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Entrevista com John Lasseter

John Lasseter — cofundador da Pixar, o estúdio que fez história; diretor-geral de criação do Walt Disney e Pixar Animação Studios; e também o principal conselheiro criativo da, Walt Disney Imagineering

Lasseter

John Lasseter — cofundador da Pixar, o estúdio de digital animação que fez história; diretor-geral de criação do Walt Disney e Pixar Animação Studios; e também o principal conselheiro criativo da, Walt Disney Imagineering — é, como você provavelmente pode imaginar, um homem ocupado. Sempre um pioneiro na produção de animação digital, a vida toda Lasseter também foi fã da animação feita à mão. E é por isso que ele está tão empolgado com o novo lançamento do Walt Disney Animation Studio, A PRINCESA E O SAPO (THE PRINCESS & THE FROG), um filme que marca a volta não só da animação feita à mão, mas também dos contos de fadas musicais protagonizados por uma princesa.

P: John, como surgiu a ideia de A PRINCESA E O SAPO?

No dia em que eu voltei para o Walt Disney Animation Studios, eu e o Ed Catmull dissemos que nós queríamos trazer de volta a animação feita à mão. E assim que eu terminei essa frase, a frase seguinte foi que eu queria trazer de volta John Musker e Ron Clements. Então, depois que nós os trouxemos de volta, eu dei a eles a liberdade de escolher o seu próprio projeto — eu não lhes disse que eu queria que eles produzissem um filme de animação em 2-D. Mas Ed e eu já havíamos dito, tanto na Pixar quanto na Disney, que nós queríamos trazer de volta a animação feita à mão e nós já havíamos inclusive solicitado ideias. Eu mencionei uma ideia que eu tinha tido na Pixar, mas não passava de um arroubo de uma ideia. Eu adoro a história do “Sapo Príncipe” e eu adoro Nova Orleans. E achei que seria um ótimo cenário para uma história dessas… e foi só isso o que eu havia dito a eles. Nós sempre pedimos aos diretores que nos sugiram não apenas uma única ideia, e sim três ideias… e eles sempre nos procuram com nove ideias. Esses caras são muito prolíficos, são fantásticos. E uma delas era A PRINCESA E O SAPO — só que eles introduziram uma novidade na história, em que a protagonista, Tiana, beija o sapo, mas ela não é uma princesa de verdade e acaba transformada em um sapo também. Eles criaram uma reviravolta muito inteligente. Eles queriam que o filme fosse um musical, passado em Nova Orleans e queriam que Randy Newman compusesse a trilha, o que, obviamente, eu adorei, porque eu trabalhei com o Randy em todos os filmes que eu dirigi. O Randy cresceu em Nova Orleans e em Los Angeles. Ele costumava passar todos os verões em Nova Orleans e, por isso, ele conhece a cidade e a sua música.  Parece que ele já nasceu as conhecendo. Está no DNA dele, então, acho que ele foi uma escolha sensacional para o filme.

P: Por que voltar à animação feita à mão agora?

Eu sempre adorei animação, sobretudo, a animação feita à mão. É a razão da minha escolha profissional, esses filmes de Walt Disney. E esta forma de arte é absolutamente espetacular e magnífica. E eu nunca entendi bem por que os estúdios animação supõem que os espectadores de hoje só querem ver animação digital. O que importa nunca é o meio em que um filme é produzido; o que importa é a sua história. E a qualidade do filme. Por isso, uma das primeiras coisas que eu fiz quando voltei para o Walt Disney Animation Studios foi dizer, “Ei, vamos fazer outro filme de animação feita à mão”. Porque eu achava que, se existe um estúdio no mundo que deveria estar produzindo animação feita à mão da melhor qualidade, deveria ser onde tudo isso teve origem, nos estúdios de Walt Disney.

E é por isso que nós ficamos tão entusiasmados em ver John Musker e Ron Clements de volta ao estúdio e em poder dizer para eles, “Criem uma história que vocês realmente queiram muito contar”. E assim nasceu A PRINCESA E O SAPO, na fantástica animação Disney feita à mão. É simplesmente espetacular.

P: Como A PRINCESA E O SAPO dá continuidade a esse legado incrivelmente rico da animação Disney?

