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Clássicos na Crítica | Bernardo e Bianca

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Olá a todos! Informo-lhes que agora também estou tomando parte na já tão prestigiada série Clássicos na Crítica, iniciada pelo grande Felipe Andrade! Espero satisfazer a todos com os meus textos, e que gostem já dessa primeira análise! Obrigado!

Um pântano em trevas… Trovejadas e ruídos arrepiantes… A câmera se aproxima lentamente de um velho navio… De dentro dele sai uma garotinha assustada que lança uma simples garrafa ao vasto oceano… Mas não se engane, não é apenas uma garrafa… É um pedido de socorro

“Estou perdida e só no mar….

Quem é que vai me encontrar?….

Quem… vai… me… sal…var?…”


É dessa maneira que começa um dos mais encantadores Clássicos da Walt Disney Pictures, “Bernardo e Bianca” (“The Rescuers”), adaptação da obra de Margery Sharp e lançado originalmente em 1977. O filme gira em torno da dupla homônima de ratinhos que fazem parte da Sociedade de Resgate, uma empresa comandada por ratos do mundo inteiro cujo maior objetivo é ajudar a todos que estejam em apuros. No caso, os dois partem rumo à assustadora Baía do Diabo para ajudar uma pobre orfã de nome Penny que foi sequestrada por uma terrível e gananciosa megera, Madame Medusa e seu comparsa Asdrúbal, que precisam da garota por ela possuir o tamanho ideal para entrar na estreita caverna onde está escondido o maior diamante do mundo, o “Olho do Diabo”. Para esta missão, Bernardo e Bianca contarão com a ajuda de grandes amigos como o desengonçado albatroz Abílio e a veloz libélula Zigue Zague, e, naturalmente, irão enfrentar diversos perigos…

Não tive acesso à obra original de Margery Sharp (para ser franco só a conheço por causa do filme), portanto não posso dizer o quanto a Disney foi fiel à sua obra, mas no geral “Bernardo e Bianca” é um longa extremamente cativante, daqueles que te deixam leve de tanta beleza!… Me lembro de tê-lo assistido há muito tempo quando era apenas uma criança e portanto não me lembrava de quase nada dele, só o revi recentemente e para minha total satisfação gostei bastante do que vi! O filme faz parte de uma época onde a Disney não estava passando pelos seus melhores momentos (embora tenha sido um grande sucesso de bilheteria e público!), num tempo em que os antigos veteranos da casa estavam se aposentando e dando lugar a um time de novos talentos (cuja estreia máxima se daria mais tarde com o frio lançamento de “O Caldeirão Mágico”).

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A maioria dos filmes desta época não são tão populares entre o grande público (eu diria até meio “apagados”), o que não deixa de ser injusto devido a grande qualidade que muitos deles possuem, e “Bernardo e Bianca” é a maior prova disto! O longa não chega a ser tão ousado e complexo como outros Clássicos Disney, mas possui o mérito de ser bastante encantador e tocante o suficiente para entreter desde a mais nova das crianças até o maior dos marmanjos! Mesmo que não mantenha o mesmo ritmo em toda a sua duração, o filme possui uma trama muito bem construída e que de fato nos prende a atenção, daquelas em que somos conquistados pelas personagens e torcemos por elas nas cenas mais intensas…

Outro ponto a favor do longa é o equilíbrio entre doses certas de romance, humor, ação e suspense, típicos de um Clássico Disney e que sempre estão presentes nos momentos certos e nas maneiras mais apropriadas, com destaque às sequências de ação bastante frenéticas tais como a perseguição dos morcegos em direção a Zigue Zague ou quando Penny, Bernardo e Bianca precisam retirar o “Olho do Diabo”, preso dentro de uma caveira, depressa antes que a maré alta inunde o interior da caverna. O ritmo dessas cenas é deveras contagiante, daquelas que não deixam você desgrudar os olhos da tela… Só é uma pena que justo o clímax final acabe sendo meio fraco, pelo menos para mim que achei que poderiam ter feito algo melhor…

