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Operação Big Hero | Crítica de Fã para Fã

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“Nós não planejamos ser super-heróis, mas o bom é que, às vezes, coisas inusitadas acontecem. Meu irmão queria ajudar os outros. E é isso que nós vamos fazer.”

~ Hiro Hamada

Após sair da sala de exibição e constatar os grandes sorrisos estampados nos rostos alheios, sejam de crianças ou adultos, e os olhos avermelhados dos mais emotivos, não restam dúvidas quanto à nova era em que vive o Walt Disney Animation Studios. Há anos o estúdio vem delimitando novos e ousados caminhos, estabelecendo novos parâmetros e surpreendendo a cada obra inédita. “Operação Big Hero” não apenas valida essa ideia como ressalta que o sucesso congelante da animação anterior não fora obra do acaso.

União seria a palavra certa para definir esse projeto. Inspirado em uma série de quadrinhos da Marvel Comics, o cenário escolhido é a fictícia cidade de San Fransokyo, uma mescla das reais São Francisco e Tóquio. A relação entre o jovem protagonista Hiro Hamada e o robô Baymax é o principal motor do longa-metragem, primando ainda pela importância da participação de amigos e parentes em momentos de dificuldade. Claro, a combinação desses elementos com uma boa dosagem de humor, aventura e drama torna a animação dirigida por Chris Williams e Don Hall tão única.

Operação Big Hero

Hiro é um jovem prodígio com um gosto pelo perigo. Após se formar no colégio com apenas treze anos, o garoto investe seu tempo e dinheiro em robô-lutas, algo que traz muitas dores de cabeça a seu irmão mais velho, Tadashi, e à sua tia Cass. Motivado por seu irmão e amigos, Hiro decide se empenhar e utilizar sua “cabeça de coxinha” em uma invenção a fim de disputar uma vaga no Instituto de Tecnologia de São Fransokyo. Porém, uma fatalidade ocorre, um vilão com uma máscara kabuki surge e Hiro se encontra na obrigação de buscar vingança. À primeira vista, essa trama soa como clichê e repetitiva. Tudo isso muda devido à presença de Baymax, um agente pessoal de saúde inflável, desenvolvido por Tadashi com o intuito exclusivo de ajudar e cuidar.

Baymax é a principal peça para que o motor funcione corretamente e se sobressaia. Seu papel não se restringe apenas ao alívio cômico – sua primeira aparição traz consigo as primeiras risadas, as quais, momentos depois, se tornam gargalhadas – e diversos dos momentos mais singelos e comoventes do filme são protagonizados por ele. Sua preocupação constante com a saúde e o bem-estar de seus pacientes o humaniza e facilita a percepção de um vínculo fraternal com Hiro. Sua ausência transformaria “Operação Big Hero” em uma animação simples e genérica.

Operação Big Hero

O robô de design fofinho e acolhedor é ainda o responsável, diretamente, pela descoberta do depósito abandonado, onde Youkai – o primeiro antagonista realmente ameaçador e com uma motivação verossímil do estúdio nos últimos anos – está produzindo uma imensa quantidade de microbôs; e indiretamente, pela formação do super-grupo, visto que ele contacta os amigos Fred, GoGo Tomago, Honey Lemon e Wasabi para auxiliar Hiro, e este os equipa com aparatos tecnológicos baseados em suas personalidades e talentos, para capturarem o super-vilão.

Por se tratar de um filme para o público infanto-juvenil, o envolvimento dos quatro demais integrantes serve para aliviar a tensão que o recobre – impossível não rir com a “reciclagem” de Fred ou Wasabi gritando pela mãe – e contrastar com a amargura e rancor carregados pelo protagonista e a imaturidade do mesmo, além de poder envolvê-los em situações de maior risco, a exemplo da perseguição de carro a Youkai pela cidade.

Operação Big Hero

“Olá, eu sou o Baymax, seu agente pessoal de saúde.”

~ Baymax

Como Baymax ainda explora o mundo e é, portanto, ingênuo, quando Hiro se vê consumido pela ira e dor, cabe aos quatro o papel de guiá-lo pelo caminho certo. Eles, juntos de Baymax, ajudam a preencher as lacunas na vida de Hiro, pois possuem o mesmo propósito. Logo nos minutos iniciais, o garoto observa o seu reflexo na garupa da moto de seu irmão, enquanto fogem de criminosos. Essa cena irá se repetir momentos depois com outro personagem, criando um dos muitos ecos emocionais da animação.

O roteiro lida excepcionalmente bem com a questão emocional e permite os personagens conduzirem a trama, e não o contrário, o que causa a evolução e o desenvolvimento naturais dos mesmos. Não há necessidade de diálogos expositivos e didáticos, os aparatos tecnológicos, por exemplo, são inseridos de forma orgânica, sem que haja alguém para explicar desnecessariamente como funcionam. Logo, o resultado é bem mais enxuto e há um maior dinamismo e fluidez na forma em que os fatos se desenrolam. A trilha sonora possui forte relevância nesse aspecto. Há pelo menos três cenas de extrema importância dependentes do instrumental composto por Henry Jackman, o primeiro voo de Hiro e Baymax, na ilha abandonada e nos momentos finais.

Operação Big Hero

Fica evidente o quanto de liberdade criativa os cineastas puderam desfrutar na produção. A originalidade não se restringiu à aparência dos personagens e à incomparável São Fransokyo, cuja união de arquiteturas tão distintas concebe uma realidade incrível e muito interessante. Há inúmeros detalhes nos cenários. O quarto de Hiro, a casa de Fred e o laboratório de Tadashi são apenas alguns dos exemplos. Os microbôs criados por Hiro trouxeram uma gama infinita de possibilidades, sendo a própria imaginação o único limite delas. Isso torna ainda mais assustador a ideia dessa invenção nas mãos de Youkai

Embora o humor, os adornos e apetrechos sirvam para despistar do real intento, “Operação Big Hero” trabalha de forma descontraída temas profundos – talvez os mais íntimos já abordados pelo estúdio até agora – para uma animação e nos conta uma história sobre perdas e ganhos através da aventura de um garoto e seu robô. É, portanto, um filme que dialoga com o passado, por meio dos paralelos existentes com as obras anteriores, e com a atualidade. Deve ser visto e revisto, por crianças, jovens e adultos, sem discriminação de gênero ou faixa etária.

P.S.: Antecedendo as exibições, está o curta-metragem “O Banquete“, o qual, por si só, já vale o preço do ingresso. e possui uma trama encantadora e direção e edição impecáveis. E ao final dos créditos, há uma divertida e curiosa cena de um dos seis integrantes do grupo de heróis. Vale a pena conferir ambos.

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Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".