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Entrevista com Marcelo Coutinho

Oi, pessoal, aqui é o Nicolas! Novamente venho lhes trazer uma entrevista muito especial. Quando escutamos trilhas sonoras como as de “A Bela e a Fera“, “Aladdin“, “O Rei Leão“, “Pocahontas“, “O Corcunda de Notre-Dame“, “Hércules“, “Tarzan“, etc; lembramos dos grandes compositores que criaram estas melodias, como Alan Menken, Elton John, Tim Rice, Mark Mancina, Phil Collins e outros mais. Os profissionais que dão vida para estas canções são os que mais tarde gravam a voz de nossos heróis e princesas em estúdio. Aqui no Brasil tivemos nomes que nos presentearam com inúmeros trabalhos de dublagem para a Walt Disney Pictures e nossas versões eram sempre premiadas e reconhecidas ao redor do mundo. Vale lembrar que até 1994 nossos amigos portugueses escutavam as dublagens brasileiras por lá. “A Pequena Sereia“, “A Bela e a Fera“, “Aladdin” e tantos outros eram apresentados com a dublagem brasileira nos cinemas de Portugal, tamanha era a qualidade. “O Rei Leão” marcou o fim desta prática e posteriormente os animados anteriores foram dublados no idioma oficial do país.

Hoje, converso com Marcelo Coutinho, o diretor musical de praticamente todas as dublagens dos Clássicos Disney que surgiram nos anos 90. Ele também emprestou sua voz para Quasímodo, em “O Corcunda de Notre-Dame” e ao Jack, de “O Estranho Mundo de Jack“, na redublagem feita no Rio de Janeiro. Podemos escutar o trabalho de Marcelo em várias dublagens, como nas canções da redublagem de “Bambi“, “A Dama e o Vagabundo“, “Tempo de Melodia“, “As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo” e por aí vai. Nesta entrevista, ele relembra o trabalho nos anos 90 e esclarece algumas curiosidades. Aperte play no display abaixo e relembre alguns dos trabalhos de Marcelo para a Disney enquanto lê nossa matéria:

 

 

Nicolas: Os fãs dos estúdios Disney e também das dublagens de filmes animados costumam considerar “A Pequena Sereia” (1989) como um importante divisor. A partir deste filme as animações Disney voltaram ao topo e em cinco anos chegaram sucessos como “A Bela e a Fera” (1991), “Aladdin” (1992), “O Rei Leão” (1994) e muitos outros. Sua entrada neste meio da dublagem cantada e falada aconteceu durante esta “revolução”? Conte-nos como tudo começou.

Marcelo Coutinho: Bem, preciso antes falar um pouco da minha formação artística para que os fãs possam entender como entrei neste meio fascinante, que é a dublagem. Comecei minha carreira aos 8 anos de idade, ao ingressar no coral dos “Canarinhos de Petrópolis, cidade onde nasci. Lá estudei canto coral, violino, piano e flauta doce. Fui solista do grupo por dez anos, além de tocar na orquestra de lá, como violinista. Com o coral e orquestra viajamos pelo Brasil e exterior. Aos 18, prestei vestibular para canto, na Escola de Música da UFRJ, onde me formei em Bacharel em Canto, em 1989. Já havia começado minha carreira como cantor lírico e também dava aulas individuais de canto, além de reger coros e grupos camerísticos. Então, tinha uma formação musical bem sólida e reconhecimento no meio erudito, apesar da pouca idade. Em 1991, eu namorava a filha de um diretor e tradutor da Delart (Luciana Seixas, com quem me casei e tive dois filhos: Bernardo, que dublou o Koda e o Flecha, e o Rafinha, que também dubla) , que era o Maurício Seixas. Apesar de ele saber que eu era músico nunca mencionou nada sobre dublagem comigo e eu nem sabia que ele era do meio. Em setembro de 1991 começaram os testes para a “A Bela e a Fera“. O diretor musical do desenho era o Waltinho Dávila, um produtor musical da Globo, bastante experiente com músicos populares, mas sem conhecimento de canto lírico ou de coros com vozes líricas. Isso começou a dar problema, pois as vozes de “A Bela e a Fera” eram vozes líricas, como a do Gaston e da Bela. Ele já tinha feito uma bateria de testes e ninguém havia sido aprovado. Foi aí que Maurício me indicou para ele. Consegui as vozes para os papéis e ele acabou me convidando para organizar o coro, também. Fiquei tão apaixonado por aquele trabalho que me entreguei de corpo e alma. Disney é uma coisa que levamos no DNA. e ali estava eu, fazendo parte daquilo tudo. O supervisor da Disney em Los Angeles, Javier Ponton, ao chegar no Rio e assistir aos ensaios do  coro, ficou impressionado com meu conhecimento vocal e musical.  Eu só tinha 24 anos, e então ele resolveu me nomear o novo diretor musical do próximo grande projeto, que seria “Aladdin“. Quase morri de medo, mas encarei.

