Se você não é assustador, que tipo de monstro você é?
~ Diretora Abigail Hardscrabble
Há mais de uma década, estreava o quarto longa-metragem animado da Pixar Animation Studios. Vencedor do Oscar® de Melhor Canção Original e indicado a mais três categorias, “Monstros S.A.” consolidou o estúdio como um dos mais promissores e mais criativos do setor de entretenimento.
Nove filmes mais tarde, e com o anúncio de um prelúdio, a pergunta que pairava no ar era: como igualar ou mesmo superar algo insuperável? Após o sucesso estrondoso de “Toy Story 3”, seguido por duas animações aquém das expectativas e do potencial do estúdio, a opinião sobre “Universidade Monstros” ficou dividida – até o lançamento do mesmo nos cinemas.
Era uma árdua tarefa. O público estava à espera de rever Mike e Sulley nas telonas, no entanto, o desejo era uma sequência, uma resposta ao final do filme original. O estúdio optou pelo caminho inverso e decidiu contar os acontecimentos anteriores, mostrar como o vínculo de amizade dos dois monstros se formou. E a decisão, felizmente, mostrou-se um grande acerto.
Ao escolher retratar a origem de Mike e Sulley, o diretor Dan Scanlon e a equipe envolvida encontraram um grande material para desenvolver, menos perigoso do que uma continuação direta, porém, capaz de ser igualmente impressionante.
Com esta porta aberta, a equipe pôde aprofundar-se em um território não tão explorado por “Monstros S.A.”, o próprio mundo dos monstros, pois os cenários eram limitados ao interior da fábrica de energia, devido à tecnologia disponível à época. Agora, com técnicas mais avançadas, os animadores ousaram e expandiram aquele universo de modo impressionante.
Os novos monstros e cenários – até um vislumbre do subúrbio da cidade dos assustadores – deram um toque especial a este prelúdio, locais e rostos conhecidos – alguns em rápidas aparições, sequer sem falas – também estão ali, em uma mistura de nostalgia e novidade.
Os roteiristas trataram de forma hábil o material disponível à mão. Todas as características do original estão presentes no novo: o humor rápido e quase pastelão, o sarcasmo, as perseguições – estas em novas modalidades, e o drama sem exageros.
Descobrir que Sulley e Mike, os protagonistas mais carismáticos e divertidos da Pixar, eram rivais durante a faculdade e vê-los superando suas dificuldades e diferenças para construírem a amizade que cativou a audiência é um presente da equipe a quem admira a animação predecessora.
O roteiro estabelece os laços afetivos entre os dois em meio a lições de vida, a exemplo da importância da união e a de superar os obstáculos impostos pela trajetória antes da concretização de um importante sonho. “Universidade Monstros” não se seduz pelo o comum e busca não criar antagonistas, dando lugar a forças opostas, à competitividade e aos percalços; algo reforçado pelo final, o qual foge dos clichês vistos em filmes de superação.
Enquanto, em “Monstros S.A.”, Sulley e Boo eram o centro da atenções, com Mike orbitando em volta deles com sua sagacidade, neste o pequeno monstro verde recebe o merecido destaque para brilhar e ter sua vida desvendada, sobressaindo-se na função de protagonista.
A fotografia é um dos muitos pontos positivos. Com tão ou mais cores vivas quanto os oceanos de “Procurando Nemo” e uma iluminação inédita, a película se reveste de uma sobriedade, a ponto de se tornar crível se não fosse pelos mais variados estilos de estudantes e professores nela apresentados. Esta dedicação é ressaltada pelo uso das três dimensões, as quais proporcionam uma maior percepção das pelugens, texturas e da arquitetura dos peculiares edifícios.
O instrumental da trilha sonora afasta-se da influência do jazz, substituindo-a por batidas eletrônicas e músicas mais frenéticas e agitadas, algo mais condizente à fase da vida dos personagens retratada, uma jornada de autodescoberta e à procura de seus respectivos lugares naquele mundo.
A resposta àquela pergunta, portanto, não poderia ser mais óbvia: não tentando. “Universidade Monstros” recria e reinventa, com maestria, o universo de “Monstros S.A.”, sem se distanciar em demasia de seus alicerces e com os devidos espaços para homenagens e esclarecimentos a um dos maiores clássicos do cinema recente; convidando crianças, jovens e adultos a explorá-lo mais uma vez.