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Clássicos na Crítica | Winnie the Pooh

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“Num bosque muito especial, o Christopher Robin vem brincar em um mundo sem igual, com seus amiguinhos também.”

“Winnie the Pooh (O Bosque dos Cem Acres)”

Com mais de cinquenta filmes produzidos, não é incomum alguns títulos do Walt Disney Animation Studios não receberem a devida atenção, como é o caso de Winnie the Pooh, tema da Clássicos na Crítica deste mês, em razão de seu quinto aniversário de lançamento nos cinemas, o qual ocorreu em Julho de 2011.

O carismático ursinho guloso foi criado pelo autor britânico Alan Alexander Milne, ou A.A. Milne para abreviar, inspirado em um urso de pelúcia de seu filho, Christopher Robin, o qual serviu de base para a criação do personagem de mesmo nome. A primeira aparição de Pooh ocorreu em um poema publicado em 1924, e dois anos depois, era lançada a sua primeira coletânea de histórias.

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Na década de 1960, Walt Disney adquiriu os direitos de adaptação para os cinemas, após perceber o quanto suas filhas se divertiam com os livros de Milne e como outras crianças também poderiam gostar dos personagens. E a previsão de Walt se concretizou e a turma do Bosque do Cem Acres se tornou uma das franquias mais famosas e queridas da empresa.

Após muitos anos longe do cinema, John Lasseter, diretor criativo do estúdio, julgou ser o momento propício para resgatar os personagens e realizar o sonho de Walt: um longa-metragem de Pooh e seus amigos. As Aventuras do Ursinho Pooh (1977) era apenas uma reunião de vários curtas dos personagens, e não possuía uma trama única.

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Desse modo, Don Hall (Operação Big Hero) e Stephen Anderson (A Família do Futuro) começaram a trabalhar em ideias para um filme. Assim, com base em três dos contos escritos por Milne, surgia Winnie the Pooh. No desenrolar da aventura, acompanhamos a incansável busca de Pooh por um pote de mel, a procura pela cauda de Ió, e a caçada pelo Voltogo, para recuperar Christopher Robin.

Em uma referência ao filme de 1977, o longa abre com uma cena do quarto de Christopher Robin, onde os personagens aparecem em suas versões de pelúcia, para então, mergulhamos no livro e vê-los ganhar vida, ao som da marcante “Winnie the Pooh (O Bosque do Cem Acres)“, composta pelos Irmãos Sherman e interpretada por Zooey Deschanel, em Inglês, e Fernanda Takai, em Português.

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“Um urso cuida bem da barriguinha, com coisas docinhas pra valer. Um urso cuida bem da barriguinha, sem nunca esquecer de comer.”

“Canção da Barriguinha”

Igual a um bom livro, temos um narrador nos guiando pela aventura. Esse papel, na versão original, coube a John Cleese (A Vida de Brian) e, na versão nacional, a Jorge Rebello (Shrek Para Sempre). O narrador é quem nos apresenta a um dorminhoco Pooh, e nos passa a sensação de termos o nosso avô nos lendo uma história para dormir.

Por se tratar de uma adaptação literária, a equipe toma a liberdade de brincar com isso. Além do abrir e fechar do livro, temos Pooh conversando com o narrador, diversas cenas imitando as ilustrações dos livros de Milne e, claro, os personagens brincando com as letras e parágrafos. O resultado é um livro vivo, interativo e muito divertido.

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Depois de sua introdução, Pooh faz o que sabe de melhor: sentir fome. Ao constatar a falta de mel e cantar “Canção da Barriguinha“, o ursinho vai atrás de seus amigos para eles cuidarem de sua barriguinha. No caminho, ele ouve os suspiros deprimidos de Ió e passa em sua cabana para cumprimentá-lo e verificar se ele tem algum mel para lhe dar.

Então, Pooh perceber a ausência de algo no burrinho: sua cauda sumiu. Corujão, escrevendo a sua autobiografia, passa pelo local e os dois pedem a sua ajuda, pois o pássaro é excelente em falar e mandá-los realizar tarefas. Logo, Corujão sugere aos dois chamarem Christopher Robin e anunciarem uma recompensa para quem encontrar o rabo desaparecido de Ió.

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Uma Coisa Muito Importante Pra Fazer“, a próxima canção, mostra Pooh espalhando avisos para a reunião. Cumprida a missão, o urso descobre um balão vermelho, o qual é atacado por Tigrão, em uma homenagem à cena clássica na qual Pooh conhece Tigrão no longa de 1977. Dessa vez, porém, o ursinho foi substituído pelo balão.