 

 

Nicolas: Quando “A Bela e a Fera” chegou aos cinemas em 1991, a dublagem deste filme chamou muita atenção! Você foi o diretor musical da versão brasileira de “A Bela e a Fera“, conte-nos como foi a experiência de dirigir tantos talentos num projeto complexo como este. Você já sabia que desempenharia o mesmo papel em todos os próximos grandes Clássicos Disney naquela década? Havia algum tipo de pressão por estar continuando o trabalho de pessoas como Cyva e Aloysio de Oliveira?

Marcelo Coutinho: Como disse, em “A Bela e a Fera“, fui um assistente de direção. Mas me propus a fazer uma coisa que ninguém havia feito até então. Que era ficar dentro do estúdio junto com o artista, regendo-o e dando as entradas e as intenções devidas à canção. O grande Ivon Cury, que fez um Lumière magnífico, adorou isso, pois se sentiu seguro com uma pessoa que estava ao seu lado para dar a nota certa, a intenção correta do personagem, além de suporte técnico vocal, quando precisava. Isso facilitou o trabalho do diretor e do supervisor, que ficavam na técnica do estúdio somente assistindo, Intervindo vez ou outra em alguns pontos. Só vim saber que Cyva tinha dirigido “A Pequena Sereia“, quando nós redublamos as partes cantadas, se não me engano em 1997, o que adorei fazer, pois dos novos desenhos era o único do qual eu não havia participado. E Aloysio de Oliveira é uma lenda no mundo Disney. Foi o primeiro de todos. Sua biografia diz por si só. Falou diretamente com Disney sobre os projetos, além de suas versões incríveis. mas sinceramente, não senti pressão, pois eram novos tempos, novas maneiras de se interpretar e cantar, e era isso que eu queria implantar nesses novos projetos.

 

Nicolas: Aladdin” (1992) lançou o sucesso “Um Mundo Ideal” (A Whole New World). Este e tantos outros longas da Disney terminam com um tradicional dueto da canção tema do filme. Aqui, lhe ouvimos com Ana Paula Tribucy. Em “A Bela e a Fera” sua parceira no dueto final era Ju Cassou (voz oficial da própria Bela) e em “Toy Story” a canção “Amigo Estou Aqui” foi dividida entre você e Zé da Viola. Era mais trabalhoso fazer novamente a direção musical do filme e também cantar algumas canções da trilha sonora? Você sempre participava ou procurava manter-se longe dos microfones do estúdio enquanto dirigia?

Marcelo Coutinho: Na verdade, sempre sobrava pra mim. Javier gostava muito do meu timbre e queria sempre que eu cantasse nos “end credits“. Isso, fazíamos sempre no final de tudo, depois de duas semanas de estúdio. e eu sempre já estava exausto, pois já tinha ensaiado os solistas e coristas, cantado a parte dos outros para ensiná-los, gravado os coristas e solistas em todo o filme. No “Aladdin“, eu penei pra chegar nos agudos! (risos).

