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A Outra Ponta do Lápis | Ub Iwerks

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Walt Disney criou o camundongo mais famoso do mundo, sua esposa o batizou e o animador Fred Moore refinou seu design. No entanto, não podemos esquecer daquele que pegou os rabiscos apressados de Walt e o animou pela primeira vez. Camundongos, essa semana vamos voltar no tempo, quando os estúdios Disney ainda engatinhavam, e conhecer um pouco sobre o artista Ub Iwerks, o co-criador de Oswald e Mickey.

Ubbe Eert Iwerks nasceu no dia 24 de Março de 1901, no estado de Missouri, nos Estados Unidos. Seu pai, o alemão Eert Ubbe Iwerks, se mudou para os Estados Unidos em 1869. Lá, Eert se casou com Deborah Pierce, em 1880, mas a abandonou e se casou novamente, em 1901, com Laura Wagner.

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Em 1914, ele mais uma vez deixou sua esposa. Ub precisou cuidar de sua família e, com apenas treze anos, se tornou o chefe da casa. Ele foi forçado a amadurecer prematuramente e abandonar os estudos para trabalhar. O garoto nunca mais falou com seu pai, nem ao menos foi ao seu funeral.

Aqueles que estudaram a vida do artista dizem que os dois eram muito parecidos, principalmente porque os dois eram extremamente criativos e inventivos. Acreditam que, mesmo sem admitir, Ub idealizava e admirava o pai. “E como ele chegou à The Walt Disney Company?” você deve estar se perguntando. Bem, Ub e Walt eram amigos de longa data.

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Os dois se conheceram em 1919, quando tinham apenas dezenove anos, enquanto trabalhavam no estúdio Pesmen-Rubin, em Kansas City. Após serem demitidos, eles tentaram abrir um estúdio próprio, que durou apenas um mês. Depois, aceitaram juntos uma vaga como ilustradores no jornal da cidade.

Foi durante esse período que Walt se apaixonou por animação e decidiu fazer disso sua vida. Ele abriu seu primeiro estúdio em 1922, chamado Laugh-O-Gram Films, e convidou Ub para trabalhar. A empresa faliu dois anos depois. Os dois e Roy, se mudaram para Los Angeles, onde trabalharam nos curtas que misturavam animação e live-action, Alice Comedies.

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Foi então que Walt começou a deixar de lado a animação, e passou a se focar na história em si, o que se provou ser uma decisão muito acertada. Ub continuou aperfeiçoando seus traços e técnicas, se tornou um dos mais importantes animadores que já existiu. E Walt, o maior contador de histórias. Os três eram a equipe perfeita. Walt imaginava cativantes histórias, Ub as animava brilhantemente, e Roy garantia que as finanças corressem bem. Cada um supria o que faltava nos outros.

Em 1927, em um projeto encomendado pela Universal, mais precisamente por Charles Mintz, Ub e Walt criaram juntos Oswald, o Coelho Sortudo. Ub animou sozinho todos os primeiros curtas do personagem. Foi durante esse trabalho que desenvolveu seu estilo: cartunesco, arredondado e fluído. Seu modo de animar seria seguido para sempre pelos artistas Disney.

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Walt perdeu os direitos de Oswald em 1928, o que o deixou arrasado. Para piorar, a maior parte de sua equipe foi contratada por outros estúdios. Ub, no entanto, ficou com Disney, que lhe pediu para ajudar a criar outro personagem. Há duas versões dessa criação. A mais romântica e conhecida, diz que Walt imaginou Mickey durante uma viagem de trem, enquanto voltava de Nova Iorque. Mostrou para sua esposa, Lillian, que sugeriu chamá-lo de Mickey.

No entanto, outros contam que Walt voltou arrasado de Nova Iorque, decidido a criar outro personagem. Ele e Ub olharam várias imagens e revistas, atrás de inspiração. Ub rabiscou diversos personagens baseados em animais. Ao desenhar um pequeno camundongo, chamou a atenção de Walt.

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No início, Mickey refletia muito mais a personalidade de Ub do que a de Walt. Ele era politicamente incorreto, beijava Minnie à força, bebia e fumava. Com o tempo, foi se transformando e se aproximando ao ideal de Disney. Se tornou simpático e com uma índole impecável.

Os primeiros curtas com Mickey Mouse, como Steamboat Willie (1928), foram animados inteiramente por Ub, e seu assistente iniciante Les Clark. Ele também animou a coleção de curtas Silly Symphonies — produzida entre 1929 e 1939.

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Com o tempo, a amizade de Walt e Ub se desgastou. Ub não conseguia trabalhar sob a supervisão rígida de Walt, que tentava a todo o momento opinar no ritmo de suas animações. Além disso, como alguns fãs sabem, um dos maiores defeitos de Walt era sua vaidade.

