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O Melhor e o Pior da Dublagem com Famosos no Brasil

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O período que antecede o lançamento de um longa-metragem de animação é sempre marcado por muita expectativa por parte daqueles que amam esse gênero da sétima arte. São muitas as razões pelas quais nos apaixonamos por esses filmes, seja pela história, trilha sonora, direção de arte, mas principalmente pelos personagens. Em animação, não temos atores aparecendo na tela, o personagem ganha vida através da interpretação dos voice actors, em sintonia com os animadores, que criam “a matéria” em cima da voz daquele ator.

O próprio Walt Disney percebeu que para atingir um público maior, seria vital que Branca de Neve, a protagonista de seu primeiro longa-metragem de animação, pudesse falar Português, Alemão, Francês, Italiano, entre outros idiomas. Sendo assim, a cada lançamento Disney, o filme era dublado em diferentes idiomas para que a plateia local pudesse entender o que aquele personagem estava falando e se conectar emocionalmente com ele. Atualmente, a Disney tem uma divisão especial que cuida desse processo, a Disney Characters Voices International e produz versões em mais de quarenta países.

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A escolha de atores famosos para dar vida aos personagens de animação nos Estados Unidos começou com Aladdin (1992), que contou com Robbin Williams no elenco dando vida ao Gênio. No Brasil, alguns famosos já haviam dublado animações de forma esporádica, a começar pela própria Dalva de Oliveira que foi a primeira voz da Branca de Neve. Zezé Motta foi a voz da vilã Úrsula de A Pequena Sereia (1989) e Ivon Curi deu vida a Lumière em A Bela e a Fera (1991).

Essas escolhas, no entanto, não faziam parte de uma estratégia integrada de Marketing que visava divulgar o filme a partir da dublagem. Isso começou a ocorrer com frequência no Brasil com Tarzan (1999) e se intensificou ao longo dos anos. A iniciativa é super válida, pois, além de divulgar o filme, muitas vezes traz excelentes atores que não são do meio da dublagem, dando frescor àquela produção. Entretanto, sabemos que essa ferramenta tem que ser usada com cautela. A seguir, vou comentar os nove exemplos mais emblemáticos, tanto para o bem quanto para o mal. Sinta-se à vontade para comentar e dividir sua opinião, ao final a matéria.

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O primeiro filme que efetivamente usou o Star Talent como ferramenta de divulgação foi o clássico adaptado do livro de Edgar Rice Burroughs. Du Moscovis, um grande ator brasileiro, dublou o homem-macaco e fez um trabalho primoroso. O tom de voz do ator se aproximou muito do original. Seu jeito calmo e tranquilo de falar casou perfeitamente com a personalidade de Tarzan, um homem criado com muito amor pela gorila Kala. Como de praxe, o ator não dublou o personagem na série, sendo substituído por Guilherme Briggs.

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O filme Dinossauro (2000) contou com uma divulgação ainda mais pesada em cima dos Star Talents. Dessa vez, quatro famosos foram chamados para dublar a animação. Fábio Assunção dublou o protagonista Aladar. Apesar de ele ser um excelente ator, a dublagem não ficou sensacional. O voice match ficou bem legal, mas faltou um pouco de intenção em algumas falas. Isso é absolutamente normal, pois a dublagem exige um cuidado tanto de interpretação quanto de sincronismo. Malu Mader fez bem o par romântico de Aladar, a dinossaura Neera. No entanto, Nair Bello e Hebe Camargo foram as atrizes que de fato roubaram a cena. As vozes são tão fluídas dentro da narrativa que poderíamos acreditar que ambas foram dubladoras de sua época, como Nair Amorim.

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Considero esta a melhor das dublagens envolvendo famosos. Selton Mello, que começou a carreira como dublador, deu um show como o egocêntrico imperador Kuzco. O fato de ele já ter dublado e dominar a técnica facilitou e o trabalho foi excelente. Humberto Martins fez lindamente Pacha, o camponês simples e brejeiro. A cereja do bolo é Marieta Severo como a vilã Yzma. Eu particularmente a considero uma das melhores atrizes da atualidade. Sua voz é bem mais jovem que a original de Eartha Kitt, mas a interpretação é tão sublime e verdadeira que isso não faz muita diferença. Não fica nem um pouco atrás das atrizes Lourdes Mayer (Rainha Má), Heloísa Helena (Malévola) e Ida Gomes (Madame Mim/Medusa), dubladoras das diabólicas vilãs clássicas da Disney.