 

Nicolas: O Rei Leão” (1994) seguiu a linha dos lançamentos anteriores. O filme abre com “Ciclo sem Fim” com Zezé Motta, passa por “Hakuna Matata” com Pedro Lopes e Mauro Ramos e chega em “Nesta Noite o Amor Chegou” com a rainha das canções da Disney no Brasil; Kika Tristão. Uma trilha sonora de Elton John e Hans Zimmer. A Disney exigiu nesta dublagem mais do que normalmente exigia? A música era como um personagem em “O Rei Leão“, as interpretações transbordam emoção e os coros são impressionantes, como foi dirigir este projeto especial?

Marcelo Coutinho: Na verdade, a canção de abertura não foi cantada pela Zezé Motta, e sim por uma cantora brasileira que morava em Los Angeles. Ela gravou lá, diretamente com Javier. Esse projeto foi muito importante, pois Elton John queria ouvir todas as versões e tudo tinha que ficar impecável, mas tínhamos um time de coristas e solistas muito bons e tudo correu muito tranquilo, apesar dessa pressão.

 

 

Nicolas: Pocahontas” (1995) também apresenta uma trilha sonora fantástica. Novamente temos Kika Tristão na trilha sonora e você é a voz cantada de John Smith. Em 2005, a canção “Se Eu Não Te Encontrasse” seria adicionada e era necessário o retorno seu e da Kika Tristão, mas a Disney resolveu cancelar o lançamento apenas no Brasil. Muitos especularam que os intérpretes não estavam disponíveis. Até hoje a tal canção ficou de fora. Afinal, existe uma resposta para este mistério?

Marcelo Coutinho: “Pocahontas” foi um desenho em que em princípio, os produtores achavam que as versões fora dos EUA, não iam funcionar, por ser uma história muito americana, mas acabou sendo um sucesso, também. Além da interpretação impecável de Kika, o “End Credits” com o Jon Secada e a Daniela Mercury foi muito legal. Gravei ela aqui no Rio e ele em Miami. Ele foi sensacional. Muito simples, de uma humildade tamanha. Se esforçou ao máximo para cantar em português. Quanto à canção, não sei o real motivo de não incluí-la no filme. Quando começamos a fazer os testes ela já existia, mas depois fomos informados que ela não entraria no filme. O tema apareceria apenas nos “end credits“.

 

Nicolas: Você é a voz de Quasímodo, “O Corcunda de Notre-Dame“(1996). Conte-nos como foi assumir a responsabilidade de dublar o protagonista na sua totalidade e ainda dirigir a parte musical do maior musical animado do estúdio até hoje.

Marcelo Coutinho: Mais uma vez teve a intervenção de Javier Ponton. Ele não queria abrir mão de mim neste papel, tanto cantando quanto dublando, o que eu ainda não tinha feito na vida: dublar. Foi um grande desafio para mim, pois eu sabia que estaria sendo observado por todos e não poderia decepcioná-lo e nem aos fãs, principalmente. Acontece que me envolvi de uma forma com o personagem que tudo ficou muito natural. Acho que consegui extrair aquela pureza e inocência do Quasi. foi considerada a melhor versão de todo o mundo. Além de cantá-lo sabia que também tinha que dirigir grandes cantores, como Ed Motta e Rosana. Tinha que estar bem preparado para qualquer coisa. mas eles foram maravilhosos e tudo saiu muito bem, assim como os coros, que são magníficos.

 

Nicolas: Hércules” (1997) seguiu os passos de seus antecessores e utiliza a música como ferramenta principal para contar a história. Temos novamente Kika Tristão cantando “Não Direi Que é Paixão“, o cantor Marcus Menna na voz cantada de Hércules e mais cinco meninas muito talentosas cantando canções no melhor estilo gospel norte-americano. Dentre elas, Kiara Sasso, Kacau Gomes e Marya Bravo. É realmente mais complicado gravar uma trilha sonora que pede grandes coros como neste filme?

