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Especial | A História das Princesas – Parte 3

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Bem-vindos à terceira parte do especial “A História das Princesas”! Vamos falar sobre a Era Pós-Renascença e o nascimento de uma das franquias mais lucrativas da história da Disney. Após o retumbante sucesso de “A Pequena Sereia” (1989), “A Bela e a Fera” (1991) e “Aladdin” (1992), chegou aos cinemas “O Rei Leão” (1994). O filme quebrou todos os recordes e se tornou o clássico de maior sucesso da história da Disney, marca que só foi superada quase vinte anos mais tarde por “Frozen: Uma Aventura Congelante” (2013).

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Sendo assim, os clássicos da segunda metade dos anos 90, por mais que tenham sido bem-sucedidos, representaram uma quebra na curva ascendente que vinha se estabelecendo desde que Ariel e seus amigos ganharam vida. Dentre esses clássicos estão “Pocahontas” (1995) e “Mulan” (1998), responsáveis pelo nascimento de mais duas princesas. Ambos podem não ter atingido a popularidade dos antecessores, mas com certeza têm seu espaço de ouro no Cânion Disney e figuram entre os favoritos na lista de muitos fãs.

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“Ele quer que eu seja estável, como o rio… Mas ele não é tão estável assim!”

Pocahontas

Pocahontas é a personagem título do trigésimo-terceiro clássico de animação da Disney, dirigido por Mike Gabriel e Eric Goldberg (o animador que trouxe o Gênio de “Aladdin” à vida). O filme começa em 1607, com um navio de exploradores ingleses saindo do porto de Londres em direção à América, em busca de ouro e glória. O líder da missão é o Governardor Ratcliffe, um homem ambicioso que falhou em todas as suas empreitadas e vê a viagem como uma última chance de ascender frente ao Rei James. Já o chefe dos marujos é o Capitão John Smith, um homem corajoso, desprendido e aventureiro, que vive cada dia como se fosse o último.

Do outro lado do Atlântico, vive Pocahontas, a filha de um chefe indígena da tribo dos Powathans. O público a vê pela primeira vez enquanto ela escuta o vento no topo de uma cachoeira, em uma das tomadas de câmera mais espetaculares da história da animação Disney. Pocahontas quer entender um estranho sonho que vêm tendo há varias noites a respeito de uma flecha que gira.

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Sentindo que o sonho anuncia que algo empolgante está para acontecer, Pocahontas pega sua canoa e vai até Vovó Willow, uma árvore encantada e sábia. A indiazinha sente que o seu caminho é diferente do que o que a tribo e seu pai esperam dela (casar-se com o guerreiro Kocoum e ter uma casa estável com paredes fortes) e é encorajada a escutar com o coração.

Pocahontas logo avista nuvens estranhas, na verdade as velas do navio inglês se aproximando da costa da Virgínia. O encontro da índia com o capitão Smith é inevitável, e causa estranheza dos dois lados. Ouvindo o coração, eles passam a se entender e logo surge um romance. Conforme Pocahontas ensina John a respeitar e amar a natureza, a tensão entre os colonos e os indígenas aumenta a cada instante, forçando a jovem a tomar uma decisão difícil.

Assista à emocionante sequencia de “Colors of the Wind”:

https://youtu.be/pk33dTVHreQ

Sábia e corajosa, Pocahontas é a primeira princesa a ter um papel político no filme. A indiazinha é divertida, engraçada e adora brincar com seus amigos, o guaxinim Meeko e o beija-flor Flit. No entanto, saltar de cachoeiras e correr pela mata não são as suas únicas preocupações. Além de seu amor incondicional pelo seu povo e pelo seu pai, ela se mostra fundamental na conciliação da paz entre os índios e os colonos ingleses.

Uma das cenas mais emblemáticas do filme é o momento em que interrompe a guerra com um discurso de deixar qualquer um arrepiado. É impressionante como o tema do filme como um todo permanece tão atual, mesmo retratando uma situação vivida há muitos séculos. O preconceito e a intolerância ainda existem e saber que tem uma personagem Disney, ainda mais uma princesa, que de certa forma atua como embaixadora da paz e do respeito aos seres vivos e à natureza é emocionante.

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O que realmente eleva o nível da personagem enquanto heroína é a difícil decisão que toma no final: ir para a Inglaterra viver com seu amor, o capitão John Smith, ou ficar na América para cuidar da relação delicada entre os dois povos tão diferentes. Entendendo que seu papel era maior do que a sua vontade pessoal, ela decide ficar. Esse tipo de postura define um padrão de princesa que se repetiria em Mulan: aquelas que colocam o bem estar pessoal de lado em detrimento de alguma coisa maior, de algo que as faz arriscar tudo por suas respectivas nações.