Sabe, o mais emocionante acerca de A PRINCESA E O SAPO, é que é não só uma volta à animação feita à mão no The Walt Disney Animation Studios, mas também é uma volta aos contos de fadas. É uma volta aos musicais, algo que não fazemos há bastante tempo. Ou seja, é um clássico Disney em todos os seus aspectos, porém, ao mesmo tempo, é original e algo que você nunca viu antes. Isso é o mais emocionante, quando você senta e assiste a A PRINCESA E O SAPO. Quero dizer, eu ajudei a produzir o filme, mas quando me sento para assisti-lo, eu penso, “Eu tinha me esquecido de o quanto eu adoro isso!” Todas essas coisas combinadas, a animação feita à mão, a fábula de conto de fadas, o musical, os grandes personagens, os animais que falam, a princesa, o príncipe, tudo isso somado resulta num clássico Disney, porém, ao mesmo, é um filme completamente original.

P: Conte um pouco mais sobre a história de A PRINCESA E O SAPO e os seus personagens.

A PRINCESA E O SAPO é a história de uma personagem fantástica, chamada Tiana. Ela é uma personagem muito forte. Ela trabalha como garçonete, mas sonha em montar o seu próprio restaurante. Esse era um sonho que ela nutria junto com o pai dela e que ela pretende levar adiante. Então, ela encara dois, três turnos de trabalho para tentar conseguir dinheiro para comprar um velho engenho de açúcar e transformá-lo num grande restaurante de Nova Orleans. E quando ela está prestes a comprar o restaurante, alguém compra o lugar antes dela e todo o seu sonho simplesmente desmorona.

Então, neste momento, ela faz o que ela afirmava que nunca faria: ela faz um pedido à estrela Vênus, o que é algo que a sua melhor amiga, Charlotte, vive fazendo, porque Charlotte faz questão de se casar com um príncipe. Já Tiana, é mais pragmática, mas ela acaba fazendo um pedido à estrela Vênus. E então, ela olha para baixo, vê um sapo e pensa, “Ah, claro, uma pegadinha”. E ela está num baile de máscaras, vestida como uma princesa. Ela olha para baixo e diz, “Imagino que você queria um beijo agora”. E o sapo responde, [com um sotaque francês] “Um beijo seria ótimo, não?”

Ela se assusta ao ouvir o sapo falando e aí descobre que se trata de um sapo que alegar ser, na verdade, um príncipe. Então, ele a convence a beijá-lo. Mas ao invés de o sapo se transformar num príncipe, ela é que acaba virando um sapo, porque ela não é uma princesa de verdade, era apenas um baile a fantasia. Então, agora, temos um príncipe e Tiana transformada num sapo, e eles precisam ir até os pântanos procurar a ajuda de uma “fada madrinha” que pratica um vudu do bem, chamada Mama Odie, numa tentativa de reverter o feitiço que o dr. Facilier, um feiticeiro que pratica um vudu do mal, jogou sobre o príncipe e, agora, sobre Tiana.

Ao longo do caminho, eles conhecem um jacaré fantástico chamado Louis. Ele toca jazz no seu trompete, é hilário e é fantástico. Eles também conhecem um vaga-lume cajun chamado Ray.  Ambos se tornam bons amigos de Tiana e do príncipe Naveen em sua jornada fantástica para tentar voltar à sua forma humana. E nesse ínterim, pode ser que eles se apaixonem. Eu não quero entregar o final. E não vou contar mais nada.

P: E poderia falar sobre os cineastas?

É emocionante trazer John Musker e Ron Clements de volta ao estúdio. Eu fiz faculdade com John Musker, então, nós dois nos conhecemos há muito tempo. Eu acho que eles são Disney. Quando você pensa nos filmes que eles fizeram, sobretudo A Pequena Sereia e Aladdin, ora, são dois dos melhores filmes de animação Disney. E fico muito empolgado em trazê-los de volta aos estúdios Disney.

No fim das contas, nós simplesmente os queríamos de volta ao estúdio, porque o lugar deles é nos estúdios Disney. Por isso, quando voltaram, eu disse que queria que eles produzissem um filme que eles realmente quisessem fazer, algo que falasse ao coração deles. E nós já tínhamos discutido um monte de ideias, inclusive um arroubo de ideia que eu tinha tido na Pixar para uma nova versão de O Sapo Príncipe, passada em Nova Orleans. Isso era tudo o que eu tinha.