Marcelo Coutinho: “Hércules” foi um deleite. As canções eram incríveis. Eu precisava de cantores com bastante swing e formei um ótimo time para fazer as musas. Naquela época, com exceção da Rosa Maria, nenhuma delas era famosa. Kiara estava começando, assim como Marya, Sabrina e Kakau. Kika já era a Kika e Marcus estava batalhando sua banda. Ele foi meu aluno de canto. Então, ensaiamos bastante e foi muito divertido e prazeroso fazer o Hércules. Eu escolhia o elenco que cantava, assim como Telmo Munch escolhia os atores para dublar, já que ele era o diretor de dublagem e também uma lenda no mundo Disney. Foi Telmo quem substituiu Aloysio de Oliveira, no início dos anos 70. Um excelente diretor e ator, mas também de um temperamento difícil de se lhe dar.

 

 

Nicolas: Mulan” (1998) não abusou das canções em sua trilha sonora. Porém assim como os filmes anteriores, vendeu muitos CDs com a trilha sonora em português. Qual era a expectativa de profissionais como vocês ao saber que estas canções realmente tinham apelo comercial e se sustentavam sem suas imagens? Conte-nos um pouco sobre os lançamentos das trilhas sonoras em CD; exigiam um trabalho extra? E os estúdios onde elas eram gravadas, porque raramente eram os mesmos onde eram feitos os diálogos do filme?

Marcelo Coutinho: Na verdade o departamento responsável pelos CD’s  era Disney Consumer Products. Na verdade eles aproveitavam os tracks já gravados do filme. Somente quando havia uma canção extra é que gravávamos em outro estúdio com preço mais barato, pois o orçamento deles era sempre menor. Renato Lopez era o diretor de Disney, responsável pelos CD’s.

 

Nicolas:Tarzan” (1999) teve Ed Motta cantando em toda a trilha sonora no Brasil. Sabemos que a Disney se empenhou na parte musical desta produção. Como foi trabalhar na direção musical deste filme?

Marcelo Coutinho: Depois de trabalhar com Ed em “O Corcunda de Notre Dame” e em “A Nova Onda do Imperador“, ficamos bons amigos. Ed é de um talento absurdo, e muito fácil de se lhe dar quando ele confia em você, portanto foi mais uma produção deliciosa de se fazer, já que ele cantava o tempo inteiro. Também dirigia a Sueli Franco, uma outra excelente atriz e cantora, também.

 

Nicolas: Perto do fim dos anos 90, houve a decisão de que muitos Clássicos Disney seriam redublados. De onde partia a decisão de redublar uma produção dos anos 40 e 50? Quais eram os critérios? E afinal, chegou ao fim a prática da redublagem?

Marcelo Coutinho: Isso foi uma decisão interna, pois havia muito produto que já não podia relançar no mercado porque o material estava se deteriorando com o tempo e com o “bum” do home-vídeo nos anos 90  eles precisavam lançar produtos, por isso a decisão de redublar muita coisa. Hoje acho que já redublaram o que se necessitava.

 

 

Nicolas: É um tema muito polêmico, mas merece ser revisitado… “A Pequena Sereia” teve apenas suas canções redubladas em 1997 sob sua direção musical. A voz cantada de Ariel, da cantora Gabriela Ferreira, gravada em 1989 foi substituída pela voz da Kiara Sasso, o maior nome do teatro musical brasileiro atualmente. Para muitos foi uma decisão sábia, já que a versão de Gabriela Ferreira realmente não soava bem. Para outros foi algo que incomodou muito, visto que Kiara tinha uma voz mais adulta e não era a mesma escutada nos cinemas e na VHS. Como foi regravar e exatamente por que foi regravada a trilha sonora de “A Pequena Sereia“?

