in

Frozen | Crítica Congelante de Fã para Fã

 

Não é novidade para ninguém que a Disney tem o costume de trazer para seu público filmes com uma estrutura narrativa e um estilo de história bastante semelhantes, seja com seus finais felizes, números musicais, princesas, animais falantes e derivados. Nos último anos, o estúdio tem apostado numa estratégia interessante: Ao lançar filmes como “Bolt: Supercão“, “A Princesa e o Sapo“, “Enrolados” e “Detona Ralph” , fica claro que a Disney vem tentado agradar tanto meninos quanto meninas ao “revezar” as temáticas de suas animações. E o melhor de tudo é que ela tem feito isso de forma excepcional, já que nenhum dos lançamentos é restrito apenas a um tipo de público. Seus filmes não só agradam toda a família, como também possuem elementos e personagens que atraem a atenção e conquistam tanto meninos quanto meninas (com certeza algo pensado e realizado pelo atual responsável pelo departamento de animação, John Lasseter). Ao lançar “Frozen: Uma Aventura Congelante”, a Disney não só repetiu a fórmula como também trouxe alguns avanços nos bastidores do estúdio.

Ao longo da história vimos uma evolução nas personalidades das princesas da Disney. Desde as indefesas, dependentes e passivas Branca de Neve e Aurora (que inclusive dorme boa parte do filme), até garotas independentes, pró-ativas e corajosas como Mulan, Ariel e Bela. Desde que decidiu apostar novamente em novas princesas com “A Princesa e o Sapo“, o estúdio tem mudado sua abordagem ao criar novas personagens. Tiana trouxe um perfil ainda mais extremo de personalidade, se comparado com as primeiras princesas do estúdio. Destemida, ela corre atrás de seus objetivos, sem depender de ninguém, muito menos de um príncipe. Essa personalidade forte surge ainda mais atenuada em Rapunzel. E é esse perfil que vemos novamente em Frozen com a chegada de Anna e Elsa.

As irmãs, são herdeiras do reino de Arendelle e desde pequenas sempre foram muito unidas. Porém Elsa, a mais velha, possui o poderoso dom da Criocinese (capacidade de criar gelo e neve) e, acostumada a se divertir com tal habilidade em suas brincadeiras, certo dia acaba machucando a irmã, Anna, em um acidente. Assustados, seus pais a condenam a viver reclusa para que possa aprender a controlar seus poderes e isso gera um distanciamento doloroso entre as irmãs. Porém, no dia de sua coroação, Elsa perde o controle de seus poderes ao ser pressionada pela personalidade forte da irmã e foge para as montanhas, condenando todo o reino a um terrível inverno eterno. Anna então parte rumo às montanhas para salvar o reino e trazer sua irmã de volta.

 

 

O grande destaque e ponto forte do filme é a relação entre as duas princesas que, mesmo com toda a tragédia e distanciamento, possuem uma ligação forte e ao mesmo tempo delicada durante toda a história. Relação essa que se torna importante no clímax e que é ponto central das melhores cenas do filme, o que ajuda o público a se apaixonar e se identificar com ambas as irmãs. As personalidades fortes e o instinto de se desafiar e buscar seus objetivos ficam claros tanto em Elsa quanto em Anna, porém de formas diferentes. Enquanto Anna, apresenta a intensidade clara em todas as suas atitudes, Elsa vive contida, com medo de se permitir. Porém, sua forma de agir e se comportar muda drasticamente assim que ela foge do reino e libera totalmente seus poderes, em uma das melhores e mais lindas cenas do filme.

 

 

Baseado no conto A Rainha da Neve de Hans Christian Andersen (mesmo autor de “A Pequena Sereia“), o filme traz, junto com suas poderosas protagonistas femininas, a primeira mulher a assumir o cargo de direção em um longa metragem da Disney. Em parceria com Chris Buck (“Tarzan”), Jennifer Lee (que foi roteirista de “Detona Ralph”) faz história e apresenta um ótimo filme recheado com todos os elementos já comuns de um grande clássico do estúdio. Mais musical do que nunca, o filme possui canções espetaculares compostas pelo casal Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez e que possuem um estilo parecidíssimo com o “jeito Broadway” de criar musicais. A maioria das cenas importantes do filme são contadas através de músicas e nenhuma delas é totalmente dispensável. Sem falar que algumas canções, principalmente os duetos de Elsa e Anna, seguem um estilo de composição que beira à fala cantada, com interseção de vozes e de versos diferentes ao mesmo tempo, com simetria e rimas perfeitas e usadas de forma inteligente para agregar à história e não para enrolar e ganhar tempo em tela.

