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A tradicional família brasileira versus a Ohana da Disney

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Na última semana, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou o texto-base para o Estatuto da Família, o qual define a família apenas como a união entre um homem e uma mulher ou por qualquer um dos pais e seus descendentes.

Um projeto de lei que vai contra os principais direitos e garantias da Constituição Federal e promove ainda mais a discriminação, mostrando que o preconceito está muito mais enraizado em nossa cultura. Porém, nosso objetivo com essa matéria não é discutir as questões legais envolvidas, e sim, a definição de família.

Pinóquio (1940): o amor entre pai e filho.

Ao longo dos anos, nós Camundongos, fomos expostos a diversos tipos de famílias através das animações do Walt Disney Animation Studios. Algumas pequenas, outras grandes, mas todas, de uma forma ou outra, formavam uma família.

Pinóquio (1940) mostra um conceito de família baseado em um pai humano e um filho de madeira, e ainda que Pinóquio não fosse um garoto de verdade, Gepeto se arriscou e enfrentou até uma baleia para salvar o filho dos perigos da vida.

Dumbo (1941): um singelo retrato do amor maternal.

Dumbo (1941) apresenta o outro lado: uma família composta apenas por mãe e filho, sendo que esse era zombado por todos devido a suas orelhas grandes, e ao tentar protegê-lo da crueldade do mundo, acabou sendo trancafiada em uma jaula do circo.

De 1937 a 1953, quando Peter Pan estreou nos cinemas, não havia exemplo de uma “família tradicional brasileira” completa no cânone do estúdio, a primeira delas foi os Darling na aventura do menino que não queria crescer, que foi seguida por A Dama e o Vagabundo (1955), com Jim Querido e Querida e os próprios protagonistas; e A Bela Adormecida (1959).

Peter Pan (1953): a primeira família “completa” do estúdio.

Curiosamente, Aurora veio de uma “família tradicional” e foi apenas em seu décimo sexto aniversário que ela descobriu as suas origens. Nesse espaço de tempo, ela foi criada por três mulheres, as fadas Fauna, Flora e Primavera, que a seu próprio modo atrapalhado faziam de tudo pelo bem-estar da princesa.

101 Dálmatas (1961) vai mais além por mostrar a família de Pongo e Prenda adotando mais de oitenta filhotes abandonados. Há vários outros exemplos de diferentes estilos familiares: a relação paternal de Arthur e Merlin, em A Espada Era a Lei (1963); a família animal do protagonista de Mogli – O Menino Lobo (1967); e até Viúva Tita e Dodó, em O Cão e a Raposa (1981).

A Bela Adormecida (1959): Aurora e a sua família nada convencional.

A Pequena Sereia (1989), A Bela e a Fera (1991), Aladdin (1992) e Pocahontas (1995) retratam os relacionamentos entre pai e filha, sem a presença de uma mãe, já O Rei Leão (1994), Hércules (1997), Mulan (1998), Tarzan (1999), Atlantis: O Reino Perdido (2001) e Planeta do Tesouro (2002) também exibem seus próprios modelos familiares.

Então, nos deparamos com Lilo & Stitch (2002), cujo um dos principais temas é justamente debater a questão familiar. O que forma de fato uma família? O sangue e genética ou o amor que cada membro daquele grupo sente pelo outro?

O Cão e a Raposa (1981): Viúva Tita encontrou espaço em seu coração para amar Dodó.

Lilo, em uma das cenas mais marcantes, relembra o conceito de Ohana. “Ohana quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer,” diz a garotinha órfã. E nessa sua ideia de família, há lugar até para um estranho “cachorro”, outrora programado para destruir tudo o que encontrasse pela frente.

Por meio de sua ingenuidade, Lilo consegue nos ensinar o que realmente forma uma família: o amor! Um valor tão poderoso capaz de ser entendido até pela mais horrenda das criaturas, um alienígena assassino. “Esta é a minha família. Eu achei. Sozinho. Eu que achei. É pequena e incompleta, mas é boa. É, é boa,” afirma Stitch.

A Bela e a Fera (1991): Bela representa os sacríficos pelo bem de quem amamos.

Segundo os nossos políticos, não podemos considerar Lilo, Stitch, Nani, Peakley e Jumba como uma família, pois não há uma união entre um homem e uma mulher ou a presença de um dos pais. Porém, nós sabemos que não existe ninguém no mundo que ame Lilo mais do que aqueles quatro. Sorte a deles por morarem no Havaí, em vez do Brasil.

Quantas vezes mais teremos que aprender essa lição? Não importa a genética, não importa o sangue que corre em nossas veias. É o amor que nos une como família. São as nossas atitudes e o carinho que nutrimos um pelos outros que demonstram isso, e os gritos e as brigas também fazem parte.

Lilo & Stitch (2002): a Ohana de Lilo não se enquadra na “família brasileira”.

Diariamente vemos em jornais e na televisão, casos de pais que abandonam os filhos, ou de filhos que matam os pais, ou tantas outras atrocidades. Como exemplos assim podem ou poderiam ser considerados famílias enquanto a de Lilo ou mesmo aquelas compostas por dois pais, duas mães, uma tia ou um avó, não podem?

Em 2007, A Família do Futuro veio para reforçar essa ideia de família unida pelo amor. Lewis foi abandonado por sua mãe biológica, por razões desconhecidas, e por anos viveu sozinho em um orfanato até conhecer os Robinsons, uma família repleta de pessoas estranhas e felizes, e que acima de tudo, se aceitavam e se amavam mais do que qualquer outro poderia amar.

A Família do Futuro (2007): uma família composta por diferenças.

Quando se tornou aceitável nossos políticos definirem um modelo de família a ser seguido? Quando se tornou aceitável decidirem por nós quais famílias merecem e quais não merecem receber a proteção do Estado? Em que espécie de país vivemos que se permite discriminar entidades familiares com base em uma ideia tão absurda?

Torna-se evidente a incompetência de tais políticos, quando Tarzan, criado por um bando de gorilas, entende mais sobre amor, afeto e família. De acordo com os deputados, afeto não pode ser considerado elemento para a constituição de família. Talvez, se passassem mais tempo assistindo às animações da Disney e aprendendo com elas, em vez de criando projetos de lei absurdos, o Brasil não estaria como está.

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Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".