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Clássicos na Crítica | A Dama e o Vagabundo

 

 

Olá, acho que boa parte de vocês já conhece o meu trabalho como o Animaluco, fui editor do Animatoons por mais de dois anos, e a partir de agora pretendo apenas fazer participações especiais nos sites. Muitos de vocês devem ter lido a CNC da Pequena Sereia, que escrevi nas férias de julho. E nessa “Bella Notte”, o clássico na berlinda é A Dama e o Vagabundo, um dos filmes mais românticos do cinema e um dos meus animados preferidos da era clássica do estúdio. Espero que gostem do especial!

 

A Dama e o Vagabundo: O clássico adorado de Walt Disney, com canções encantadoras e muita diversão, agora brilhará em alta definição. Embarque em uma incrível aventura com os inesquecíveis personagens: Lady, a adorável e mimada cocker spaniel: Vagabundo, o vira-lata com um coração de ouro; Joca e Fiel, os melhores amigos de Lady; e Si e Am, os gatos mais mal-intencionados que já passaram pelas telas. O mais feliz dos finais acontece numa bella notte, quando Lady finalmente aprende o que é ser livre e solta.

Lançado em 1955, A Dama e o Vagabundo foi bastante inovador se comparado aos outros clássicos daquela década, todos baseados em clássicas histórias famosas, como Cinderela (1950), Alice no País das Maravilhas (1951) e Peter Pan (1953).  Essa “fuga” com certeza ajudou a ampliar o público do filme, chamando os casais para os cinemas. De fato, apesar de isso ser frequentemente ignorado, A Dama e o Vagabundo foi o maior sucesso do estúdio desde Branca de Neve e os Sete Anões (1937), o que foi muito importante na época para garantir a continuidade do estúdio, com Walt Disney fascinado com a construção da Disney World – Basta lembrar que apenas quatro anos depois, em 1959, o estúdio veio a lançar outro desenho, o clássico A Bela Adormecida. Desde então, “Dama” continua sendo um dos filmes mais populares do estúdio.

 

 

Agora finalmente, vou me adentrar um pouco mais nos 76 minutos de magia pelos quais se estende essa obra-prima. Ela não começa com um livro, como os grandes contos de fada da era clássica, e somos apresentados a um mundo muito mais real do que os desses filmes. Tudo começa com um casal comemorando o natal, sugerindo que os artistas se afastaram um pouco das madrastas cruéis, das fadas e princesas pra dar lugar a uma história mais “adulta”. Concordo com o animador Andreas Deja quando comparou A Dama e o Vagabundo a uma novela, com as idas e vindas do casal – a mocinha chega até a ser “presa”, e tem uma noite de amor com o protagonista no seu primeiro encontro. Também não é em todo filme da Disney que a mocinha deixa o herói porque ele é “um cachorro, é um tal, um malandro, sem emprego, sem patrão, que não tem domicílio”.

Realmente, talvez o casal-título desse animado seja o primeiro romance plenamente desenvolvido pelo estúdio. Os casais anteriores (Branca de Neve, Cinderela e seus respectivos príncipes “sem nome”) limitavam-se a cantar uma canção durante o seu primeiro encontro, enquanto os protagonistas em questão têm um primeiro encontro completamente “inocente”. Talvez seja o casal mais bem desenvolvido do estúdio, e acho que só voltaram a fazer uma dupla tão boa nos clássicos da renascença. Pessoalmente, acho o casal de “Dama” ainda mais interessante do que o de A Bela e a Fera. Talvez porque seja mais comum encontrar vagabundos do que feras por aí. De fato, “Dama” e “Bela” foram os dois únicos animados selecionados para a lista das 100 histórias mais românticas do cinema feita pelo “American Film Institute”.

 

 

O casal carismático só se encontra pra valer no segundo ato do filme, mas muito antes disso eles conquistam o público. Especialmente a cadelinha “Dama”, que é mostrada desde um filhote, mimada por Jim Querido e Querida. Apesar de ser completamente diferente da parceira, Vagabundo também conquista o público de cara e mostra que vem trazendo “novos ares” para o “casting” de heróis do estúdio.

