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John Carter | Crítica de Fã para Fã #2

 

Não há sensação melhor do que você ir ao cinema com baixíssimas expectativas para depois sair da sala de projeção com um sorriso estampado no rosto. Pelo menos, foi o que aconteceu no dia 09 de Março de 2012, quando este que vos escreve pôde enfim conferir esta nova grande produção da Walt Disney Pictures: “John Carter – Entre Dois Mundos”.

Quando a Disney liberou o primeiro teaser trailer em Julho do ano passado, confesso que o vídeo despertou um pouco o meu interesse, a ponto de querer verificar se a biblioteca local possuía o livro original de Edgar Rice Burroughs (não o encontrei). Com o passar dos meses, no entanto, minha animação com o filme foi caindo aos poucos e quase acabei não o vendo nos cinemas – afinal, em um ano repleto de lançamentos badalados como esse, é preciso ser bastante seletivo em relação a tantos longas e ingressos. Mas, para minha total satisfação, esta escolha não poderia ter sido mais acertada! “John Carter” é um filme surpreendentemente emocionante, divertido, elegante e envolvente e, de fato, assume uma posição única dentre os vários títulos já produzidos do gênero.

Acompanhamos a história de John Carter (Taylor Kitsch), um veterano de guerra que, inexplicavelmente, acaba sendo transportado para Marte, ou Barsoom, onde se vê às voltas com um conflito de proporções épicas entre os Heliumites e os Zodangans – estes liderados pelo ganancioso Sab Than (Dominic West), que conta com o auxílio do thern Matai Shang (Mark Strong), o qual possui os seus próprios interesses em relação ao confronto. É em meio a esta guerra, que Carter conhece Dejah Thoris (Lynn Collins), a corajosa e sábia princesa dos Heliumites que terá de escolher entre sua liberdade ou o aparente bem-estar de seu povo, já que Sab Than propõe um acordo de paz entre os reinos em troca de sua mão em casamento. Ela tentará convencer Carter a se juntar à causa contra os Zodangans, mas para isso, o herói terá de enfrentar os fantasmas de seu passado na Guerra Civil norte-americana.

 

 

Vários traços desta sinopse podem ser facilmente reconhecidos em outros tantos filmes de ação interplanetária. Mas o que torna “John Carter” especial? Os tais efeitos especiais de última geração? As sequências de batalha envolvendo seres marcianos e tecnologias avançadas? Nem um, nem outro. O melhor de “John Carter” se encontra justamente em suas personagens, que, ao contrário de diversas produções do gênero, são muito bem trabalhadas pelo hábil e envolvente roteiro de Andrew Stanton, Mark Andrews e Michael Chabon.

Tomemos o protagonista por exemplo. O maior desafio de Carter não é combater um reino tirano de Barsoom, mas sim superar os traumas de seu sombrio passado na Guerra Civil, para, definitivamente, escolher entre o seu antigo “lar” ou lutar ao lado deste povo que tanto precisa de sua ajuda. O ápice destes conflitos internos se dá em uma cena particularmente tocante, quando são apresentados flashbacks da história de Carter enquanto este luta com um verdadeiro exército de marcianos (destaque para a precisa e comovente combinação do ritmo e da intensidade de ambas as passagens – confesso que derramei algumas lágrimas nesta parte.).

E o que seria dessa complexidade sem uma performance à altura? Apesar de dever em alguns breves momentos, Taylor Kitsch prova que não possui apenas um físico bonito (e que físico!). O ator consegue transmitir toda a intensidade e carisma necessários para que o público se envolva e identifique com este veterano de guerra que, se antes achava que já havia visto de tudo, agora se depara com um mundo totalmente novo. E tudo auxiliado pelos gestos, olhares e, principalmente, pela tonalidade vocal do ator, a qual nos ajuda a ter uma maior ideia do histórico da personagem. Confesso que pelos trailers, não esperava muito da atuação de Kitsch, de modo que esta foi mais uma grata surpresa de “John Carter”.