Pocahontas também é a primeira princesa a ter uma estrutura corporal mais adulta. Sua voz original é de Irene Bedard, descendente de nativos americanos, com Judy Kuhn, atriz da Broadway, dando suporte com as canções. No Brasil, a indiazinha foi muito bem dublada pela atriz Andrea Murucci (que também dublou a Giselle de “Encantada”, a Rainha Vermelha de “Alice no País das Maravilhas” e recentemente a Fada Madrinha, de “Cinderela”). Kika Tristão, que também fez as canções da Jasmine, de “Aladdin”, é a voz cantada.

Vídeo raríssimo do “Vídeo Show”, em 1995, mostrando Daniela Mercury gravando a trilha:

Na época do lançamento no Brasil, Daniela Mercury gravou a versão dos créditos de “Cores do Vento”, e fez um dueto com Jon Secada para a canção “Se eu não te encontrasse”. Quem foi criança nos anos 90 se lembrará do videoclipe após os créditos no VHS. Em 2005, no aniversário de dez anos do filme, essa canção que havia sido deletada foi incluída para o lançamento do DVD comemorativo. Infelizmente, quando relançaram em Blu-Ray, a cena tornou-se apenas um extra dentro dos Bônus Especiais.

As principais canções que Pocahontas canta são “Just Around the Riverbend”, no momento em que se questiona sobre o seu sonho e o seu destino, e a vencedora do Oscar “Colors of the Wind”. A canção é tão incrível que é maior do que o próprio filme, servindo como um hino para a tolerância e o respeito que devemos ter uns com os outros e com o mundo em que vivemos.

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O filme ganhou uma sequência diretamente para o vídeo. “Pocahontas 2 – Uma Jornada para o Novo Mundo” (1998) mostra Pocahontas indo até a Inglaterra em uma missão diplomática para impedir que o Rei James envie uma armada para o Novo Mundo. O filme costuma ser ignorado pela maior parte dos fãs, que não se conformam com o fato de Pocahontas ter se apaixonado pelo diplomata John Rolfe e não ter terminado o filme com John Smith.

Pocahontas tem uma base de fãs muito sólida, mas não repetiu o mesmo sucesso dos antecessores, muito em razão do tema mais adulto que aborda. A personagem, no entanto, é amada por muitas crianças e adultos que enxergam na sua coragem e sabedoria uma fonte de inspiração.

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“Eu trouxe a espada de Shan Yu e o selo Imperial. São presentes… para honrar a família Fa.”

Mulan

Depois de “O Corcunda de Notre Dame” (1996) e “Hércules” (1997), “Mulan” chegou aos cinemas em 19 de Junho de 1998. O filme foi a primeira animação Disney a ser totalmente produzida dentro do parque temático Disney’s Hollywood Studios (na época MGM-Studios), no Walt Disney World. A fábula da heroína chinesa que se veste de homem para salvar a vida de seu pai é inspirada no poema chinês do século VII, “A Balada de Hua Mulan”. Na China, Mulan é uma personagem relevante para a cultura nacional, de modo que muitos chineses refutam a adaptação da Disney, por considerarem infiel à história original e ocidentalizada. Quem tiver curiosidade, uma tradução do poema está disponível como um extra no DVD e no Blu-Ray da animação.

Mulan inicia a trama se preparando para ir até a casamenteira com o intuito de fazer um bom casamento – uma tradição muito valorizada pela sua cultura. A personagem é inteligente e autêntica, não se encaixando nos padrões seguidos pelas jovens de sua mesma idade. O encontro com a casamenteira é um desastre e Mulan sente que é uma desonra para sua família. Quando os Hunos invadem a China, o pai da moça, idoso e com sequelas de batalhas passadas, é convocado a lutar.

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Disposta a salvar a vida dele e sem ter mais nada a perder, ela se disfarça de homem e se junta ao exército imperial. Acompanhada de seu dragão guarda-costas Mushu e do seu grilo da sorte, Gri-Li, Mulan treina no regimento do Capitão Li Shang junto com outros recrutas e ganha o reconhecimento e o respeito de seu superior. A sequência musical de “I´ll Make a Man out of You”, em que os soldados molengas ganham auto-confiança, progridem e se tornam bravos guerreiros, é uma das mais memoráveis da animação.

Um passo a frente de Pocahontas, a heroína da China não só arrisca a honra de sua família para salvar o seu pai, como se veste de homem (um fato inédito nos filmes de animação da Disney), derrota o exército Huno, salva a sua pátria e é aclamada pelo povo em uma cena emocionante. É impossível não se arrepiar com a tomada de câmera em que Mulan se vira para ver a China se curvando em seu respeito.

Lea Salonga interpreta “A Whole New World” e “Reflection“:

https://youtu.be/5e5ENXwneio

Outro ponto divertido de se reparar em Mulan é como aparentemente Shang se sente atraído pela moça, mesmo quando ela está disfarçada como o soldado Ping. A questão do gênero e dos papéis que a sociedade impõe a homens e mulheres é trabalhada de forma leve, mas responsável durante o filme. Sequências divertidas incluem Mulan tomando banho de rio com seus amigos Yao, Ling e Chien Po, e a canção “A Girl Worth Fighting For”, onde ela ouve a visão dos seus companheiros sobre como seria a mulher ideal.

