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Zootopia | Análise de Fã para Fã

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Havia uma certa dúvida quanto ao sucesso e à qualidade de Zootopia. O material de divulgação, quando observado superficialmente, mostrava se tratar de apenas uma comédia policial sem quaisquer objetivos maiores. Como o próprio longa-metragem nos ensina, as aparências enganam. E nesse caso, até mesmo os mais otimistas saíram surpreendidos do cinema.

Muitas razões podem ser consideradas para a explicação de seu sucesso. Porém, nenhuma outra se sobressai tanto quanto o roteiro. Em questões de minutos, entendemos o processo de evolução dos animais; a importância de Zootopia; e qual o sonho de Judy Hopps: se tornar uma policial. Tudo feito por meio de uma simples e divertida peça infantil.

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Judy é a uma coelha. Apesar da evolução social, sua espécie continua a ser vista como inferior e seu sonho é motivo de zombaria por outros animais e de preocupação para sua família, pois coelhos estão predestinados a serem plantadores de cenoura. Já no começo, vemos uma menagem recorrente de Walt Disney Animation Studios, a necessidade de seguir em frente.

Seria muito fácil para Judy desistir e aceitar seu destino. Por sorte, ela não se deixa abater. E contra a desmotivação de seus pais e de sua treinadora, Judy consegue alcançar o seu propósito. Mas, como tudo na vida, a batalha está apenas começando e a coelhinha ainda precisa provar o seu valor dentro do departamento policial e em meio a colegas de trabalho muito maiores.

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Através de sua protagonista, Zootopia nos apresenta a um mundo cheio de desigualdade, preconceitos e divisões, tal qual o nosso próprio. E essa abordagem permite diferentes interpretações, seja quanto racismo, homossexualidade ou alguma minoria. No entanto, a lição de moral principal da jornada de Judy é tão clara quanto a luz do dia: nós podemos fazer a diferença.

Claro, essas mudanças não irão acontecer do dia para noite, tampouco em uma grande escala. Foram necessárias mais de quarenta e oito horas para Judy convencer Nick Wilde a deixar de lado o estereótipo do raposo malandro. Da mesma forma, Judy levou um tempo para descobrir e superar seus próprios medos e preconceitos, especialmente em relação a Nick Wilde.

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Zootopia trabalha essa percepção de forma coerente conforme a trama de investigação se desenrola. E o grande trunfo da animação reside em seu perfeccionismo. Peças do quebra-cabeça estão espelhadas por várias cenas, como um mero bilhete, e o espectador se torna também um detetive na busca pela solução do desaparecimento de vários predadores.

Tal perfeccionismo fica evidente nos detalhes, tanto do roteiro quanto da parte técnica. Há cartazes com piadas; referências a outros clássicos do estúdio; a simetria dos cenários para os diferentes tipos e tamanhos de animais. É um trabalho incrível e digno de louvor. Já o roteiro é bem-costurado e fatos simples se provam essenciais para a resolução do mistério.

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Outro ponto a favor da produção é o antagonista. Desde Detona Ralph (2012), o estúdio tem mantido segredo a respeito de seus vilões para revelá-los em uma reviravolta. Aqui, essa surpresa faz todo sentido devido ao gênero da história. E com tantos personagens, vários acabam se tornando suspeitos do crime.

Duke Doninha. Prefeito Leãonardo. Chefe Bogo. Senhor Big. São inúmeras possibilidades. A resposta, porém, não é nada óbvia. Brincando com o ditado de lobo em pele de ovelha, Bellwether é a responsável pelos sumiços. A vice-prefeita é o contraponto perfeito à Judy. Ambas são presas fáceis e sempre foram subestimadas por todos ao redor. A diferença entre elas está em suas escolhas.

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Replicando a mesma ideia de Operação Big Hero (2014), o longa-metragem apresenta os dois lados de uma mesma moeda. Judy é o exemplo de perseverança, de não dar ouvido ao pessimismo alheio e às críticas negativas. A coelha busca fazer o seu melhor e não deixar a visão dos outros sobre ela ficar em seu caminho, enquanto a ovelha decide mudar o seu futuro através do extremismo.

Nick também tem uma história semelhante. Após um trauma durante a infância, no qual recebeu uma focinheira de um grupo de escoteiro herbívoros, o raposo decidiu abraçar a percepção do mundo a seu respeito e, inclusive, chegar a colaborar com a mesma aplicando incontáveis golpes. O encontro de Judy e Nick se mostra crucial para ambos crescerem e melhorarem como animais.

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Isso é outro ponto favorável da produção. Em vez de termos o romance ou valores familiares como o foco, a exemplo da maioria absoluta dos clássicos, vemos uma quebra de padrões por parte do estúdio e temos a amizade como o destaque. Embora sejam inimigos naturais, Nick e Judy se tornam ótimos amigos, em uma espécie de homenagem a O Cão e a Raposa (1981).

Usando desses padrões e abusando de estereótipos e arquétipos, e nisso se inclui os leões serem os líderes dos animais, Zootopia constrói e solidifica sua mensagem. A polarização de presas e predadores causada pelas atitudes de Judy e Bellwether não é tão distante do cenário atual, ainda mais quando o assunto em debate é política.

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Lá, em Zootopia, a justificativa é biológica e realmente há diferentes espécies. Aqui, no mundo real, os humanos são de uma única espécie. A cidade fictícia, no entanto, é uma utopia, um local para se realizar sonhos, mas assim como do lado de cá, medos e preconceitos se tornam justificativas para medidas desnecessárias e cada vez mais injustas.

Vivemos, infelizmente, em um mundo tão segregado e dividido quanto Judy e Nick. E se existe uma mensagem a ser aprendida, é a importância de não ficarmos parados e lutarmos para reverter tais situações de desigualdades. E como diz Gazella em sua canção-chiclete: “I won’t give up, no I won’t give in till I reach the end and then I’ll start again.

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Em uma embalagem fofinha e colorida, o Walt Disney Animation Studios entrega uma obra extremamente relevante para o presente contexto e merecedora de ser assistida por todos, independente de serem crianças, adultos ou idosos, pois certamente poderão aprender uma coisa ou duas com essa aventura animal.

Com tantos acertos, Zootopia se mostra uma das melhores animações da última década e representa mais um degrau na escada para um novo renascimento do estúdio. Lamentavelmente, animações ainda são vistas com certo desdenho, e não veremos essa mensagem impactante atingir um grupo tão grande quanto merecia.

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Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".