Os coadjuvantes também ganham destaque no filme. Jim Querido e Querida destacam-se por serem um casal “real”, marido e mulher que não são da nobreza. Claro que é difícil encontrar casais tão perfeitos assim (pessoalmente, prefiro Anita e Roger de 101 Dálmatas e até mesmo o Sr. e Sra. Darling de Peter Pan). Joca e Fiel também são tão amáveis quanto os anões de Branca de Neve e os ratinhos de Cinderela, mas nenhum desses se sobressai tanto quanto a cadela Peg, de longe uma das melhores personagens do estúdio até então.  Eu poderia fazer um longo quote da sua música, mas não resisti e o fiz anteriormente quando estava me referindo ao Vagabundo. Com certeza ela surpreendeu bastante aqueles que estavam acostumados com fadas madrinhas como coadjuvantes.

 

 

Não escondo de ninguém que prefiro os vilões clássicos da Disney. Até hoje, o estúdio não voltou a fazer uma vilã à altura de Lady Tremaine (Cinderela), mas A Dama e o Vagabundo de certa forma dispensa uma vilã como essa, e apesar de Tia Sarah e os Gatos Si e Ão me darem nos nervos, o real vilão do filme é a diferença social  existente entre os personagens. Apesar disso, gosto muito da música dos gatos Si e Ão, apesar de ter sido arruinada com a nova dublagem (assim como muita coisa do filme foi).

Mesmo tendo uma única oportunidade de ver a dublagem original, não é difícil notar que a nova dublagem é “perfeita” e “plástica” demais para um filme beirando os 60 anos.  Já me deparei com pessoas que se incomodam com a aparente falta de qualidade das dublagens de “Peter Pan” e “Alice”, mas prefiro ouvir uma voz ou outra desafinada do que ver o filme perder suas características originais. Ouvir o Vagabundo chamar Dama de “princesa” e não de “broto” é terrível para 10 entre 10 fãs do filme. Felizmente (ou não), ainda é possível encontrar a dublagem antiga no Youtube.  Veja uma comparação entre as letras de “He’s a tramp” na dublagem atual e a original.

DUBLAGEM ORIGINAL

Que cachorro….
É um tal…
Um malandro…
Sem emprego…
Sem patrão…
Que não tem…
Domicílio…
Mas que mora aqui no meu coração…
Ele é mau…
Faz ciúme… E que faz tudo virar prazer…


REDUBLAGEM

Infiel…
Mais amado…
Destruindo corações…
Infiel…
Adorado…
É o cão que me desperta emoções…
Infiel…
Um malandro…
É volúvel, desleal..
Infiel…
Mas eu gosto…
É, eu também me dei bastante mal…


Falando nisso, outro ponto alto do filme é a sua trilha sonora. Apesar da canção principal ser “Bella Notte”, quando Dama e Vagabundo finalmente se apaixonam, a trilha é cheia de grandes momentos – Desde a nostálgica música natalina de abertura, passando pela engraçada música dos gatos Si e até a fantástica (e minha preferida) música da Peg. A trilha instrumental também é muito marcante, embora seja muito exagerada no primeiro ato do filme (em alguns momentos, parece o instrumental de um curta animado do Mickey ou Donald).

E não é só no “campo sonoro” que o filme se destaca. A Dama e o Vagabundo tem cenários e animação estonteante – O estúdio atingiu seu auge do refinamento na animação clássica em A Bela Adormecida, e claro que Dama é inferior se comparado nesse aspecto, nas não fica devendo nada às produções anteriores. Pelo contrário, o filme tem alguns dos melhores cenários criados pelo estúdio e o fato de ser em Widescreen só ajudou.  Talvez não seja o que pensem os animadores, que tiveram que “alargar” todos os cenários após Walt Disney decidir de “última hora” que o filme tinha que ser em widescreen. Eu particularmente prefiro assistí-lo assim, mas alguns puristas preferem a versão full, já que o filme foi originalmente concebido assim. De qualquer forma, a última versão em DVD nacional (2006) só trazia a versão wide, enquanto o americano disponibilizava a opção de ver em fullscreen.

 

 

Enfim, cada clássico tem sua maneira de se sobressair no conjunto da Disney, e A Dama e o Vagabundo consegue ser único entre os 50 clássicos. Não pelos seus cenários, como A Bela Adormecida, pela sua importância histórica, como A Pequena Sereia ou por ser épico, como O Rei Leão, mas pelos seus personagens únicos e história folhetinesca, esse filme é merecedor de muitos méritos e tem grande importância no legado da Disney.

 

 

Fique de olho para os próximos especiais dos “Clássicos na Crítica“!


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Escrito por Animaluco

Editor do Animatoons de 2008 a 2011; Autor convidado para especiais CNC do Disney Mania