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P. L. Travers, a criadora de Mary Poppins

Neste segundo especial, conheça P. L. Travers, a mente por trás da criação de Mary Poppins, e descubra um pouco mais sobre sua personalidade e suas estranhas exigências.

 

Não é novidade dizer que trabalhar com uma produção de Hollywood é um grande sonho para milhões de pessoas no mundo inteiro. Escritores, roteiristas, figurinistas, maquiadores, estilistas, atores, diretores, assistentes, produtores. Quem não gostaria de trabalhar em Hollywood? Em 1961, P.L. Travers, a talentosa criadora de Mary Poppins, tinha uma opinião diferente da maioria.

Essa foi a primeira informação que Emma Thompson, a britânica duas vezes ganhadora do Oscar® de melhor atriz, recebeu quando começou a conhecer a personagem que interpretaria em “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”. Desde de o início da preparação para o papel de Pamela Lyndon Travers – o verdadeiro nome da autora – a atriz percebeu que estava diante de um dos maiores desafios da sua carreira.

Foi maravilhoso estudar sua história, precisei olhar de muitos ângulos. Ela era muito complexa. É uma das biografias mais complicadas que eu já li,” explica. “Nunca interpretei nenhum personagem com tantas contradições, e o que a faz ser fascinante é que está em constante mudança. Sua infância teve uma interferência radical na sua capacidade de se relacionar com as pessoas, principalmente com homens. Seu pai era uma pessoa emocionalmente instável e alguém difícil de confiar e, para ela, o amor sempre foi uma questão delicada. Havia algo que estava partido, e ela sentia um vazio e uma tristeza no peito,” completa.

A atriz, que nasceu no bairro de Paddington, na região oeste de Londres, não guarda segredos sobre a escritora e conta que Travers não se convenceu fácil de que estava fazendo a coisa certa.

 

 

Ela não queria estar em Los Angeles, não gostava de Walt Disney e, para piorar, achou o roteiro do filme detestável. Travers também não gostou nada dos irmãos Sherman, os compositores das músicas de “Mary Poppins”, e parecia detestar tudo o que via.

Estava lidando com os seus próprios conflitos, que eram profundos e complexos. Sua relação com Mary Poppins era, de certa forma, a mesma que Walt tinha com Mickey Mouse. Era como se Mary Poppins tivesse curado as feridas da sua infância da mesma forma que o Mickey Mouse salvou Walt.

Dessa forma, P.L. Travers não poderia abrir mão da personagem tão facilmente. Ela sentia que eles estavam pegando parte da sua alma e transformando em algo que ela não era e, psicologicamente, tinha muita dificuldade de lidar com isso.

 

 

Da mesma forma, Thompson ressalta outra faceta inimaginável da escritora australiana: ela era “um pouco esnobe e intelectual”. E completou “acho que não há dúvidas sobre isso, e ela certamente foi uma mulher muito autêntica, talentosa e inteligente. Era diferente, pois se relacionava com grandes intelectuais numa época em que não era nada fácil para as mulheres entrarem nesses círculos.”

Outro detalhe importante é que, ao construir um relacionamento, Travers recorria aos seus modos tipicamente ingleses e, segundo Thompson, “talvez, para ela, tenha sido mais fácil resistir aos encantos de Walt. Dificilmente alguém o consideraria um intelectual.”

Concordando com Thompson, um dos produtores comenta: “Pamela era uma mulher durona e Emma consegue demonstrar bem isso, mas ela também incorpora um calor e uma pitada de vulnerabilidade à personagem que te faz ter vontade de dar um abraço nela. E esse é o talento de uma grande atriz, quando ela te faz sentir empatia por uma personagem durona, velha e antipática. Emma foi a escolha perfeita, sem dúvidas.”

 

 

Para justificar o caráter de Travers, a atriz resume em uma frase a resposta dada às perguntas que Walt e sua equipe faziam ao afirmar que “são artistas”, e conta com a sua memória para comentar que “o relevante é a relação do artista com a sua infância. Muitos autores infantis tiveram infâncias terríveis. O que eu gostei da história é que ela se aprofunda na questão de que o sofrimento vivenciado por uma criança determina o que ela vai escrever, fazer, o que vai produzir na vida, como um artista.”

Emma Thompson conta que, muitas vezes, depois de escutar horas de conversas entre Walt, Travers e os roteiristas – os arquivos da Disney contam com horas e horas de gravações – era impossível não ficar irritada com ela. “Mas as gravações também dão muitas pistas sobre o que realmente estava acontecendo,” comenta a atriz.

