Lucas 
Manda esse treco de volta, senão o bicho pega.
~ Mike Wazowski
Por mais de vinte e cinco anos, a Pixar Animation Studios transportou a audiência em diversas e variadas aventuras; por ar, por terra e também por baixo d’água, com super-heróis e com brinquedos, filmes de corrida e pós-apocalípticos. O quarto longa-metragem do estúdio e um dos mais adorados, “Monstros S.A.”, retorna aos cinemas em três dimensões – que, além de atrair novos fãs, prepara o ânimo do público para “Universidade Monstros”.
Na trama da animação, somos apresentados a um novo mundo – a cidade de Monstropólis, cuja principal fonte de energia é gerada a partir dos gritos de crianças humanas –, ao principal assutador dali, James P. Sullivan, e seu assistente/melhor amigo/companheiro de apartamento, Mike Wazowski.
Já nos minutos iniciais descobrimos que existe um grande “porém”. Apesar de muitos monstros serem grandes, peludos, com garras e dentes afiados, terem um olho só ou muitos pares de olhos, eles têm medo dos humanos, afinal, como diz a lenda, eles são extremamente tóxicos e o mínimo contato pode matar.
Quando uma adorável menina inadvertidamente ultrapassa os limites e adentra no mundo dos assustadores, o local fica em polvorosa e cabe à dupla de protagonistas devolver a criança ao seu local de origem. E aqui, reside o maior trunfo de “Monstros S.A.”. Ao utilizar algo tão difundido como o medo dos infantes de monstros debaixo das camas e dentro dos armários e inverte-lo, os roteiristas Andrew Stanton e Daniel Gerson criam uma proposta interessante e altamente atrativa.
A força do roteiro, no entanto, está nos carismáticos personagens e em quão bem definidas e delimitadas são suas personalidades. Sulley é o recordista de sustos, mas possui um coração grande e mole. Mike é o desajeitado, sempre com uma piada ou ironia na ponta da língua, capaz de qualquer coisa para ajudar o amigo azul. Boo, mesmo que não possa falar ainda devido à sua idade, traz uma alta dose de fofura ao filme com sua típica inocência.
Além dos protagonistas, a animação também possui ótimos coadjuvantes, a exemplo do vilão Randall Boggs, o qual rivaliza com Sulley o posto de maior assustador, que chega a beirar o caricato com seu design; e Roz, uma monstra com aparência de lesma e responsável pela chefia e organização do andar dos sustos. Além das menções e aparições de personagens do imaginário popular, como o Abominável Homem das Neves – e suas casquinhas de sorvete.
O visual é um deleite, repleto de cores fortes e vivas se contrastando com as cores frias, e incrivelmente detalhado – reparem na vivacidade dos pelos de Sulley, em uma época em que a técnica de computação gráfica ainda dava seus primeiros passos. A cenografia realiza um trabalho competente compondo cenários que ressaltem o roteiro e as características dos personagens. Unidos à direção habilidosa de Pete Docter, que encontra os melhores ângulos para transmitir as emoções e sensações apropriadas nos momentos certos.
O excelente trabalho da equipe técnica é coroado pela trilha sonora composta por Randy Newman, com inspiração no jazz das décadas de 60 e 70, rendendo-lhe uma indicação ao Oscar® de Melhor Trilha Sonora e a estatueta de Melhor Canção Original pela inesquecível “Se Não Fosse Você”.
A película também presta homenagem aos desenhos tradicionais produzidos nas últimas décadas, desde o início com a abertura, às sequências de perseguição no final, ao melhor estilo Papa-Léguas e Coiote.
“Monstros S.A.” reforça o status atual do estúdio – de ser um dos melhores contadores de estórias dos últimos anos. O relançamento tridimensional é uma oportunidade única de ver ou rever a animação nos cinemas, aumentando as expectativas ainda mais para a animação que contará como a dupla se conheceu na faculdade.
