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A Outra Ponta do Lápis | Kathy Zielinski

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Na última edição de A Outra Ponta do Lápis, vimos um pouquinho sobre James Baxter, animador responsável por dar vida a um dos protagonistas mais humanos e difíceis de se animar de todo o Universo Disney, Quasímodo.

Dessa vez, iremos ver o outro lado da moeda. Conheceremos um pouquinho a jornada da animadora de um dos maiores monstros que os estúdios já criaram, o juiz Claude Frollo. Esse mês falaremos sobre Kathy Zielinski.

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Kathy é a segunda mulher a receber os créditos como animadora em um filme Disney – Ellen Woodbury foi a primeira. E por que saber que ela foi uma das primeiras mulheres animadoras é importante?

Bem, além da animação ser uma área dominada por homens, os personagens animados por Kathy fogem de tudo o que tradicionalmente – e erroneamente – ligamos ao feminino, quebrando vários esteriótipos. Ela não animou belas princesas com vestidos esvoaçantes ou animais fofos que cantam enquanto limpam a casa. Não. A animadora é responsável por animar vilões terríveis e de modo assustador.

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Vamos voltar um pouco no tempo, quando tudo começou. Nascida e criada na Califórnia, Kathy cresceu com as animações Disney e tinha um carinho especial por Peter Pan (1953). Ela sempre adorou desenhar e passava muito tempo reproduzindo personagens Disney. Apesar dessa paixão, ela não pretendia seguir a carreira de artista.

Quando chegou ao último ano do Ensino Médio, enquanto ainda queria ser médica, um professor de artes ofereceu aulas de animação nas quais ela se inscreveu. Através desse tutor, ela descobriu a Cal Arts – faculdade já bastante conhecida por vocês, pois tantos animadores estudaram lá – e começou a planejar seu futuro.

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O primeiro portfólio que mandou foi rejeitado, mas não completamente. Eles a incentivaram a treinar mais o desenho gestual e ela assim o fez. Após praticar sem parar por quatro semana, ela reenviou seu trabalho e foi aceita, em 1979. Enquanto ainda cursava a faculdade, seus trabalhos foram mostrados para executivos dos estúdios Disney.

E, assim, começou com o pé direito em sua carreira, pois seu primeiro emprego foi trabalhar para o Walt Disney Studios, aos vinte e dois anos. Sua primeira missão foi bem simples: animar o efeito de pó de pirlimpimpim para o parque EPCOT, que ainda não havia sido inaugurado. Em seguida trabalhou em O Conto de Natal do Mickey (1983) e em O Caldeirão Mágico (1985), nos quais animou pequenas cenas e intervalou outras.

Poor Unfortunate Souls

https://youtu.be/xfkkMHieqcI

Ela também trabalhou em As Peripécias do Ratinho Detetive (1986) e em Oliver & Sua Turma (1988), mas seu primeiro destaque veio em A Pequena Sereia (1989), quando animou algumas cenas da vilã Úrsula. E não foram cenas discretas, não. Ela animou cenas famosas da bruxa do mar, como quando ela se transforma de Vanessa em Úrsula e quando canta “Poor Unfortunate Souls“. Dê uma olhadinha no vídeo acima.

Durante a produção de A Bela e a Fera (1991), Kathy quase animou Le Fou. Ela saiu dos estúdios para trabalhar em um filme independente e retornou anos depois para animar Jafar em Aladdin (1992). Ué, Jafar? Mas e o Andreas Deja? Sim, Andreas animou a maioria das cenas de Jafar e criou o design do personagem.

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A animadora, porém, foi responsável por cenas como a de Jafar disfarçado de mendigo na qual engana Aladdin; e a sequência final na qual o vilão se transforma em uma imensa cobra e luta com nosso herói. Uma curiosidade para vocês: Kathy estava grávida de nove meses enquanto animava a cena de Jafar como cobra. Em um de seus comuns dias de trabalho animando a cena final, sua bolsa estourou. Isso tornou a época muito marcante para a animadora.

Como se animar algumas cenas de grandes vilões não fosse o suficiente, Zielinski foi escalada como supervisora de Frollo, em O Corcunda de Notre Dame (1996). Esse é, de longe, o melhor trabalho de Kathy. O juiz é um personagem repulsivo, cujo design é cheio de detalhes custosos de se animar. Um dos elementos mais difíceis foi o chapéu triangular do personagem. Reparem como a peça some ao longo do filme.

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As expressões que nos aterrorizam são tão sutis que transmitem um realismo assombroso. Uma das cenas que demonstram esse terror, animada por Zielinski, é o momento no qual Frollo cheira os cabelos de Esmeralda na igreja. Simplesmente revoltante. Quanto mais velhos ficamos, mais o personagem se mostra um dos piores vilões já criados.

E Kathy o anima maravilhosamente bem. Um dos pontos mais altos do filme é a cena na qual Frollo canta o solo “Hellfire“, cena essa que foi quase que totalmente animada pela animadora. A sequência é de arrepiar e quase foi motivo para a animação não receber classificação livre. Relembre no vídeo a seguir.

Hellfire

Infelizmente, como tantos outros animadores da casa, ela deixou os estúdios e começou a animar na DreamWorks, onde trabalhou em inúmeros filmes famosos como O Caminho para El Dorado (2000), Sinbad – A Lenda dos Sete Mares (2003), Kung Fu Panda (2008), e Como Treinar seu Dragão (2010). Atualmente, ela voltou a animar tradicionalmente e trabalha na série Os Simpsons (1989-hoje), da FOX.

A animadora se adaptou bem durante a transição da animação tradicional para o uso de computadores, como pode ser visto em seus trabalhos recentes. Ela até mesmo acha a computação gráfica uma vantagem, pois tem a chance de trabalhar com vários personagens ao invés de apenas um.

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Porém, o lado ruim, de acordo com ela, é o fato do método não permitir uma ligação maior com os personagens. Antigamente, os artistas passavam horas bolando os trejeitos e movimentos de um personagem, de modo que se sentiam ligados a eles de uma maneira única.

Seu filme animado favorito também pertence à época da animação tradicional: O Gigante de Ferro (1999), do diretor Brad Bird (Os Incríveis). Mesmo trabalhando há décadas na indústria da animação, ela diz que as cenas finais da animação ainda a fazem chorar. E quem não chora quando o gigante diz “Superman”?

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Escrito por Caroline

Designer Gráfico, Disney freak, viciada em café, quer ser roteirista e princesa quando crescer. Têm mais livros do que deveria e leu mais vezes “Orgulho e Preconceito” do que têm coragem de admitir.