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Entrevista com o diretor de LA LUNA

 

Enrico Casarosa, diretor do curta-metragem “La Luna”, da Disney·PIXAR, conversou, com exclusividade, com a Entertainment Weekly sobre seu novo trabalho. Casarosa fala sobre a produção e sobre aquilo que o levou a criar o curta. O diretor da animação também comenta a indicação ao Oscar® de Melhor Curta Animado (e da pressão de vencer).

A entrevista, traduzida na íntegra, pode ser lida abaixo, com direito a um trecho inédito da animação.

 

 

Entertainment Weekly: Você pode me dizer um pouco sobre sua formação?

Enrico Casarosa: Eu cresci na Itália. Vim para os Estados Unidos para estudar em Nova York em 1994. Sempre gostei de desenhar, e estudei um pouco de ilustração na Itália. Mas desisti e realmente segui com a animação mais especificamente em Nova York. Fiz um monte de animação televisiva para estúdios menores, e depois acabei na Blue Sky Studios [que produziu os filmes da Era do Gelo]. Depois de alguns anos lá, eu recebi uma oferta [para fazer storyboard] da Pixar em 2002, e estou aqui desde então.

Onde na Itália você cresceu?

Eu cresci em Genoa, na Riviera. O mar foi uma grande parte da minha infância. Isso é algo que eu estava tentando trazer para “La Luna”.

Como funciona o processo de criação de curtas na Pixar? Alguém está autorizado a dar ideias?

Sim, é muito livre. Mais de dois anos atrás, levantei minha mão e disse: “Poderia fazer uma sugestão?” E eles: “Claro”.

Foi fora do comum para um artista de storyboard fazer um curta-metragem?

Não, alguns dos animadores já fizeram isso antes. De muitas maneiras, você tem um pouco de experiência sendo criador de estórias, porque lidamos diariamente tanto com a estrutura quanto com escrita de uma estória. Uma vez, peguei a estória que eu queria, e era capaz de ilustrá-la. Fiz 30 imagens em aquarela. Eu percorria minhas imagens, quase como um livro infantil, como se estivesse contando a estória

Você costuma apresentar três idéias – é assim a estrutura. Apresenta-as ao [diretor criativo] John Lasseter e [o presidente] Ed Catmull. John é o produtor executivo desses curtas, então ele é quem define o que será produzido. Ele gostou imediatamente de “La Luna” e abraçou seu sabor italiano. E depois, ele vigiou todo o processo. Consultavamos-nos com ele, durante a produção, a cada dois meses. É uma grande experiência de aprendizagem.

 

 

Quanto tempo durou a produção?

Cerca de nove meses, mas venho trabalhando há quase um ano e meio. Uma vez encerrada a produção, rapidamente, comecei a trabalhar [como chefe da história] no “Filme Sem Título da Pixar sobre Dinossauros”. Enquanto isso, passei algumas vezes para finalizar o curta e deixar tudo certo.

Você teve Michael Giacchino, como compositor, o que é ótimo.

Tivemos em nossa trilha algumas músicas de Nino Rota e de Fellini, além de algumas antigas canções folclóricas napolitanas. Enviei a Michael estes CDs para inspirá-lo e dizer “Siga as suas raízes [italianas]!” E ele aprovou totalmente e que realmente captou algo um pouco Felliniesque.

Falando em abraçar as raízes, quanto de sua formação italiana teve que lidar com “La Luna”?

O núcleo disso é realmente o meu relacionamento com meu pai e avô, enquanto crescia. Meu avô morava conosco, e meu pai e ele não se davam muito bem. Havia jantares tensos, onde eles me faziam uma pergunta, mas nunca falavam um com o outro. Sentia-me como um osso de discórdia no meio destes dois cães. Achava que havia algo interessante ali para uma estória agradável sobre um menino tentando encontrar sua própria voz entre duas vozes maiores.

A outra influência foi que eu estava lendo Italo Calvino, que tem essas histórias maravilhosas fantásticas e, especificamente, uma chamada “The Distance of the Moon”, sobre alguém colocando uma escada na lua para obter leite. Foi isso, e livros como “O Pequeno Príncipe”, bem como o curta de “Wallace & Gromit”, “A Grand Day Out”, aonde eles vão até a lua e tem queijo e biscoitos, porque a lua é feita de queijo. Todas estas, maravilhosas, idéias malucas sobre a lua realmente me fizeram pensar que seria divertido criar meu próprio mito fantástico sobre isso.