Todos se reúnem e Christopher Robin dá início a uma competição para acharem uma cauda substituta, cujo prêmio será um pote de mel, muito desejado por Pooh, claro. Várias opções são testadas e consideradas, desde uma pinha a um relógio cuco, sendo o vencedor um cachecol de lã feito por Dona Can, a qual não tem interesse em mais uma repetição de “Canção do Vencedor.”

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“Seu couro é um áspero cobertor. Seu rosto é amedrontador. Dois chifres pontudos na cabeça ele tem e um tufo de cabelo vermelho também.”

Corujão (“O Voltogo”)

Sem o pote de mel, Pooh continua sua jornada e se depara com Ió sentado no próximo parágrafo e com sua cauda desfeita. Ao sair, o burrinho acaba levando o texto por acidente e fazendo o ursinho cair na casa da árvore de Christopher Robin, para quem decide pedir um pouquinho de mel. Mas em vez do garoto, Pooh encontra um bilhete e vai atrás do Corujão para lê-lo.

Lá, o Corujão está recebendo o invejado pote de mel, por sugerir um quadro negro como o rabo de Ió. Corujão lê a mensagem e revela que Christopher Robin foi raptado por uma criatura chamada Voltogo. Em “O Voltogo“, os personagens descrevem as características do monstro e suas principais malcriações, e Coelho pensa em um plano para capturá-lo: fazer uma trilha com seus objetos preferidos e cavar um buraco ao final da mesma.

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O roteiro até o momento tratou tudo de modo episódico. Isto é, uma trama levava à outra sem uma grande coesão entre as mesmas. Mas quando a busca pelo Voltogo começa, todas se unem e vão sendo desenvolvidas em conjunto, sempre com alguma em destaque. E devido à curta duração do filme, apenas sessenta e três minutos, a equipe não perde tempo com ideias desnecessárias, a fim de torná-lo maior.

Voltando… A turma do Bosque dos Cem Acres coloca o plano de Abel em ação, com exceção de Tigrão, o qual pretende capturar sozinho a criatura, e Ió, o qual fora deixado para trás por ser lento demais. Comovido, Tigrão tenta transformá-lo em outro tigre – e isso nos rende a divertida sequência de “Vai Ser Demais“, com Ió pulando por todos os lados a contragosto.

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Leitão e Pooh continuam com os preparativos, mas a fome do ursinho fala mais alto. Depois de serem perseguidos por um enxame de abelhas, Pooh começa a delirar com tudo ao seu redor se transformando em seu lanche querido. “Mel Por Todo Lado” pode ser considerada a única música a não avançar o filme, porém, a imaginação de Pooh e a letra são tão adoráveis a ponto de sequer se tornar um defeito.

Movido por seu insaciável desejo, Pooh cai na armadilha para o Voltogo. Ao tentarem tirá-lo de lá com a nova cauda de Ió, uma âncora, todos são arrastados para o buraco. E Leitão é o único capaz de salvá-los – uma ironia ressaltada pelo roteiro, porque o Corujão poderia simplesmente voar e resgatá-los – e assim parte atrás da corda de pular de Christopher Robin.

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“Vou te consertar. Quando eu resolver, vou ser Tigre Um. Tigres Dois, você.”

Tigrão (“Vai Ser Demais”)

Pelo caminho, Leitão encontra com o Tigrão fantasiado da misteriosa criatura e o desespero de ambos os leva a cair no buraco com algumas dúzias de letras. Apesar de seu pouco cérebro, Pooh avista um pote – sem mel – fora do buraco e cria uma escada com as letras, permitindo todos saírem da armadilha e, para a surpresa de todos, encontrarem Christopher Robin.

O menino explica ter sido um mal-entendido, e que não havia sido sequestrado por uma criatura responsável por tudo de ruim no mundo. Seu bilhete, na verdade, dizia que ele voltaria logo. Tanto o roteiro quanto os cenários estão cheios de piadas com a forma como as palavras são escritas e sua sonoridade, a exemplo de “ex ibit a” e “dont nock, plez r’ng”, em vez de “exhibit a” (“prova a”) e “don’t knock, please ring” (“não bata, toque o sino”).

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Há também a piada do “I cannot knot” duante a cena do poço. Infelizmente, tais piadas e brincadeiras acabam se perdendo na tradução, embora a versão nacional seja extremamente competente e tenha encontrado boas alternativas para driblar essas dificuldades nos diálogos e nas canções, sem causar grandes prejuízos.

