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Oz: Mágico e Poderoso | Crítica de Fã para Fã #1

 

A estrada de tijolos amarelos está de volta aos cinemas. Baseado na obra de Lyman Frank Baum, “Oz: Mágico e Poderoso” nos leva de volta ao reino já retratado no clássico de Victor Fleming em 1939, “O Mágico de Oz”. Dessa vez, porém, a história contada não é a de Dorothy, mas sim a do próprio Oz e como ele se tornou o governante do mágico reino.

 

Oscar “Oz” Diggs (James Franco) é um ilusionista de um circo itinerante que leva a vida conquistando e partindo corações de belas mulheres e tentando ganhar um pouco mais do que a miséria que ganha com seus shows espalhafatosos de mágica pelo país. Depois de se meter em uma encrenca por causa da mulher do lutador do circo, Oscar é obrigado a fugir em um balão e logo em seguida é tragado por um tornado, indo parar no mundo mágico de Oz. Lá ele conhece e se envolve com a bruxa Theodora, que revela que ele está ali para cumprir uma profecia: livrar o reino do mal da bruxa má e se tornar rei. Ganancioso, Diggs finge ser o mágico e segue rumo à Cidade das Esmeraldas, onde encontra Evanora, irmã de Theodora e conselheira real do rei.  Lá descobre que vai precisar matar a Bruxa Má antes de se tornar o rei de Oz e consequentemente, ficar rico. Apesar de temeroso de enfrentar tamanho perigo, Oz assume seu papel de “mágico” e parte em uma jornada pela estrada de tijolos amarelos.

 

 

Além da história de Oz, o filme também conta a origem da Bruxa Má do Oeste, que irá se tornar a grande inimiga de Dorothy no futuro. Apesar de a Disney ter mantido segredo em sua divulgação sobre a verdadeira identidade da bruxa no filme, fica fácil para os mais atentos e para os conhecedores da obra original descobrir quem, das três bruxas apresentadas no filme, se tornará a maligna e verde bruxa má. Eu mesmo já dei uma dica aqui de quem pode ser. Apesar de contar uma história plausível para o surgimento da vilã, os motivos e as aspirações para tal mudança são um tanto quanto bobos e fúteis. Eu, como admirador do universo de Oz, prefiro a versão alternativa criada por Gregory Maguire no livro “Maligna” e que serviu de inspiração para o musical da Broadway, “Wicked”. Mas essa versão fica para uma próxima versão da história. De preferência uma adaptação do próprio musical para o cinema, quem sabe…

Apesar de ter um roteiro com alguns furos, “Oz: Mágico e Poderoso” consegue se segurar através de uma história claramente voltada para o público no geral. O filme não é só para crianças, mas não chega a ser um filme para adultos. É aquela fórmula já conhecida de mais um filme família da Disney. Apesar de ser um prelúdio, a história tenta se manter longe de referências diretas ao filme de 1939, já que, em termos legais, toda a obra de L. F. Baum é de domínio público, exceto o musical de Victor Fleming, que é propriedade da Warner. Mesmo com essa limitações jurídicas, o longa consegue mencionar de forma indireta detalhes e elementos presentes no clássico, como a presença de leões, espantalhos, um número musical por parte dos Muchkins,  e ainda os macacos voadores. Sem falar no começo do filme, todo em preto e branco, com a adição de cores às imagens apenas depois que chegamos em Oz.

 

 

Apesar de tais restrições, Sam Raimi conseguiu fazer um filme coeso e consistente que tem uma forte ligação com o filme de 1939. Mesmo entregando a fórmula pronta de um filme de aventura típico da Disney, Raimi conseguiu deixar sua marca na obra. Acostumado a trabalhar com uma edição dinâmica e com muitos zooms e movimentos bruscos, ele alterna entre seu próprio estilo com cenas que abusam do uso de câmeras panorâmicas, comuns em filmes do estúdio, como “As Crônicas de Nárnia”, “Alice no País das Maravilhas”, “Piratas do Caribe”, entre outros. Enquanto na maior parte do filme vemos o cenário através de longos planos-sequência que enchem os olhos do espectador com a riqueza dos cenários criados, é possível ver a técnica ágil e detalhista  de Raimi nas cenas de ação, por exemplo. Tais cenas ganham ainda mais força com a trilha sonora eficiente composta por Danny Elfman.