 

 

No geral, as gravações têm informações, mas existe certa hesitação nas fitas que as torna difíceis de serem ouvidas, porque Traves oscila entre o que ela diz e o que não quer deixar escapar. Ela demonstra muita negação, parece estar intimidada. Ninguém podia dizer nada. Don DaGradi, o roteirista, e os irmãos Sherman tiveram que passar semanas trancados em uma sala com ela sem poder dizer nada, porque ela tinha que ser tratada de uma forma muito especial. Da mesma forma que, para eles foi um pesadelo passar por isso, é um pesadelo ter que ouvir essas fitas, mas elas foram muito, muito úteis.

Tom Hanks, que interpreta Walt, se surpreendeu com o trabalho de Thompson. “Toda vez que vejo Emma, eu me pergunto: como ela faz isso? Como ela consegue se parecer tanto com a Travers? Nesses papéis, sempre havia algo entre nós. O tempo todo, Pamela guardou um segredo que Disney só conseguiu descobrir no final,” comenta Hanks. “Há uma cena em que Walt diz para ela: ‘Você pode me dizer, por favor, que isso não é uma boa experiência para você?’ A emoção que Emma mostra ao interpretar uma mulher que está prestes a explodir e revelar algo que ela não pode expressar, mostra o talento de uma atriz que está sempre testando os limites do seu desempenho. Ela está longe de ser essa senhora inglesa que vive em sua mansão em Londres mas, ao mesmo tempo, está muito conectada com essa essência inglesa que a acompanha.”

 

Travers e a cor Vermelha

 

A personagem P.L. Travers não usa a cor vermelha em “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”. Essa característica poderia passar totalmente despercebida se não o fato de que existe uma grande história por trás dela.

Diz a lenda que P.L. Travers não queria vermelho no filme ‘Mary Poppins’,” diz o figurinista Daniel Orlandi, e ele explica o que o fez usar, em uma das cenas, um colete vermelho brilhante em Jason Schwartzman, o ator que interpreta Richard Sherman.

Por mais que P.L. Travers tivesse muitas exigências para o filme, Emma Thompson confessa que “nada de vermelho” é uma das suas preferidas. “Ela simplesmente disse ‘eu não gosto mais da cor vermelha e não quero que ela seja usada no filme’. Ao que Disney respondeu ‘Mas o filme se passa em Londres. Existem caixas de correio, ônibus e bandeiras com essa cor’,” esclarece. “Os irmãos Sherman testemunharam o momento em que Walt Disney teve que desistir e dizer ‘Ok. Certo. Não usaremos o vermelho’. É claro que, no final, tudo foi mudado e houve muito vermelho no filme, mas ela definitivamente testou a paciência desses homens. ”

 

 

O diretor John Lee Hancock confirma a história sobre a exigência de Travers de retirar toda a cor vermelha e conta: “A justificativa mais louca que ela deu era que não gostava mais da cor. No nosso filme, Walt a confronta na frente dos irmãos Sherman e de Don DeGradi mas, no final, ele acaba cedendo. Eles se surpreendem, pois nunca haviam visto Walt ceder em uma situação parecida.”

Hancock ainda observa que, para ele, a exigência não tinha nada a ver com a cor. “Ela fez um pedido, e se ele não tivesse aceitado algo tão simples, eles teriam brigado muito mais e ela poderia ter voltado para Londres. Por isso que Walt acaba aceitando, pelo menos naquele momento, porque seu pedido era maluco e sem sentido.”

 

 

Para “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”, Orlandi confirma que não há a cor vermelha no figurino de Emma Thompson. “É claro que, ao assistir ‘Mary Poppins’, você vê que o Sr. Banks está usando um paletó de veludo vermelho logo na primeira cena,” diz Orlandi, indicando quem foi o ganhador na batalha pela polêmica cor.

Walt nos Bastidores de Mary Poppins” estreia em 07 de Março de 2014 nos cinemas nacionais.

 

Emma Thompson em “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”:

Quando as filhas de Walt Disney imploraram a ele que fizesse um filme do livro favorito delas: “Mary Poppins”, de P.L. Travers, ele fez uma promessa feita, porém ele não imaginava que levaria duas décadas para cumpri-la. Na busca para obter os direitos, Walt enfrenta uma escritora intransigente e sempre irritada, que não tem a menor intenção de ver sua babá mágica recriada pela indústria do cinema. Até que, diante das baixas vendas do livro, concorda em ir até Los Angeles para ouvir pessoalmente os planos do empresário. Durante duas curtas semanas, em 1961, Walt Disney fez de tudo tudo para conseguir convencê-la. Armado com storyboards criativos e canções envolventes dos talentosos irmãos Sherman, ele lança um ataque pesado em direção a P.L. Travers, que não se mostra interessada. Só quando recorre à própria infância que Walt descobre a verdade sobre os fantasmas que atormentam a fechada escritora e, juntos, eles libertam Mary Poppins para um dos mais encantadores filmes da história do cinema

Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".