E eu simplesmente mencionei isso a eles. Eles, então, pegaram a idéia e criaram uma história absolutamente original e surpreendente, A PRINCESA E O SAPO.  E eles queriam que ela se passasse em Nova Orleans e queriam que fosse um musical. Eu fiquei emocionado, porque eles queriam que produzi-la em animação feita à mão, que é como eu queria. Eu acho que John Musker e Ron Clements são simplesmente talentos fenomenais como diretores e como roteiristas por sua criatividade, por todo o seu conhecimento da animação, seu conhecimento de cinema, é simplesmente fantástico.

P: Fale mais sobre Tiana.

Eu me orgulho muito de Tiana. Ela é uma personagem muito forte. Ela é a mais nova princesa Disney, mas ao contrário de outras princesas Disney, ela não está à espera de um príncipe encantado. Ela nem é uma princesa de verdade no começo da história. Ela é uma garçonete que sonha em montar o seu próprio restaurante. Esse era um sonho do pai dela e ela batalha muito por ele. E ao longo da sua aventura, ela acaba aprendendo que é preciso haver um equilíbrio na vida entre o trabalho e também o amor. Você não pode viver sem amor e a personagem passa por um profundo amadurecimento no decorrer do filme. E ela também é linda, na sua concepção e no seu desenho. Eu me orgulho muito dessa personagem.

P: E o príncipe Naveen?

Todo conto de fadas precisa ter um príncipe e nós temos um príncipe fantástico.  O príncipe Naveen, do lendário reino de Maldonia, é sensacional. Ele é muito divertido.  É uma espécie de playboy, um rapaz rico que foi transformado em sapo pelo malvado dr. Facilier. Mas durante a sua jornada na forma de um anfíbio, ele aprende muito com Tiana. Ele aprende muito sobre responsabilidade e se apaixona de verdade, pela primeira vez na vida. Ele aprende muito mesmo. Ele é um personagem muito divertido.

P: Fale acerca dos dois lados opostos da magia.

Uma das coisas que eu adoro no fato de usarmos Nova Orleans como o cenário do filme, é a magia. E nós temos dois aspectos dessa magia: um lado sinistro e um lado luminoso do uso de magia em Nova Orleans. Então, temos o dr. Facilier, o vilão que é, vou te contar, um dos melhores vilões Disney de todos os tempos. Ele é muito carismático e sedutor. Ele tem um número musical no filme que simplesmente rouba a cena e tem uma animação magistral. E nós temos um tipo de Fada Madrinha do vudu, por assim dizer. Mama Odie é muito engraçada e encantadora. E ela mora na parte mais inacessível e sombria do bayou local, num barco camaroneiro empoleirado no alto de uma árvore. E ela vive com sua “cobra-guia”, Ju Ju.  Ela é incrivelmente engraçada e rouba a cena.

P: E esses dois personagens se encontram no pântano?

Depois que Tiana e o príncipe Naveen são transformados em sapos, eles vão até o pântano à procura de Mama Odie para que ela os transforme novamente em seres humanos. No caminho, eles conhecem dois personagens absolutamente extraordinários. Um é um jacaré que toca jazz — ele toca trompete e se chama Louis.  Ele é simpático, divertido e quer ser humano também para poder tocar jazz com todas as big bands locais. Ele é um pouco medroso, ,mas é isso o que o torna tão encantador. Ele é muito engraçado.

E eles também conhecem um vaga-lume cajun chamado Ray, um carinho muito sensível — ele está perdidamente apaixonado pelo amor da vida dele. O casal de protagonistas aprende muito sobre o amor com Ray — ele é muito divertido e muito sensível.

P: Você voltou em 2006 e agora estamos 2009.  Vocês levaram três anos para produzir esse belo filme?

Simsir.

P: É um risco lançar um filme animado de modo clássico, quando todos os demais estúdios estão produzindo animação digital?

