Quando “Toy Story 3” chegou às salas de cinema em 2010, um novo patamar de qualidade foi estabelecido para as animações vindouras – um nível tão alto, diga-se de passagem, que a responsável por sua execução, a Pixar Animation Studios, ainda enfrenta problemas para alcança-lo novamente.
Embora o consenso geral fosse de que o longa-metragem encerrou brilhantemente as aventuras dos brinquedos, o estúdio encontrou outras formas de colher mais frutos da franquia sem afetar o final proposto, criando curtas-metragens (três, até o momento) e especiais para televisão.
O primeiro deste último tipo foi ao ar, ontem (27 de Outubro), pelo Disney Channel Brasil, em comemoração ao Dia das Bruxas. “Toy Story de Terror” apresenta uma premissa bem básica: durante a estadia de Bonnie, sua mãe e os brinquedos em um hotel de beira de estrada, ocasionada por um pneu furado, Cabeça de Batata desaparece e Woody e os demais precisam evitar o mesmo destino.
Diferente da trilogia cinematográfica, o programa coloca a cowgirl Jessie – e sua claustrofobia – nos holofotes, um dos acertos desta nova empreitada, a qual, assim como os curtas, busca diversificar além da superexplorada dinâmica de Woody e Buzz.
O filme de vampiros em preto-e-branco ao qual os brinquedos assistem na primeira cena dita o tom do que virá a seguir – uma corrida pela sobrevivência. Com apenas vinte e dois minutos de duração, o roteiro não perde tempo reintroduzindo os personagens, mais do que conhecidos do público, e utiliza este tempo para resgatar e intensificar o medo de Jessie de lugares fechados, visto apenas em “Toy Story 2”.
A direção de Angus MacLane (“Um Pequeno Grande Erro”, “Burn-E”) é competente em formar o clima de suspense e de terror, com o destaque para os momentos em que os brinquedos encontram seus temidos destinos e a cena no subsolo do hotel. Todavia não seja um exemplar aterrorizante, devido ao seu público-alvo, a produção é capaz de criar apreensão nos espectadores.
Conquanto utilize os clichês do gênero, a exemplo da tempestade e dos relâmpagos, “Toy Story de Terror” o faz de maneira capciosa ao empregar a especialidade em dramaturgia do Senhor Espeto como válvula de escape, ao antecipar e expor as esquematizações dos filmes de horror.
As inúmeras homenagens, como a clássica cena de “Psicose” e as alusões a “O Predador”, “O Iluminado” e outros, e as referências ao próprio universo do estúdio, incluindo “The Good Dinosaur” e “O Guarda-chuva Azul”, merecem igual destaque, pois foram bem dosadas e usadas de forma discreta – algumas são captadas apenas pelos olhos mais vigilantes –, outra prova da atenção aos detalhes dos envolvidos no projeto.
Alguns pontos negativos também devem ser destacados, a começar pela qualidade da animação. Com um orçamento restrito, o detalhamento visual dos cenários e a movimentação dos personagens não se equiparam aos longas-metragens mais recentes, tendo sido necessário filmar um morcego real para inclui-lo digitalmente em determinada cena. Contudo, felizmente, nada muito alarmante, em especial se comparado a produtos similares da concorrência.
O especial apresenta alguns novos brinquedos, a maioria, no entanto, é esquecível e serve somente aos intuitos do roteiro em pontos convenientes. O único dos novatos a receber melhor desenvolvimento e a ter função real estabelecida é Combate Carl, entretanto a razão para sua presença no local e seu futuro não fiquem realmente claros.
Assim como alguns dos antigos estão ali servindo apenas como vínculo ao passado e para serem vitimados, enquanto poderiam ser substituídos por outros, entres eles Ken, Barbie e Porquinho, a fim de aumentar a comicidade, uma característica da franquia.
A grande revelação para o motivo dos desaparecimentos acaba por ser uma reciclagem da ideia empregada em “Toy Story 2”, no entanto, sua execução menos urgente e em um nível menor de ameaça torna-se o diferencial das duas, soando quase como uma homenagem – aliás, de fato, há uma através de mais um dos conhecidos easter-eggs.
No fim, “Toy Story de Terror” cumpre exatamente o papel proposto e é garantia certa de diversão, com a capacidade de carregar e honrar o legado da trilogia, apesar de não acrescentar novidade alguma ou tema para debate àquele mundo. Portanto, o primeiro passo da Pixar nesse território inexplorado é bem-sucedido, mas, que os próximos possam ir além de apenas meia-hora de bom entretenimento.