Ele gostava de ter seu nome conhecido e por isso, frequentemente, não dava todo o crédito que seus profissionais mereciam. Até hoje, várias pessoas acreditam que Walt criou e animou Mickey Mouse sozinho, sem fazer ideia da existência de Iwerks.

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Em 1930, Ub saiu dos estúdios Disney para abrir um estúdio com seu maior concorrente, Pat Powers. Os dois conseguiram investimentos pois vários investidores acreditavam que o sucesso de Disney se devia a Iwerks. No entanto, eles estavam enganados.

Sim, Ub era o animador principal de Disney. Porém, era substituível, logo Walt recrutou novos talentos. Ub no entanto, não possuía a habilidade de Disney para contar histórias. Seu humor era ácido e seus temas incluíam piadas sexuais e estereótipos raciais, o que nem sempre cativava a todos.

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Ub criou novos personagens, como Flip the Frog e Willie Whopper. Ele também experimentou diferentes técnicas como o stop-motion, além de realizar avanços tecnológicos como a câmera de múltiplos planos, que permitia criar a ilusão de profundidade nas animações. Tecnicamente, suas produções estavam sempre à frente das feitas pelos estúdios Disney.

Por ser um animador muito experiente, ele começou a perder o interesse pela técnica, se tornou monótono, e começou a dirigir os curtas e a pesquisar novas tecnologias. Em 1936, perdeu seus investidores e fechou o estúdio pouco tempo depois.

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Se Walt agiu certo ou não em não lhe dar créditos suficientes por Mickey, nunca saberemos. Mas Ub pareceu perdoá-lo, pois voltou para o estúdio em 1940, mesmo ganhando muito menos. O que o atraiu não foi o dinheiro, mas o fato de poder trabalhar em um estúdio sem limites orçamentários, onde tudo o que imaginava pudesse produzir.

Ele se envolveu mais no departamento de efeitos especiais e focou em criar novas tecnologias para a indústria cinematográfica, incluindo a xerografia, técnica utilizada na produção de filmes como 101 Dálmatas (1961) e Bernardo e Bianca (1977), devido ao seu baixo custo e rapidez.

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Durante a década de 1960, terminou sua carreira trabalhando como um Imagineering, um planejador dos Parques Disney. Ele criou detalhes fantásticos nas atrações, como os bustos que cantam na Mansão Mal Assombrada.

Nem só de Disney sua vida foi feita. Ub trabalhou com um dos diretores mais famosos de toda a história, Alfred Hitchcock, em Os Pássaros (1963). Enquanto Mary Poppins (1964) era feito, Hitchcock abordou Ub e perguntou se ele conseguiria criar a ilusão de pássaros atacando um humano de maneira verossímil. Walt liberou Ub e, assim, ele pôde participar do filme.

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Iwerks também treinou muitos animadores novatos. Apesar de ser um mestre da animação, não era muito paciente. Explicava calmamente uma vez, mas se perguntasse pela segunda vez, ele perdia a paciência. Após a Segunda Guerra Mundial, os desenhos de Ub se tornaram referência para os artistas pioneiros da indústria da animação e quadrinhos orientais, como Osamu Tezuka.

Ele se casou com Mildred Sarah Henderson, em 1927, com quem permaneceu até o fim de sua vida. Com ela, teve dois filhos: Don Iwerks e David Iwerks. Sua neta, Leslie Iwerks, se tornou uma documentarista. O animador faleceu na Califórnia, no dia 07 de julho de 1971, aos setenta anos, após sofrer um ataque cardíaco.

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Um documentário, dirigido por sua neta, foi lançado em 1999, seguido de uma biografia, escrita por John Kenworthy, publicada em 2001. Ambos intitulados “The Hand Behind the Mouse: The Ub Iwerks Story”. Em 1989, Iwerks recebeu o maior prêmio da casa, se tornou uma Disney Legend. E em 1978 recebeu, postumamente, o prêmio Winsor McCay, um dos mais importantes prêmios da indústria.

A carreira de Ub começou com uma amizade. Ele e Walt eram apenas dois amigos que queriam criar e ver onde a arte os levaria. Passaram juntos por aberturas e encerramentos de estúdios, sempre sem desanimar, e criaram uma nova maneira de contar histórias, em uma época na qual animar era inimaginável. Walt o considerava o melhor animador do mundo. Existe elogio maior?

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Escrito por Caroline

Designer Gráfico, Disney freak, viciada em café, quer ser roteirista e princesa quando crescer. Têm mais livros do que deveria e leu mais vezes “Orgulho e Preconceito” do que têm coragem de admitir.