É. A animação 2D feita à mão, para mim, é uma forma de arte maravilhosa. Eu nunca entendi por que os estúdios queriam aposentar a animação feita à mão, sabe?  Vai ver eles achavam que os espectadores de todo o mundo só queriam ver produções de animação digital. Eu não entendia isso, porque não acho que, em toda a história do cinema, a mídia em que um filme é produzido determinou se ele era divertido ou não. Eu sempre achei que o que os espectadores querem é assistir a bons filmes. E o meu sócio na Pixar, Andrew Stanton, disse uma vez — e eu concordo com ele — que parecia que a animação em 2-D tinha se tornado o bode expiatório para histórias ruins. Eu não quero assistir a filmes ruins. Então, quando nós voltamos, decidimos resgatar a animação feita à mão. Eu acredito que se existe um estúdio em todo o mundo que deveria estar produzindo animação feita à mão da melhor qualidade, é o estúdio que originou tudo isso, o Walt Disney Animation Studios. Trata-se de uma forma de arte deslumbrante. Agora, temos narrativas que se prestam melhor à animação feita à mão e outras que se prestam melhor à animação digital. E, na Pixar, nós sempre nos orgulhamos de escolher as histórias certas para a animação digital, no lugar certo e na hora certa, porque a animação digital está evoluindo o tempo todo e, com isso, o que podemos fazer com ela. Isso se deu porque, em 1991, quando começamos a fazer Toy Story, tudo o que era produzido em animação digital parecia plástico. Então, por que não criar logo protagonistas de plástico, você sabe, na forma de brinquedos? É perfeito, não é? É esse tipo de conhecimento que faz a diferença. O conhecimento daquilo que o computador é e não é capaz de fazer. E o mesmo se aplica à animação feita à mão.  É verdade. Veja o caso de Snow White, recém-lançado em HD e Blu-Ray DVD.  É sério, olhe os anões, como Dunga, veja como os anões são brilhantes, graças à técnica do squash & stretch. E mesmo hoje, aquilo seria muito difícil de se fazer na animação digital. Há coisas que você pode e coisas que você não pode fazer. E eu acho que quando você vir, por exemplo, o personagem Louis de A PRINCESA E O SAPO, o modo como ele é animado, isso seria muito difícil de ser conseguir através da animação digital. Além disso, eu acho que os cenários pintados à mão são absolutamente deslumbrantes, são lindos.  Há algo de realmente especial nesse meio, que eu não acho que ficou ultrapassado. Eu não acho que os espectadores o consideram algo do passado. Eu acho que o que os espectadores mais querem é se divertir — querem algo absolutamente divertido e satisfatório, e é isso o que eu sempre procurei fazer. E eu acho que há algo de realmente especial na animação feita à mão, há algo especial nos contos de fadas e nos musicais que nós há muito tempo não é visto. Eu acho nosso filme espetacular e por isso, fico tão empolgado.

P: Foi difícil montar uma equipe para produzir um filme 2-D depois de tantos anos fazendo filmes 3-D?

Essa é uma ótima pergunta. Basicamente, os estúdios Disney tinham desativado completamente o departamento de animação em 2-D. Eles tinham se livrado das pranchetas de desenho e tudo mais. E então, quando nós decidimos por esta volta, havia animadores que eram grandes artistas da animação feita à mão, artistas experientes, e que estavam trabalhando com animação digital, enquanto outros haviam deixado o estúdio. Então, nós trouxemos muitos deles de volta para o estúdio. Nós perguntamos aos animadores se eles queriam trabalhar com animação feita à mão ou continuar na animação digital, a escolha era deles. E alguns deles preferiram voltar à animação feita à mão. Além disso, o produtor, Peter Del Vecho, e a sua equipe de produção foram fantásticos. Nós os desafiamos a animar, inovando no modo como sempre haviam trabalhado no estúdio. Ed Catmull, o presidente da Pixar e Disney Animation, é fantástico por estar o tempo todo repensando o modo como trabalhamos. Ele desafia todo mundo — não é simplesmente porque você já fez algo antes que isso necessariamente seja o melhor modo de se fazer algo. Você pode aprender algo novo e ele sempre encoraja a equipe a experimentar coisas novas. Se não der certo, ora, ninguém é acusado de nada. A gente aprende com os nossos erros. Então, Peter Del Vecho e sua equipe foram fantásticos. Eles repensaram todos os aspectos do processo de produção, o que foi, de fato, emocionante. Por exemplo, eu recomendei a eles que tentassem uma coisa que nós passamos a incluir na produção dos nossos filmes ao longo do tempo. É uma fase que nós chamamos de fase de layout.  A Disney sempre fez layouts, isto é: depois que você define a história, você precisa decidir como ela será a encenação, o que vai ser animado, e esse layout é, então, passado aos animadores. Mas nós começamos a montar uma versão da sequência na qual estamos trabalhando, ainda na fase do layout, para que pudéssemos analisar, do ponto de vista cinematográfico, o trabalho das câmeras, o timing e tudo mais. E aí a gente se senta numa sala de projeção, apaga as luzes e simplesmente assiste a uma versão do layout, procurando ver se estamos direcionando o olhar do espectador exatamente para o ponto que queremos que eles olhem em cada cena, e se a montagem está funcionando. E na animação feita à mão, eles sempre definiam o layout da cena, definiam como seria o trabalho e simplesmente faziam a animação, sem assistir a nenhuma montagem até que a animação já estivesse pronta, e só aí, posteriormente, faziam as correções necessárias. Esse era o modo como eles sempre trabalharam. E eu disse, ora, por que vocês não experimentam deste jeito? E eu desafiei Rasoul Azadani, o chefe de layout, a tentar desse modo. E ele tentou. E depois da primeira sequência, ele disse: “Você me convenceu. Isso é fantástico”.  E, por isso, foi bem menor o número de correções necessárias ao final da produção por conta dessa fase de layout. E isso é algo que nós trouxemos da Pixar, pois era como trabalhávamos. Então, a exemplo desse tipo de coisa, nós os desafiamos o tempo todo. Mas eu também aprendi muita coisa. Nós também acreditamos no valor dos copiões da animação, em que todos os animadores se reúnem na sala de projeção e mostram ao restante da equipe o seu trabalho, não importa em que fase ele se encontre. E então, todos têm a oportunidade de fazer comentários e dar sugestões. Eles não costumavam fazer isso. Cada um se dedicava mais exclusivamente ao próprio trabalho, mas eu sempre achei importante trabalhar em equipe e promover a reunião de todos os animadores. E foi o que eles fizeram também na animação feita à mão, em A PRINCESA E O SAPO, e funcionou maravilhosamente bem. Então, nós repensamos todo o nosso processo de produção.

