la. “Ninguém gosta mais de um desafio impossível do que Stephen Sondheim, o que foi uma ótima maneira de convencê-lo a fazer isso”, diz Lapine. “E ele se virou e escreveu esse belíssimo número de abertura e começou a correria.

Durante o processo de desenvolvimento, Sondheim e Lapine tiveram várias conversas sobre qual seria a mensagem central da história, mas logo eles perceberam que poderiam ser várias mensagens. Sondheim diz, “Nós não nos sentamos e pensamos no que íamos dizer, mas se você me disser o que aconteceu com você no ônibus hoje, eu posso criar uma moral disso. Qualquer história, tudo que acontece com você, tem substância. A história não precisa provar um ponto, mas tem que ter um ponto”.

Sondheim acha que o filme fala sobre responsabilidade comunitária. No início da história, os personagens pensam apenas em si mesmos e o resultado é desastroso, mas conforme a história avança cada um deles percebe que eles precisam se juntar como uma comunidade para corrigir seus erros, e para Sondheim, essa mensagem é universal. Para Lapine, é o fato de que nem sempre é possível equacionar “agradável” com “bom”, e de ter cuidado com o que você deseja. “Nós não ponderamos o suficiente sobre o que queremos… acho que sabemos que queremos X, Y e Z, mas não pensamos sobre o porquê de querermos isso e como nossas vidas podem mudar se conseguirmos o que desejamos”, explica Lapine. “A história fala sobre as consequências de nossos atos, não importa quão pequenos sejam eles.”

A partir daí, a discussão passou a ser se a história deveria ser um musical ou não. Algumas histórias não precisam de música só pela música, e para Sondheim, todas as canções têm que ser necessárias. E muitas vezes em musicais, é através da música que público conhece os personagens. Lapine explica, “É muito importante para Stephen garantir que suas músicas e letras se misturem com o mundo falado e com a história que está sendo contada. Ele tem uma extraordinária habilidade de entrar na cabeça e falar com a voz do personagem; de pegar os diálogos e monólogos e transformar em canção”.

De acordo com Sondheim, cujas célebres obras incluem musicais lendários como “Company”, “A Little Night Music”, “Pacific Overtures” e “Sunday in the Park with George”, um bom musical tem que ser algo que se você tirar a música haverá buracos no tecido. “Com bastante frequência, não se consegue expressar com palavras por que algo deveria ser um musical, mas eu sei que se as músicas não existissem em ‘Caminhos da Floresta‘, o espetáculo não seria muito bom”, diz ele. “Não tem nada a ver com a qualidade das canções, mas com o fato de que esses personagens são pessoas que cantam.”

A combinação campeã das canções de Sondheim com a história de Lapine é uma das razões de o musical ser tão estimado e reverenciado ao longo dos anos, e quando as discussões sobre adaptar a produção teatral para a tela começaram, foi importante para os cineastas dar continuidade a essa colaboração essencial. Por essa razão, Lapine foi chamado para adaptar sua história para o cinema. O produtor John DeLuca diz, “As vozes de Stephen Sondheim e James Lapine são tão intrinsecamente ligadas que nós sentimos que precisávamos dele para dar vida a este filme. E ele veio a bordo com a cabeça mais aberta que eu já vi em um escritor”.

Marshall diz, “Foi maravilhoso trabalhar com James porque admiro seu trabalho há muitos anos e, é claro, ele foi autor da peça. Achei que era importante trabalhar com os criadores originais da peça para reter a integridade e a substância do trabalho, enquanto o reimaginava como um filme. Eu fiquei muito impressionado em como James era aberto e tentava novas coisas, e em como ele compreendeu instintivamente que o que funciona no palco não necessariamente funcionaria no cinema”.

Marshall continua, “Por exemplo, ‘On the Steps of the Palace’, de Cinderela, foi originalmente escrita como uma canção de apresentação onde o personagem fala diretamente à plateia, explicando o que acabou de acontecer com ela. Obviamente, isso não pode ser feito em filme, então nós repensamos a canção para que tudo aconteça no exato momento em que Cinderela prende o sapato no piche da escada. Ela tem meio segundo para tomar uma decisão, então congelamos a ação para que tudo se passasse dentro daquele segundo e a canção se torna um monólogo interno. E então Stephen Sondheim ajustou brilhantemente as letras para que tudo se passasse no presente”.

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E o envolvimento do letrista e compositor Sondheim foi igualmente importante. Marshall explica, “Os atores adoram cantar o material dele porque de certa forma, ele é um ator, no sentido de que ele escreve para e sobre o personagem (seus desejos, necessidades, temores, vulnerabilidade e alegrias). O interessante nas músicas de Stephen Sondheim é que elas nunca são só uma canção sobre algo genérico, é algo muito específico, e as coisas mudam durante a canção. O início da canção não é igual ao fim da canção… é como uma jornada, e é por isso que as canções não se destacam na cena, mas vivem dentro dela de forma integral, o que faz parte da genialidade de seu trabalho”.

Fã há muito tempo de Sondheim, Anna Kendrick, que interpreta Cinderela, explica o que faz seu trabalho ser tão fantástico. “Sondheim é um sonho para os atores porque os desempenhos estão escritos em forma de música. Não quero dizer que não se tem liberdade. Não se trata de sacrificar a sinceridade ou o desempenho por uma bela música”, afirma ela. “‘On the Steps of the Palace’ é um ótimo exemplo da genialidade do trabalho de Sondheim. Você vê cada pensamento que há na cabeça da Cinderela e como ela se sente. Está tudo escrito em melodia, ritmo e na letra.”