E a última influência é [o diretor de anime] Hayao Miyazaki. Cresci com o seu trabalho na Itália. Por alguma razão, nos anos 80, que tinha uma tonelada de desenhos animados japoneses. E nos anos 90, quando descobri os seus filmes, ele estava totalmente conectado comigo.

“La Luna” lembrou-me um pouco da sequência de flashback “O Castelo Animado”, na qual Howl realmente pega uma estrela cadente.

Olhamos para aquelas belas estrelas cadentes. A quantidade de imagens que eu adoro nos filmes de Miyazaki é tão difundida que escoa em meus gostos e até em meu modo de desenhar.

 

Novo trecho de “La Luna”:

 

A propósito, você tem que tentar jogar o jogo Super Mario Galaxy, onde você pode girar 360º sobre todos esses pequenos planetas.

Você não é a primeira a me dizer isso! Há algo de tão fascinante sobre ter um pequeno planeta. É isso eu peguei de “O Pequeno Príncipe” – é tão pequeno que você pode fazer uma caminhada e estar no mesmo lugar depois de dois minutos.

Voltando ao seu pai e seu avô… Eles já consertaram o relacionamento deles?

Não mesmo. De alguma forma, “La Luna” é a minha maneira de aproximâ-los. Houve algumas rixas graves entre eles que são, obviamente, mais profundas do que as mostradas no curta. Depois que meu pai viu “La Luna”, ele me disse: “Eu nunca soube que esse relacionamento afetou a você.” Mas eu acho que as pessoas possuem formas muito estranhas de demonstrar afeto e amor, então eu sempre gosto de pensar que [o amor deles] tinha que estar lá.

Muitos curtas da Pixar focam no humor rápido, enquanto “La Luna” tem um tipo uma paciente e poética narrativa.

Enquanto estava começando a fazer “La Luna”, eles estavam terminando [o curta de 2010] “Dia & Noite”, e que mostrou que a Pixar estava aberta a outros estilos menos comuns. “La Luna” é uma diferença enorme. É o curta-metragem mais longo da Pixar, e eles apoiaram o ritmo mais lento, que é um desafio, porque há somente certa quantidade de dinheiro. No início, era para ser quatro e minutos e meio de duração. Mas, com o mesmo orçamento, fomos capazes de torná-lo em quase sete minutos, por isso funcionou. Se eu tivesse dito no início, “Vou fazer um curta de sete minutos”, eles provavelmente teriam me matado. [Risos]

 

 

Em termos de estilo de curta, esta é mais próxima simulação de aquarela em uma animação de computação gráfica que já vi.

Sim, todas aquelas aquarelas feitas no início, deu-nos algo para almejar. A estória parecia apoiar, também, já que é uma fábula. Queria que fosse como um livro infantil, por isso, tentamos usar o máximo possível na tela. Alguns dos nossos cenários eram grandes pinturas pastéis digitalizadas no computador. E a grande cena da lua saindo da água era apenas uma pintura em aquarela. Estávamos bem com ela parecendo achatada, como se fosse um cenário de filme do Fellini.

Sem querer diminuir suas chances no Oscar, mas um curta da Pixar, surpreendentemente, não ganha desde “Para os Pássaros”, há 10 anos.

Estou completamente ciente disso! [Risos] Tem sido uma batalha difícil. Às vezes, nos sentimos um pouco como o Yankees, em que somos um grande estúdio. Mas este é um pequeno filme. Nós o fizemos com uma pequena equipe. De muitas maneiras, nos sentimos como um pequeno estúdio dentro de uma maior. E espero que as pessoas possam ver que foi feito com muito amor.

La Luna” será exibido, nos cinemais nacionais, junto às cópias de “Valente”, que estreia em 20 de Julho de 2012.

Dirigido por Enrico Casarosa, o animado conta a história de um garoto que passa por uma espécie de “ritual de passagem”, no caso será a primeira vez em que ele vai trabalhar em companhia de seu pai e seu avô, em alto mar. Porém, enquanto estão navegando em um modesto barco de madeira, subitamente eles param… e esperam. E eis que uma grande surpresa aguarda o nosso protagonista que se defrontará com o incomum trabalho exercido por sua família e logo se vê num conflito entre as suas próprias opiniões e as antigas tradições impostas a ele.

Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".