P: Até que ponto o estúdio Disney está comprometido com a produção de filmes tradicionais em 2-D?  Quantos filmes estão previstos para produção?

Bem, nós já anunciamos Winnie the Pooh, e estamos muito empolgados com ele. É uma animação feita à mão bastante semelhante à dos originais Winnie the Pooh and the Honey Tree e Winnie the Pooh and the Blustery Day. Esses dois filmes foram feitos por Walt Disney e pelos ‘Nine Old Men’, e é neles que espelhamos nosso Winnie the Pooh. Essa é, por enquanto, a única produção de animação feita à mão que nós já anunciamos.

P: Como fica o aspecto econômico desse retorno à animação feita à mão e como você resgata o interesse de um público acostumado ao 3-D?

O aspecto econômico? Infelizmente, eu não posso falar sobre o orçamento de nenhum dos nossos filmes. Agora, como eu posso fazer o público se interessar novamente pelo 2-D? Para mim, é muito simples. Através da nossa dedicação e produzindo um grande filme. Eu sempre acreditei nisso. Eu criei um aforismo, “a qualidade é a melhor estratégia comercial”. E eu acredito piamente nisso. Eu sou o maior fã da animação. Você sabe, eu adoro a história da animação, eu sei tudo sobre ela. Uma das coisas que fizemos foi reunir John Musker, Ron Clements e todos os animadores para discutirmos qual o estilo de animação feita à mão que nós queríamos produzir. E nós analisamos a história da animação Disney. E se você conhece a animação Disney, há um estilo que eu chamo de o estilo pessoal de Walt Disney. Poderíamos até afirmar que ele começou com Steamboat Willie, seu primeiro desenho animado, e simplesmente foi sendo desenvolvido, pois Walt Disney sempre estimulou os seus animadores a se tornarem artistas cada vez melhores. E isso continuou em Branca de Neve e os Sete Anões, Pinóquio e Fantasia, e esse estilo se manteve depois da Segunda Guerra Mundial e nos anos 50. E, para mim, A Dama e o Vagabundo, se você conhece bem o filme, foi o auge do estilo de Walt Disney.  Há um estilo caricatural particular característico dos artistas dos estúdios Disney e do próprio Walt Disney que realmente atingiu o seu auge em A Dama e o Vagabundo.  Depois disso, o filme seguinte foi A Bela Adormecida, que é deslumbrante, mas extremamente estilizado. Eyvind Earle pegou o estilo original e o transformou numa estética bem mais estilizada que era muito popular nos anos 50. Em seguida, veio 101 Dálmatas, outro filme fantástico, que inaugurou o novo estilo gráfico do final da década de 50 e do início dos anos 60. E os filmes foram ficando cada vez mais estilizados depois disso. Então, nós nos concentramos em A Dama e o Vagabundo como o estilo que buscávamos, porque, se você analisá-lo, seus personagens têm contornos bem arredondados, não é? Os animadores estavam no auge da sua forma no desenho 2-D e conseguiam nos transmitir a impressão de que os personagens eram quase tridimensionais, eles tinham contornos arredondados, tinham peso, mesmo sendo animados. Depois disso, eles se adquiriram um estilo mais tipicamente bidimensional. A Bela Adormecida e 101 Dálmatas tinham um estilo bem mais 2-D, com ângulos rígidos, e coisas desse tipo. Por isso, nós estudamos tudo isso e decidimos que queríamos seguir esse magnífico estilo arredondado que encontrou a sua melhor expressão em A Dama e o Vagabundo, inclusive na pintura dos seus cenários. Mas quando você assiste ao filme, você não fica analisando se ele é estilizado nem qual o seu estilo artístico. Você se deixa levar pela história, e esse, para mim, é o objetivo. Você poderia pegar cada fotograma de A PRINCESA E O SAPO e seria algo digno de se enquadrar e pendurar na parede, pois eles são lindos, não é? Mas nós não queremos que o espectador pare e pense na arte do desenho. Nós queremos que você se deixe levar pela história. E a beleza da arte do filme forma um casamento perfeito com a sua narrativa, os seus personagens, sua música e tudo mais. Em todos os filmes que eu produzi tanto na Pixar quanto nos estúdios Disney, sinceramente, o que mais me importa é a emoção desses filmes. É o modo Walt Disney produzia esses filmes. Isso é o que eu sempre adorei nesses filmes, sua sensibilidade, toda a emoção que há neles. Walt sempre disse que para cada gargalhada deveria haver uma lágrima, e isso representa o equilíbrio entre a emoção e o humor. E o humor sempre advém dos personagens, não simplesmente de um bando de tiradas engraçadas. É fruto dos personagens e da sua personalidade. Tudo isso somado cria esse estilo particular que buscávamos, que é o estilo clássico Disney.