Toda a parte técnica do filme é impecável, com exceção do 3D que só funciona em algumas cenas específicas. Os cenários são grandiosos, cheios de detalhes e cores que encantam o espectador. Diante de tamanha grandiosidade visual, fica impossível não comparar as semelhanças do filme com o “Alice no País das Maravilhas” de Tim Burton, lançado em 2010. Isso é facilmente explicado, já que o excelente produtor do filme de Burton, Joe Roth, é o mesmo produtor de Oz. A direção de arte fica por conta de Robert Stromberg (Avatar) e ganha pontos com a caracterização individual dos muitos cidadãos de Oz, com suas aparências singulares e cheias de personalidade e ainda pelos figurinos luxuosos e detalhistas de cada um deles. Os efeitos especiais são ótimos e os seres criados por computação gráfica são bem retratados e possuem movimentos realistas. Apenas o chroma-key deixou a desejar em algumas cenas (quando Hollywood vai finalmente acertar e parar de errar com as cenas em chroma-key?), mas nada muito constrangedor.

 

 

As interpretações dos atores são fiéis às personalidades dos personagens originais, com destaque para a doce Glinda, interpretada pela Michelle Williams, que é quase uma princesa Disney de tão encantadora, e para a sedução de Mila Kunis, perfeita para um papel com certo apelo sexual como o dela. Nunca vi uma mulher tirar o chapéu e ajeitar o próprio cabelo de forma tão sexy. Rachel Weisz traz uma interpretação menos sólida e é a que menos impressiona entre as três bruxas da história, apesar de não decepcionar. James Franco empresta seu jeito mais canastrão para interpretar um Oz mulherengo e egoísta tendendo para o bom moço em alguns momentos. Sua atuação me fez pensar como seria o Oz de um ator como Johnny Depp, por exemplo.

 

 

Em meio a tantos protagonistas, é possível ainda destacar dois coadjuvantes – feitos por CG, vale ressaltar – que roubam os holofotes das cenas em que aparecem. O primeiro é a garota de porcelana (voz de Joey King) e que extrapola os limites de doçura, delicadeza e coragem para um personagem tão pequeno. O segundo é o macaco Finley (Zach Braff) que é o autor das melhores piadas e ironias da história. Vale ressaltar que a maior parte dos personagens são versões alternativas de pessoas que passaram pela vida de Oscar antes dele chegar em Oz: : Finley é uma referência ao companheiro de Oz no circo, Frank. A garota de porcelana é uma metáfora para a menina de cadeira de rodas que assiste ao show de Oscar no começo do filme. Já Glinda tem a mesma aparência que Annie, a grande paixão de Oz no mundo real. Esse tipo de referência e ligação entre o mundo fantasioso e o mundo real não é exclusividade do filme de Raimi. “Alice no País das Maravilhas” abusa dessas mesmas metáforas com muitos de seus personagens e o próprio clássico de 1939 também usa desse recurso em sua narrativa.

Em meio a tanta ludicidade, magia, cenários grandiosos, ricos em cores e detalhistas, fica difícil não se envolver com o mundo mágico de Oz recriado especialmente para esse filme. Apesar das falhas em termos de roteiro, algumas atuações exageradas ou coisas do tipo, “Oz: Mágico e Poderoso” é uma grande referência à obra de Baum e uma grande homenagem ao cultuado musical de Victor Fleming. Comparações à parte, Sam Raimi conseguiu fazer um filme envolvente, que se encaixa no perfil da Disney e que pode ser o começo do retorno da terra de Oz para a cultura pop atual. Há rumores de uma possível continuação, ou mesmo de uma adaptação de Wicked para o cinema. São rumores. Algo comum até para os habitantes de Oz. Só nos resta esperar para ver qual a próxima aventura que o tornado do Kansas vai nos levar.

 

Escrito por Felipe Andrade

Estudante de Administração, nerd, cinéfilo, colecionador e uma eterna criança. Não exatamente nessa ordem...