Johnny Depp concorda e acrescenta, “O trabalho de Stephen é simplesmente magnífico… ele é uma lenda viva. Suas composições e habilidade de traduzir em canção o que os personagens sentem é simplesmente milagroso. Seu material é muito complicado de ler e muito complexo de cantar. Se você não tiver treinamento de cantor terá que buscar bem no fundo por essas coisas para conseguir sentir e compreender o significado de cada letra. Mas há algo muito empolgante sobre se desafiar para ver se você consegue chegar lá”.

De acordo com Sondheim, uma das coisas que sempre é complicada em um musical é responder a pergunta, “Quem são essas pessoas?” para o público. O número de abertura é a parte mais importante de qualquer musical, porque é quando se estabelece as regras para o público. “Você tem que apresentar os personagens principais; tem que dar ao público uma noção do tipo de espetáculo que verão”, explica ele.

Por esta razão, o número de abertura do filme foi especialmente complicado de escrever porque era necessário contar três histórias e apresentar cada história à plateia. Ele explica, “Teria sido muito entediante se você começasse a cena com o Padeiro e sua Mulher cantando uma canção. Aí temos uma cena na casa do João e eles cantam uma canção. E depois temos uma cena na casa da Cinderela e eles cantam uma canção, e aí você já esqueceu quem era o Padeiro. Você tem que dizer ao público que essas são as pessoas que você vai ver, todas elas, e todas têm a mesma importância. Cada um tem uma história totalmente separada.”

Ele continua, “A música consegue preencher os espaços rapidamente porque é possível fazer uma transição de um assunto para outro rapidamente, o que de outra maneira necessitaria de um diálogo de cinco linhas. Então, “Caminhos da Floresta” é uma compressão: quando esse número acaba, você já conheceu todos os personagens principais. Ao mesmo tempo, você quer que o público saiba que será divertido e engraçado. Eles estão à beira de um trampolim e prontos para saltar”.

O produtor Marc Platt acrescenta, “Quando se pega as letras inteligentes, sofisticadas e comoventes de Stephen Sondheim e o livro emocionante e muito inteligente de James Lapine e os coloca em uma narrativa com música, comédia e alegria, você terá uma experiência maravilhosa, encantadora, provocante e teatral”. Ele continua, “E por este ser um mundo criado na floresta, sempre estivemos confiantes de que poderíamos desenvolver uma gramática cinemática que transmitisse a essência do material como é visto no palco, mas também apresentasse uma experiência cinemática que fosse única por si só, e ainda muito fiel à integridade, ao significado e ao poder do material-fonte.”

O trabalho de Stephen Sondheim viverá muito tempo porque ele sempre se revela de forma interessante e complicada, e ele fala não só com grande sabedoria e inteligência, mas também com muita emoção”, diz Lapine. “Há um senso de humor no que ele faz, mas também um senso de paixão que toca às pessoas. A música atinge as pessoas de um modo inefável. Não se consegue descrever em palavras o efeito que a música tem sobre nós, e Stephen traz esse elemento de emoção, alegria, dor e mistério em cada trilha sonora”.

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E agora você sabe coisas que nunca soube…

Giants in the Sky

Caminhos da Floresta” é uma experiência cinematográfica alegre e única com personagens conhecidos que empreendem jornadas inesperadas, mas também têm uma grande profundidade que permeia o material. De acordo com o produtor Marc Platt, “Dentro da história há uma tremenda metáfora sobre vida e a perda, pais e filhos e se devemos repetir os pecados de nossos pais ou escolher outro caminho. Essa metáfora é muito identificável e relevante para todos, jovens e mais velhos. Quando se pega todos esses elementos e os transforma em uma narrativa de conto de fadas com música e comédia, você tem uma experiência cinematográfica bela e gratificante”.

Meryl Streep acrescenta, “É desafiante e emocionante do ponto de vista musical, então isso é que eu desejo para as pessoas que forem assistir: que se sintam comovidas e desafiadas”. O produtor John DeLuca diz, “Desde a abertura de vinte minutos do filme, você se sente como se saísse de um canhão. E a partir daí, você se pega na alegria e no significado da jornada, cheia de humor e personagens engraçados, para quem nós verdadeiramente torcemos também”.

Os cineastas concordaram que todos que trabalharam neste filme, dos atores principais aos figurantes e todos que estiveram envolvidos em levar esta história para a tela do cinema, que todos buscavam perfeição todos os dias, com propósito de honrar e respeitar o material. O desenhista de produção Dennis Gassner diz, “Eu acho que o público vai perceber. As pessoas vão entender que as equipes trabalharam muito para elas e elas terão uma experiência inacreditavelmente bela e vívida como uma obra de arte”.

O que eu gosto neste filme é que há muito entretenimento além dos muitos aspectos que existem no filme”, diz Rob Marshall. “É uma jornada eletrizante porque contém muitos personagens diferentes entrelaçados na floresta com belas canções, mas também diz algo profundo, comovente e importante sobre a vida.”

A adaptação “Caminhos da Floresta” é um toque moderno nos amados contos de fadas dos Irmãos Grimm, entrelaçando as tramas de algumas estórias e explorando as consequências dos desejos e das missões dos personagens. Este musical bem-humorado e sincero segue as clássicas fábulas da Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, João e o Pé de Feijão, Rapunzel e amarra todos juntos através de uma original, a qual envolve um padeiro, sua esposa, o desejo de começar uma família e sua interação com uma bruxa que colocou uma maldição sobre eles.

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Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".