 

 

Talvez esse seja um dos motivos que a atriz Idina Menzel tenha sido escolhida para dublar Elsa na versão original do filme, já que a maioria dos musicais da Broadway que ela já participou possui um estilo de composição semelhante (vide a trilha sonora do fantástico musical “Wicked“). Por esse mesmo motivo, talvez a versão dublada no Brasil tenha perdido um pouco da qualidade do original, já que uma tradução teve que ser feita em músicas que não são assim tão fáceis de se adaptar. Enquanto as canções originais em inglês soam orgânicas e fluem perfeitamente enquanto ouvimos, as versões em português às vezes parecem mal traduzidas e perdem um pouco da métrica e da rima, já que algumas mudanças na tradução foram feitas para encaixar a letra com a melodia original. Mas nada que desmereça as músicas do filme que, mesmo em português, continuam encantadoras e lindas. Créditos também para Christoph Beck que compôs uma trilha sonora poderosa para o filme.

 

 

Recheado de personagens cativantes, desde o engraçado boneco de neve Olaf (dublado de forma muito satisfatória pelo comediante Fábio Porchat) até o vendedor de gelo Kristoff e sua adorável rena Sven, somos levados por uma jornada em cenários grandiosos e de uma beleza fantástica. O visual do filme é impecável e a qualidade da animação, como era de se esperar, surpreende e encanta os olhos do espectador, sendo ainda mais ressaltada através de pequenos detalhes como as mãos de Elsa tremendo ao pegar o cetro e a coroa e o contraste do visual das duas irmãs que reflete suas próprias personalidades, não só pela cor das roupas, mas também pela cor dos seus cabelos. A direção de arte entrega um trabalho fantástico através de figurinos, arquiteturas e paisagens belíssimas e uma fotografia que foge um pouco do padrão das animações anteriores da Disney. O 3D é usado de forma inteligente, através de extensas florestas, cristais, reflexos, transparências e explosões de gelo proporcionadas por Elsa que só ajudam a criar uma sensação de profundidade incrível no filme. Poucas vezes um elemento como a neve e o gelo foi representado de forma tão bela numa animação como acontece em Frozen.

 

 

Apesar de ser um filme excelente, Frozen possui alguns pequenos defeitos. O roteiro, mesmo que muito bem escrito, possui alguns problemas de narrativa que podiam melhorar a forma como algumas cenas impactam o espectador (como por exemplo a partida e morte dos pais de Elsa e Anna que podia ser menos corrida e inesperada, o que só potencializaria a carga emocional da cena seguinte que mostra o luto das irmãs), sem falar na explicação de alguns detalhes da trama como o papel dos Trolls naquele reino, já que eles são um dos personagens mais interessantes do filme, mas são muito mal explorados. Algo que ficou a desejar também foi a origem e explicação de todo o poder de Elsa. Pouco se fala sobre isso e quando finalmente ela consegue controlar suas habilidades, a explicação que se dá deixa muito a desejar e soa até boba e clichê, beirando até a falta de lógica. Toda a questão fantástica e mágica da história poderia ser muito melhor explorada. Senti falta também de uma participação maior do Kristoff nos números musicais, já que o mesmo é dublado pelo Jonathan Groff na versão original, um ator famoso na Broadway e detentor de uma voz lindíssima, utilizada aqui apenas numa pequena e nem tão relevante canção.

 

 

Mas esses detalhes são facilmente esquecidos ao final de um longa que cativa seus espectadores com personagens, músicas, e uma trama que prende a atenção e surpreende, pois algumas reviravoltas acontecem durante a história e podem pegar de surpresa quem assiste ao filme esperando mais um conto de fadas previsível da Disney, já que muitas delas vão contra os valores criados e cultivados pelo estúdio na maioria dos seus contos de fadas. As lições de moral estão presentes, as músicas estão cada vez mais belas, as histórias ainda mais apaixonantes e as princesas cada vez mais fortes. Não é a toa que esse é o primeiro filme da Disney dirigido por uma mulher. A sensação de nostalgia existe, mas a Disney nunca esteve tão ousada, sensível e em sintonia com o mundo atual. E esperamos que continue assim! Já está na hora de reviver a sensação dos bons e velhos tempos, quando filmes hoje considerados clássicos eram lançados e marcavam nossas infâncias e nossas vidas.

 

 

P.S. #1: O Curta exibido antes do filme com o Mickey é simplesmente genial e sozinho já vale o ingresso 3D. Portanto, não cheguem atrasados na sessão! Saiba mais aqui!

P.S. #2: Há uma pequena cena pós-créditos no filme que é muito engraçadinha.

Escrito por Felipe Andrade

Estudante de Administração, nerd, cinéfilo, colecionador e uma eterna criança. Não exatamente nessa ordem...