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Trailer de TV de “Bernardo e Bianca” (1977):

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Mas não é apenas de ação e suspense que vive “Bernardo e Bianca”… O filme também possui sequências lindíssimas, de comover qualquer brutamontes. Dentre as várias que existem destaco duas das quais mais apreciei: primeiro a abertura do longa que é simplesmente uma das melhores já criadas pela Disney! O clima de suspense no início seguido da jornada da garrafa em alto mar é de uma beleza sem par! O contexto da cena por si só já é muito comovente, pois se trata da última esperança de uma criança em apuros que de uma hora pra outra corre o risco de ser atingida por um navio ou perdida entre as ondas ferozes do oceano… E tudo isso numa belíssima e muito bem sincronizada sequência de pinturas em pastel (uma mais linda que a outra), entoada pela doce “The Journey”, cujo ritmo, ora mais suave ora mais intenso, consegue transmitir perfeitamente o ritmo da cena… O resultado disso tudo é algo suficiente para encher os olhos d’água…

O outro destaque fica para “Someone’s Waiting for You”, estrelada pela doce Penny, desolada por se achar nas garras de Medusa e achar que jamais será adotada e amada por uma família, embora nunca perca a esperança… Sendo a Penny já é algo extremamente tocante, mas somado aos belos cenários (se você reparar bem, perceberá que é possível ver Bambi e sua mãe próximos ao rio!) e à poesia presente nesta música, é praticamente impossível conter as lágrimas, tamanha é a piedade que toma conta de nós… De fato são esses momentos que para mim fazem de “Bernardo e Bianca” um filme tão especial, pois não é qualquer longa que consegue passar tanta magia e pureza em algo que aparentemente é tão simples como uma garrafa lançada ao mar…

“Coragem, menina…

Cada lágrima que derramar

Um desejo fará realizar,

Alguém vai lhe encontrar…

Não chore menina,

Há coisas boas que agora não vê,

Há alguém procurando você

Alguém vai lhe encontar…”


Falando em “The Journey” e “Someone’s Waiting for You”, a trilha sonora de “Bernardo e Bianca” também é belíssima! Talvez não seja tão memorável quanto as trilhas de outros Clássicos, mas as canções aqui presentes são verdadeiramente encantadoras! Na versão dublada em português, elas são entoadas por uma renomada cantora da época chamada Evinha, e ela possui uma voz tão doce, tão meiga como a de uma criança! Me apaixonei por essa voz que casa muito bem com o tom que cada música exige, e que foi um grande acerto da direção de dublagem! Os instrumentais também são bem elaborados (gosto muito do tema do Zigue Zague e da Penny), embora a trilha seja meio repetitiva, em uma hora ou outra trazendo o mesma tema de dantes…

O visual artístico do filme também é de primeira, embora eu confesse que seria ótimo se o longa seguisse o mesmo estilo de pinturas em pastel usado na abertura, mas de um modo geral os cenários são todos muito bem feitos, em especial as paisagens vistas em “Tomorrow is Another Day”, assim como os planos envolvendo o navio ou os pântanos da Baía do Diabo…

E não posso deixar de falar um pouco sobre algumas personagens, começando pela nossa dupla dinâmica, Bernardo e Bianca que formam um dos casais mais simpáticos que a Disney já apresentou! Os dois possuem uma química perfeita e o melhor é que fica claro o quanto um gosta do outro, mas em nenhum momento do filme eles dizem isso abertamente, tais sentimentos são percebidos apenas através dos olhares, gestos e expressões… Sendo que quando estão determinados a seguir até o fim o objetivo de sua missão, ninguém os segura! É hilária a implicância que Bernardo possui com o nº13; por ser o 13º voo ou pela escada possuir 13 degraus já é o suficiente para deixá-lo com a pulga atrás da orelha, o que não deixa de ser engraçado… E gosto muito do jeitinho independente e aventureiro (mas sem perder a pose) de Bianca! Adoro a cena em que Bernardo avisa que passaram o sinal vermelho e ela lhe responde “Oh! Eu faço isso na maior parte do tempo, querido!”, e sempre tão bem-educada, refinada… Uma perfeita dama!