Marcelo Coutinho: Isso foi muito interessante. Quando Kiara tinha 15 anos, isso em 1994 ela cantou para mim, na minha casa. E o que ela cantou? “A Pequena Sereia“. Adorei ouvi-la. Uma voz linda, trabalhada, um inglês perfeito. E aí comentei com ela: “pena que esse desenho já foi gravado, senão você seria Ariel.” Quando veio a ordem de regravar as canções e trocar a cantora não hesitei em mandar um teste dela, apesar da voz estar mais encorpada. Ela foi aprovada e regravamos todos os solos e coros. Gosto da versão da Cyva, gosto da pureza da Gabriela, só sentia falta de um pouco mais de energia e sentimento nos personagens e nos coros e foi isso que tentamos fazer na nova versão. Em tudo o que você faz em se tratando de arte você tem pessoas que gostam e pessoas que não gostam do resultado. Acho que é isso que faz esse meio ser tão mágico e inquietante. A diversidade de opiniões.

 

Nicolas: O filme mais explorado em home vídeo pela Disney; “Mary Poppins“(1963) foi redublado nos anos 90 e poucos sentem falta da gravação original, que apresentava as canções em inglês. Você foi o diretor musical desta dublagem e fazia a voz cantada de Bert. Um filme com 140 minutos de duração e mais de uma hora de canções é também mais demorado para ser dublado? Conte-nos como foi trabalhar nesta dublagem e como foi dirigir a inédita voz da intérprete Elizabeth Hartzersdorf para Mary.

Marcelo Coutinho: Isso foi um presente para mim, porque eu sempre adorei Mary Poppins. Quando decidiram redublar, inclusive as canções, quase pirei. Fiquei dias pensando em quem poderia dublá-la cantando. Então, fui me apresentar em Campinas, iria fazer os solos da cantata 142 de Bach, com orquestra. Chegando lá, a solista feminina era a Elizabeth. Quando ouvi aquela voz disse para mim mesmo: encontrei a Mary!!! Perguntei se ela estava disposta a ir ao Rio e gravar um teste e ela aceitou na hora. Foi aprovada e se saiu muito bem! O filme ficou muito legal! Também deu muito trabalho, pois havia várias canções e muitos coros. Era um filme em que a emoção era tudo. E todos se empenharam muito.

 

Nicolas: O Estranho Mundo de Jack” (1993) também foi redublado alguns anos depois. Na primeira dublagem, Nelson Machado, o dublador do Kiko, do “Chaves”, era a voz cantada e falada de Jack e na redublagem você refez todos os textos e canções com maestria, além de novamente fazer a direção musical. O resultado ficou fantástico, da canção de abertura ao dueto final entre Sally e Jack. Este filme exigiu muito de você, assim como em “O Corcunda de Notre-Dame“?

Marcelo Coutinho: Este é sem dúvida, é o meu preferido. Acho que mais ainda do que o Corcunda. Porque as canções são incríveis. A melodia é fantástica. A orquestração é soberba. Ele (Jack) tem momentos raiva, de amor, de dúvida, de comédia… e você poder colocar tudo isso numa canção cantando é tudo de bom para um cantor. Modéstia à parte, acho que fiz um bom trabalho, pois as canções são bem difíceis musicalmente falando. Além da complexidade dos outros personagens e do coro, que se saíram muito bem. O dueto final é um marco na animação, ao meu ver!

