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HISTÓRIAS CRUZADAS: Entrevista com Viola Davis

 

Após sua vitória no SAG Awards, o prêmio do sindicato dos atores, por sua interpretação em “Histórias Cruzadas”, Viola Davis se tornou uma das favoritas do 84º Oscar. A coadjuvante – e poderá ser vista assim em “Tão Forte e Tão Perto”, de Stephen Daldry, a partir do dia 24 de Fevereiro – impõe-se como protagonista. Viola minimiza a disputa, mas admite: atores são vulneráveis, carentes. E adoram, sem exceção, o reconhecimento.

Como é estar na condição de favorita para o Oscar?

Esse favoritismo é muito precário e pode mudar até o dia 26 (data da entrega do prêmio). Há muitos casos de favoritos, em todas as categorias, que não levaram a estatueta. Tento me manter equilibrada, até porque há muitos grandes talentos que também estão na disputa.

Estamos falando de Meryl Streep?

Meryl é fantástica. Estivemos juntas num filme – A Dúvida – e só o que posso dizer é que sua carreira é uma das mais extraordinárias do cinema

 

 

Na festa do SAG, você dedicou seu prêmio a Cicely Tyson. Por quê?

Porque Cicely foi uma inspiração para todas nós, atrizes afrodescendentes. Sua grande arte, humanidade e decência traçaram um caminho para todas nós. E Sounder (Lágrimas de Esperança) é fundamental na reconstrução da luta dos negros por direitos civis neste país (os EUA).

Justamente, a luta por direitos civis. Nem o livro de Kathryn Stockett, “A Resposta”, nem o filme de Tate Taylor põem ênfase na luta. O tema é muito mais a solidariedade entre mulheres, sejam brancas ou negras. Concorda?

Era o que havia de interessante no projeto. Muitos filmes antes do nosso denunciaram as condições dolorosas em que viviam os afro-americanos. Não faria muito sentido insistir nessa conversa quando um de nós está à frente da Casa Branca. Kathryn e Tate retomaram o viés dos sentimentos, a cumplicidade entre a cozinha e a sala de estar naquelas mansões do Deep South, as amas de leite, as mucamas. Todas nós (afro-americanas) temos essas histórias em nossas famílias. Histórias de injustiças, perseguições, mas também de união, de solidariedade.

 

 

Há uns 20 anos houve um filme chamado “Uma História Americana”, com Sissy Spacek e Whoopi Goldberg. A patroa branca se solidarizava com a doméstica na grande marcha. Sissy está no seu filme…

E ela é outra lenda. Sissy nunca foi uma estrela, mas uma verdadeira atriz. E é uma dama, generosa, sensível. Creio que um dos aspectos mais notáveis de “Histórias Cruzadas”, e isso passa para o espectador, foi que Tate conseguiu reunir um elenco notável. Em Greenwood, Mississippi, onde filmamos, a produção alugou casas, não ficamos em hotéis. E a gente se visitava, comíamos nas casas uns dos outros. Era como se realmente fizéssemos parte daquela comunidade. Havia um entendimento que ultrapassava os filmes e os personagens. Éramos um grupo querendo que nosso esforço desse certo.

E deu, pois o filme ganhou o prêmio de interpretação coletiva do SAG, não?

Mais que os prêmios individuais, o reconhecimento coletivo é que faz a força de “Histórias Cruzadas”. Tenho anos de estrada, mas participar desse projeto coletivo me deu outra percepção do cinema, da vida.

 

 

E o que você aprendeu?

Conversávamos muito sobre as mudanças da época retratada no filme para hoje. O mundo mudou, ainda existe muita exclusão, mesmo nos EUA, mas há mais informação, mais solidariedade. Podemos sonhar um futuro melhor para nossos filhos. Era um tema recorrente das conversas. Sob circunstâncias tão difíceis, com que sonhavam nossos pais? Éramos o sonho deles. Quando jovem, eu não conseguia ver isso e me rebelava. A maturidade vem com o tempo. Isso me dá serenidade… Independentemente de ganhar ou não, sinto que os ancestrais estão orgulhosos de mim. E quero seguir contando as histórias da minha gente. São universais.

Histórias Cruzadas” ainda se encontra em cartaz em alguns dos cinemas nacionais.

Histórias Cruzadas se passa no ano de 1962 e gira em torno da recém-formada em jornalismo, Eugenia “Skeeter” Phelan (interpretada pela atriz Emma Stone), que enfim retorna à sua pequena cidade-natal no estado do Mississippi. Ela sonha em se tornar uma grande escritora, mas enfrenta a resistência de sua mãe que deseja vê-la casada, com filhos, casa para cuidar e tal…

Persistente em seus objetivos, Skeeter decide escrever um livro constituído por relatos das domésticas negras que sempre cuidaram das famílias brancas do Sul, mas que, ao mesmo tempo, passam despercebidas pelo olhar desses mesmos lares que tanto precisam delas. Em suas pesquisas, a jovem conhece Aibileen (Viola Davis), governanta que já cuidou de 17 crianças brancas mas que nunca superou a morte de seu próprio filho, e Minny(Octavia Spencer), cozinheira que é constantemente despedida das casas onde trabalha por não aceitar qualquer tipo de desaforo.

O longa ainda conta em seu elenco com Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain, Mike Vogel, Allison JanneySissy Spacek e é dirigido pelo ator e diretor Tate Taylor (o mesmo de “Pretty Ugly People”), que também é responsável pelo roteiro. A produção do filme fica por conta do grande Chris Columbus.

Extraído e adaptado do Jornal Estado de São Paulo.

Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".