Nos Estados Unidos, Mulan tem a voz da atriz Ming Na e sua voz cantada é de Lea Salonga, a mesma de Jasmine. Lea fez um trabalho espetacular, dando muito sentimento à canção “Reflection”. A música é cantada quando Mulan volta da casamenteira e questiona o fato do reflexo de sua imagem no espelho não corresponder à pessoa que ela é.

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Uma versão maior da música seria utilizada no filme, mas foi cortada, pois os diretores achavam que ela iria atrasar a trama. No Brasil, a cantriz Kacau Gomes fez uma excelente dublagem tanto dos diálogos quanto das canções da heroína, sendo a única no mundo todo a cantar e dublar para a personagem.

Christina Aguilera, que na época ainda não era famosa, gravou o clipe da canção “Reflection” no pavilhão da China, no Epcot. O clipe é datado, mas extremamente nostálgico para quem é da geração anos 90. No Brasil, Sandy & Junior gravaram a canção dos créditos “Seu Coração”, enquanto Sandy gravou um solo da versão brasileira da canção principal.

Versão não-editada de “Reflection“. Acha que ela deveria ter sido mantida?

O filme ganhou uma sequência em 2004. “Mulan 2” mostra a nossa brava guerreira escoltando três princesas para um casamento arranjado que forjará uma aliança capaz de deter o exército dos mongóis. Mais uma vez, ela se vê dividida entre o seu dever e seu coração.

Recentemente, a Disney anunciou que o filme vai ganhar uma readaptação. O clássico se unirá a “101 Dálmatas” (1961), “A Bela Adormecida” (1959), “Alice no País das Maravilhas” (1951) e “Cinderela” (1950) na lista de animações adaptadas para o cinema com atores.

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Até o inicio dos anos 2000, era comum ver produtos Disney envolvendo as princesas de forma esporádica. Um álbum de figurinhas aqui ou um estojo de hidrocor ali existiam no inicio da década de 90, mas eram ações de negócio dispersas e pouco integradas. Apesar das princesas serem reunidas em alguns produtos, não existia uma franquia fixa que as contemplasse enquanto grupo.

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Andy Mooney, então presidente da divisão de produtos da The Walt Disney Company, sugeriu que se criasse a franquia oficial das Princesas Disney, após observar em um Disney on Ice a quantidade de meninas que vestiam fantasias não-oficiais das personagens. Em Janeiro de 2000, Branca de Neve, Cinderela, Aurora, Ariel, Bela, Jasmine, Pocahontas, Mulan e Sininho inauguraram a nova linha de produtos que tinha tudo para dar certo. Mulan e Sininho, apesar de não serem efetivamente princesas, se enquadravam no que é considerado “ser uma princesa Disney”. Sininho saiu na metade dos anos 2000, para ser protagonista de sua própria franquia, Disney Fadas.

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Durante a década de 2000, houve um boom de produtos envolvendo as personagens femininas do estúdio do Mickey, e a receita gerada pela venda de produtos licenciados deu um salto exponencial. Em meio a revistas, livros, DVDs, CDs, videoclipes, fantasias, bonecas, produtos escolares, material de decoração, e até produtos de higiene pessoal, o cofre do camundongo mais amado do mundo só tinha a agradecer a essas grandes damas.

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Além das oito princesas oficiais, outras personagens davam as caras em DVDs de Sing-Along Songs, bonecas colecionáveis e revistas como Esmeralda (“O Corcunda de Notre Dame”), Mégara (“Hércules”), Jane (“Tarzan”), Alice (“Alice no País das Maravilhas”) e até mesmo (pasmem) Nala, de “O Rei Leão” (1994), e Lady Marian, de “Robin Hood” (1973).

Isso acabava gerando uma certa inconsistência, pois tinham uma participação reduzida e não eram princesas. Mesmo Pocahontas e Mulan nem sempre eram incluídas em todo material de merchandising, muito provavelmente pela popularidade menor.

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Em 2009, com a chegada da princesa Tiana, foi colocada ordem na casa. Declarou-se oficialmente que as princesas oficias eram único e exclusivamente as oito da formação original, além da novata, e todas as outras foram removidas de qualquer produto oficial.

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Espero que tenham gostado de saber mais sobre a História das Princesas. Na última parte desse especial, vamos falar sobre o segundo Renascimento Disney e a chegada de novas princesas que vieram somar a esse universo encantador. Também vamos falar sobre os desdobramentos da franquia, e como ela está atualmente.

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Assista a esse clipe do início dos anos 2000 com as oito princesas originais. Jodi Benson, Paige O’Hara, Lea Salonga e Judy Kuhn voltaram a interpretar suas personagens para a nova canção.

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Escrito por Humberto Lima

Disney Lover desde quando pode se lembrar. Já sonhou em nadar no fundo do mar, explorar um castelo encantado, viajar de tapete mágico e pintar com todas as cores do vento. Entusiasta das dublagens, do cinema Hollywoodiano e das grandes animações, sejam elas antigas ou não.