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Já a dublagem de Atlantis: O Reino Perdido (2001) não contou com participações tão incríveis no elenco. Camila Pitanga fez a princesa Kida e o trabalho ficou bom. Poderia ter ficado melhor, claro. Já Maitê Proença fez a vilã Helga, mas achei a dublagem pouco natural. Ambas são atrizes incríveis, mas a dublagem exige uma técnica especial de você passar toda a intenção e a personalidade daquele personagem só através da voz respeitando o sincronismo e o tempo da fala do ator. Isso dificulta pra quem não está acostumado.

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O veterano Chico Anysio deu um show como o rabugento Carl Friedericksen. A escolha foi acertada e o ator deu um carisma a mais para o personagem. Exemplos como esse mostram que quando se chama bons atores com uma boa direção, a coisa do Star Talent funciona.

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Assim como em A Nova Onda do Imperador (2000), a escolha das três vozes para darem vida às vacas foi certeira. A comediante Claudia Rodrigues, que na época estava bombando no seriado A Diarista, emprestou toda a sua veia cômica à protagonista Maggie, uma vaca folgada e sem muitos modos, mas com um coração de ouro. Isabela Garcia, com um tom fofo e amigável, foi Gracie, a vaca conciliadora. E pra fechar com chave de ouro, temos a maravilhosa e única Fernanda Montenegro dublando a Sra. Calloway, a vaquinha mais velha do trio (no original foi dublada por Judi Dench). Ela dispensa comentários quanto à qualidade de atriz que é, e bem dirigida pelo também maravilhoso Garcia Júnior, fez um trabalho incrível.

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O mais recente clássico tradicional da Disney tem o que considero a melhor dublagem recente de qualquer animação Disney. O elenco conta com excelentes atores como Kacau Gomes, Mauro Ramos, Márcio Simões e Selma Lopes. O Star Talent da vez foi Rodrigo Lombardi, que à época estava interpretando o personagem Raj em Caminho das Índias. Gostei muito do trabalho de Lombardi. O Príncipe Naveen é bonachão e até um pouco caricato, o que de certa forma combinou com o jeito que Lombardi encarnou o personagem. Em entrevistas posteriores, ele demonstrou o afeto que tem pelas animações clássicas da Disney e o quanto amou fazer esse trabalho. Mais um ponto pra ele!

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Um grande problema do uso da ferramenta do Star Talent é encará-la unicamente como estratégia de Marketing. Luciano Huck é uma das pessoas públicas mais carismáticas da atualidade, o que explica a sua enorme participação em campanhas publicitárias de muitas marcas. Mas, nas campanhas publicitárias, o universo é propício para que Luciano Huck seja Luciano Huck e testemunhe com a sua própria autoridade. Quando pensamos em uma narrativa de um longa-metragem, a escolha do Star Talent tem que beneficiar tanto a campanha de lançamento do filme para gerar buzz, mídia espontânea e curiosidade quanto o próprio filme e seus personagens.

O grande problema dessa (equivocada) escolha é que acho que olharam só para o primeiro aspecto e esqueceram que a voz de Huck não tem nada a ver com o personagem Flynn Rider. Além de a voz do apresentador ser muito característica, ele não é ator e sequer tem a ver com o personagem, o que resultou em 1) uma interpretação ruim; 2) uma voz totalmente descolada do resto do elenco; 3)a impressão de que Flynn não era um rapaz de 25-26 anos. Essa polêmica já foi virada e revirada, mas é sempre bom lembrar do que não se deve fazer.

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Já no mais recente longa Frozen: Uma Aventura Congelante (2013), a voz de Fábio Porchat foi escolhida, nos quarenta e cinco do segundo tempo, para dar vida ao boneco de neve Olaf. A escolha foi mais do que acertada, porque Porchat é um comediante maravilhoso e conseguiu imprimir essa veia cômica ao personagem sem puxar totalmente a interpretação pro seu jeito de ser e “ofuscar” o personagem. Palmas para ele!

Espero que tenham gostado da matéria. Não deixem de comentar dando as suas impressões dos casos comentados acima e de outros que não tenham sido citados.

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Escrito por Humberto Lima

Disney Lover desde quando pode se lembrar. Já sonhou em nadar no fundo do mar, explorar um castelo encantado, viajar de tapete mágico e pintar com todas as cores do vento. Entusiasta das dublagens, do cinema Hollywoodiano e das grandes animações, sejam elas antigas ou não.