 

 

Outra grande personagem da trama é a Princesa Dejah, cujos conflitos internos são igualmente bem desenvolvidos pelo roteiro juntamente com o carisma e a elegância de Dominic West, que nos encanta desde sua primeira cena – ela e Kitsch possuem uma ótima química, inclusive (e que olhos lindos ela tem!). Até mesmo alguns coadjuvantes recebem um tratamento especial na história, como a relação entre Tars Tarkas e Sola – por sinal, fico indignado ao ver que esta última não recebeu uma atenção maior por parte da campanha promocional do filme, afinal é uma das melhores coadjuvantes do longa. E, apesar de seu visual excêntrico, como não se afeiçoar ao fiel Woola?!

Mas claro, nem tudo é assim tão perfeito. Embora trabalhe com maestria em suas principais personagens, o script peca em não aprofundar justamente o caráter e objetivo dos vilões da trama. Sab Than, por exemplo, acaba se tornando o típico antagonista sedento de poder que deseja “dominar o mundo” (ou, no caso, Marte). Já as reais intenções de Matai Shang nunca se tornam muito claras – afinal, por que ele decidiu apoiar Sab Than em sua empreitada para dominar Barsoom? Na verdade, seria bom se estes pontos pudessem ser esclarecidos em futuras continuações do filme – e que de fato serão feitas, caso o longa faça bonito nas bilheterias.

Voltando aos méritos, outro ponto que chamou minha atenção no filme foi o seu lado cômico. “John Carter” é repleto de tiradas e passagens absolutamente hilárias, como quando o herói tenta se acostumar com a gravidade de Marte e entra em contato pela primeira vez com Tarkas (“Virgínia!!!”) – sem falar da reação de Sola (ou Tarkas?) perante a um erro de navegação de Carter, mais à frente. Apesar do clímax final dever um pouco, as sequências de ação são muito bem executadas e funcionam, especialmente aquela onde Carter enfrenta os temidos gorilas brancos gigantes.

 

 

E se você achava que o orçamento do filme – U$250 milhões – era um verdadeiro absurdo, irá perceber que todo esse dinheiro não poderia ter sido melhor aplicado. Os artistas Disney praticamente criaram uma nova cultura para estes povos marcianos, com direito à arquiteturas, roupas, utensílios e meios de transporte próprios – vide aquelas naves gigantescas que navegam pela luz e os prédios da cidade de Helium. A fotografia igualmente presenteia o público com planos belíssimos dos desertos e vales marcianos, e repare que, enquanto na Terra a palheta de cores é mais sombria e melancólica, em Marte ela passa a ter tons mais quentes e vivos, refletindo desse modo o quão acolhedor se torna o planeta para seu protagonista.

A animação dos seres marcianos como os tharks e Woola dispensa comentários, tamanho o realismo presente nos movimentos, expressões e texturas. Já os efeitos especiais cumprem bem o seu papel, embora os tais saltos gigantescos de Carter muitas vezes não soem muito críveis – o que não deixa de ser um ponto negativo, já que nos lembra que estamos apenas vendo um filme com técnicas computadorizadas, interrompendo a sensação de estarmos sendo transportados para aquele novo mundo. E Michael Giacchino nos presenteia mais uma vez com uma trilha sonora encantadora, que casa perfeitamente com o ritmo de todas as sequências, além de apresentar temas belíssimos que dificilmente sairão da sua cabeça após o término da projeção – pelo menos foi o que aconteceu comigo em relação ao tema de John Carter.

Em síntese, “John Carter – Entre Dois Mundos” é uma das melhores revelações de 2012, e espero sinceramente que o filme possa fazer o sucesso necessário para a produção de novas aventuras estreladas por John Carter e pela Princesa Dejah. Barsoom nos espera e estaremos dispostos a retornar ao planeta vermelho a qualquer momento.

 

 

Notas do autor:

Não saiam da sala a partir do início dos créditos finais. Além de visualmente belíssimos, eles também contam com uma dedicatória a Steve Jobs, que faleceu ano passado.

Escrito por Luís Fernando

"Tupi or not tupi! That is the question..."