Finalizando a história, Pooh acaba voltando ao lar de Corujão, onde descobre o paradeiro do rabo perdido de Ió. Corujão o encontrou em um cardo e o transformou na corda do seu sino. Mesmo com tanta fome, Pooh prioriza a sua amizade com Ió e, no lugar de comer um pote de mel, foi devolver o objeto ao amigo, sendo  recompensando, depois, com um gigantesco pote de mel.

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A mensagem de Winnie the Pooh é bem evidente, afinal se trata de uma animação realmente voltada para crianças menores. Quando colocamos as prioridades de nossos amigos acima das nossas, fazemos uma coisa muito importante e a vida encontrará alguma forma de nos recompensar por nossa atitude altruísta. Ou seja, ajudar os outros é ajudar a nós mesmos.

Winnie the Pooh está longe de ser um dos clássicos mais populares do Walt Disney Animation Studios, entretanto, representa um dos mais acolhedores e nostálgicos. A ingenuidade dos personagens, as músicas cativantes e os cenários belíssimos, os quais parecem ter sido retirados diretamente de um livro infantil, nos fazem ter aquela sensação de voltarmos a ser criança.

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“Mel por todo o lado. Mel que não tem fim. Mel por todo lado. E isso é muito bom pra mim.”

Pooh (“Mel Por Todo Lado”)

O longa-metragem é uma quebra do estilo atual do estúdio, no qual há uma enorme seriedade nos roteiros e uma preocupação constante em construir uma trama mirabolante e com reviravoltas. Aqui, há apenas a necessidade de divertir o público e entreter com uma boa história, tal qual os filmes produzidos por Walt Disney nos primeiros anos do estúdio. É algo tão simples e tão agradável, para o qual, infelizmente,  não há mais espaço na indústria de animação em Hollywood.

Faz-se necessário comentarmos também a sua técnica. Até o momento, o clássico é o último produzido em animação tradicional. Com uma qualidade impecável, a produção reuniu grandes animadores, incluindo Eric Goldberg (Coelho e Voltogo), conhecido por animar o Gênio; Mark Henn (Pooh e Christopher Robin), responsável por dar vida à Bela; e Andreas Deja (Tigrão), animador do Scar.

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Golberg, aliás, merece elogios por seu trabalho com o Voltogo. A cena de sua apresentação, imitando desenhos feitos de giz, faz parecer uma criação do Corujão, e não uma obra humana. E quando o personagem aparece finalmente em tela – na cena pós-créditos – mantém aquela estética de ter sido desenhado por alguém sem qualquer talento ou mesmo o desenho de uma criança pequena.

A primeira parte dos créditos nos faz pensar ter sido tudo uma mera brincadeira infantil. As fotos recriam com perfeição diversas cenas, usando recursos encontrados em qualquer casa e utilizados por qualquer criança, a exemplo de um cobertor e algumas almofadas se transformando em um poço. Isso também serve para explicar a simplicidade do roteiro, como se tudo tivesse sido fruto da imaginação de Christopher Robin.

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Outro trabalho digno de elogios é a trilha sonora. Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopes (Frozen: Uma Aventura Congelante) compuseram ótimas canções, as letras são envolventes e permanecem na memória. Escolher Zooey Deschanel para interpretar algumas das músicas foi um grande acerto, pois existe um charme e doce na voz da atriz/cantora.

Já a escolha de Fernanda Takai também foi outro ponto positivo. As vozes das duas são distintas, mas Takai conseguiu replicar o encanto da versão original com perfeição. Por fim, Henry Jackman (Detona RalphOperação Big Hero) também realizou um trabalho marcante e as faixas instrumentais são facilmente reconhecidas e a reutilização dos temas dos personagens no decorrer do filme cria uma sensação de familiaridade.

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“It’s not complicated or very hard to grasp, but every time I see you I laugh.”

“So Long”

De fato, não há nada de novo debaixo do sol no longa-metragem. Os elementos de As Aventuras do Ursinho Pooh foram muito bem reutilizados. O humor, o visual, a simplicidade, o charme. Tudo permanece como era, no entanto, ao mesmo tempo, é algo diferente. Um mesmo grupo de personagens apresentado para uma nova geração, sem perder quaisquer de suas já conhecidas e adoradas qualidades.

Winnie the Pooh é a definição de conforto. É o tipo de filme que buscamos quando precisamos esvaziar nossas mentes e esquecer dos problemas do cotidiano. É uma hora de alegria, sorrisos e risadas. É uma hora de puro entretenimento e pura imaginação. E seria necessário um coração muito gélido para não conseguir apreciar a magia do filme e se deixar envolver com as peripécias do ursinho.

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Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".