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E Penny! A mais encantadora de todas as personagens mirins da Disney! É impossível não gostar dessa garota ou não se comover pelo fato de sempre se sentir tão triste por ainda não ter uma família, mas nunca perder a esperança! Na verdade me identifico bastante com ela… Por Penny às vezes se achar tão só e desamparada, mesmo tendo o urso Teddy sempre ao seu lado, em meio à uma situação horrível como a que ela se encontra, mas que na verdade não está sozinha no mundo… Mas ela também não deixa de ser corajosa e determinada e temos uma satisfação enorme quando vemos os seus sonhos sendo enfim, merecidamente,  realizados!

E é claro, a terrível Medusa! Medusa na verdade é bastante semelhante com outra grande vilã do estúdio, Cruela De Vil de “101 Dálmatas”, por ambas serem tão eufóricas, explosivas, gananciosas e completamente imprudentes no trânsito! Mas isso não a faz uma vilã menor, muito pelo contrário… O modo como não mede esforços para conseguir o “Olho do Diabo”, sempre usando os golpes mais baixos realmente é arrepiante, mas creio que o melhor lado de Medusa seja o cômico! É impossível não dar uma ou duas risadas com ela, seja tentando dar cabo de Bernardo e Bianca com uma espingarda, ou quando está dirigindo a sua engenhoca aquática nos pântanos! Sem falar das inúmeras caras e bocas (uma mais bizarra do que a outra) e, no caso da versão dublada, pelo ótimo desempenho vocal de Ida Gomes que foi outro grande acerto da dublagem nacional (na verdade, todas as vozes se encaixam como uma luva, tal qual eram as dublagens de antigamente…)! Enfim, uma vilã de grande estilo!

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Trailer de TV de “Bernardo e Bianca” (relançamento de 1989):

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As personagens secundárias não são tão envolventes quanto as de outros filmes, mas também possuem os seus bons momentos como o desengonçado albatroz Abílio e suas decolagens hilariantes (“E lá vamos nós!”), a veloz Zigue Zague que faz uso de hilários efeitos sonoros, Florisbela e Juca (sempre dou risadas com a sua pinga poderosa), estes com uma participação mais importante no clímax final, fora o paspalho Asdrúbal, que faz o típico capanga palerma que muitos vilões possuem consigo… Mas dentre todos, talvez os de maior importância na história sejam Rufus, o gato do orfanato que dá as primeiras pistas sobre o paradeiro de Penny, e os crocodilos de estimação de Medusa, Nero e Brutus (cujos nomes vem bem a calhar…), que protagonizam verdadeiras cenas de grande ação, como a perseguição no órgão do navio…

Enfim, “Bernardo e Bianca” possui um montão de pontos a seu favor. Mesmo não sendo um Clássico tão lembrado por todos e tão ousado como vários outros o são, é um filme belíssimo, comovente e empolgante, cujo maior mérito é a mensagem que nos traz, dizendo o quanto devemos sempre manter a esperança, pois, por mais sozinho que você possa, aparentemente, estar, não se preocupe, haverá sempre “alguém que estará esperando ou procurando por você”, e que um dia tudo há de se resolver, afinal de contas

“Sempre haverá a alegria

e amanhã é outro dia que vai raiar….

A luz do Sol há de brilhar,

E o amanhã iluminar…”

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Fique de olho para os próximos especiais dos “Clássicos na Crítica“!

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Escrito por Luís Fernando

"Tupi or not tupi! That is the question..."