 

 

Nicolas: A partir de 1943, mergulhada na 2ª Guerra Mundial, a Disney produziu vários longas-metragens com pequenas histórias repletas de músicas. Não havia uma história linear. Desta safra saíram “Como é Bom se Divertir“, “Tempo de Melodia“, “As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo” e alguns outros. Estes três foram redublados e todos trazem você cantando algumas canções. Destaque para a música “Sombras ao Luar” dentro do segmento do cowboy Pecos Bill em “Tempo de Melodia“, “Katrina” e “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” em “As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo” e “Como o Amor” (canção de abertura) e “A Minha Canção” em “Bambi“(1942, redublado nos anos 90). Além destes, desenhos menores que apresentavam outras canções apareciam para serem redublados, isto ocupava bastante o tempo dos profissionais atuantes no estúdio de gravações?

Marcelo Coutinho: Impressionante como vocês sabem de tudo isso! Esses produtos eram maravilhosos, pois haviam ali canções e coros incríveis. Nos ocupavam bastante, sim. Pois sempre tínhamos muito o que gravar e sempre coisas que nunca tínhamos ouvido antes, apesar de serem dos anos 40 e 50. Foi muito bom. Adorei cantar essas canções.

 

Nicolas: Além de gravações para trilhas sonoras de filmes, você dirigiu e participou de outras gravações para eventos ao vivo, programas de TV, brinquedos e games com a marca Disney? Afinal, qual foi seu trabalho mais complicado e desafiador até hoje para a Disney?

Marcelo Coutinho: Sim. Fizemos um pouco de tudo isso. Eu acho que todo o trabalho em dublagem é desafiador, já que você parte de uma coisa que já existe. E, que ao mesmo tempo em que você tem que seguir uma linha, tem também que dar a cara do Brasil, o jeito brasileiro de ser, entende? Não basta copiar, tem que humanizar, tem que emocionar, às vezes, até mais do que o original. Sempre encarei todos os trabalhos com muita seriedade e responsabilidade. Javier me disse logo no início em que começamos a trabalhar: “Faça sempre o seu melhor, porque depois de gravado nunca mais vai poder mudar. Então, se tiver de melhorar, a hora de fazer isso é dentro do estúdio”. Levo isso comigo até hoje e não me arrependo.

 

Nicolas: Conte-nos algum acontecimento curioso, situação engraçada ou surpreendente que ocorreu durante uma gravação.

Marcelo Coutinho: […] Tem uma situação com o Telmo que é interessante. Ele traduzia as canções, no início, além de dirigir a dublagem. As suas versões eram muito poéticas, bonitas, mas a prosódia era complicada. Quando entrei em “A Bela e a Fera“, revisei as letras das canções e apontei vários problemas de sílabas sobrando. Falei de uma, de duas, de três, quando falei da quarta, ele soltou um palavrão e aos berros disse: “esse pessoal é muito chato”. Era nosso primeiro contato. Ele com 70 e eu com 24. Pois na mesma hora soltei um outro berro pra ele e disse que  não admitia que ele gritasse assim comigo, pois queria o o melhor pro filme. Ele se assustou com meu berro e disse que não era comigo, mas com a Disney a reclamação. E eu disse: então vai gritar com eles, não comigo. A partir daí, nos tornamos amigos e fizemos grandes parcerias, além  de ter aprendido muita coisa com o querido professor Ludovico. Depois disso, sempre que ele tinha uma letra de música para me mostrar ele dizia: “vamos brigar um pouquinho”?

 

 

Nicolas: Para terminar, gostaríamos de saber mais sobre o seu presente. Em qual estúdio você está atuando? E a Disney, continua em seus projetos?

Marcelo Coutinho: Eu continuo dirigindo, dublando e cantando na Double Sound, além de ser professor de canto da Escola de música da UFRJ e fazer meus concertos de música. Dirigi ano passado para Disney “Os Vingadores“. Então eu diria que voltamos a namorar!
Quero deixar aqui o meu agradecimento ao Marcelo Coutinho! Sou um grande fã do trabalho dele, aliás, fãs ele tem aos milhões por este país (e até pelo mundo). Vamos continuar acompanhando seu trabalho e divulgando qualquer novidade aqui, no Disney Mania! Até a próxima!

Escrito por Nicolas Marlon