P: Vocês estão apostando no escuro com esse filme, o que eu acho ótimo.

Ora, veja bem com quem você está falando, não é? Eu fiz uma aposta no escuro ao produzir a animação digital de Toy Story. E lembre-se que as coisas eram ainda piores na época de Toy Story, porque todo mundo achava que a animação digital era fria demais, era algo estéril, simplesmente um bando de dados e elementos gráficos, e como é que alguém agüentaria assistir a um longa-metragem de animação computadorizada até o fim? E, para mim, Walt Disney passou exatamente por isso com Branca de Neve. Você todas as histórias da época, que não havia história, mas que ele era maluco, a gente lê sobre a loucura de Disney e tudo mais, e aquele foi o filme de maior sucesso de 1938, o ano do seu lançamento. Foi o maior filme do ano.  E Walt Disney acreditava nas mesmas coisas em que eu acredito — o que importa é a história e os personagens. Não importa o meio. Nunca é o meio que entretém o público. Deixe que eu repita isso. Nunca é o meio que entretém o público. É sempre o que você faz com o meio. Imagine dois estúdios de filmes live-action. Um produz um sucesso após o outro, enquanto o outro faz filmes medíocres, está bem? E o estúdio medíocre olha para o estúdio bem sucedido e pensa: “Já sei por que os nossos filmes não fazem sucesso. Estamos usando uma câmera diferente. É por isso. Nós vamos usar a mesma câmera que eles e só vamos produzir sucessos. Todos vão adorar os nossos filmes, porque agora vamos usar a câmera certa. É claro que isso é ridículo, não é? É absolutamente ridículo. Ninguém nunca perguntaria a um cineasta de live-action, “você mudou de câmera, tem certeza de que quer mesmo mudar de câmera?” Como se fosse um grande risco usar outro tipo de câmera. Obviamente, isso é ridículo, porque o que importa realmente são a história e os  personagens. Mas, por alguma razão, na animação, todo mundo pensa, “você tem certeza de que quer mesmo fazer isso? No passado, diziam: “Animação digital, eu não sei, não… E agora é: “Animação feita à mão, eu não sei…” O que importa é entreter os espectadores com grandes personagens e grandes histórias. A gente quer fazer o público rir, fazer o público chorar, quer produzir uma trilha memorável. Queremos fazer um filme que, assim que ele acabe, você tenha vontade de vê-lo novamente, é só isso. Isso é o que importa, seja ele um filme live-action, de animação, feito à mão, feito no computador, com efeitos especiais, animação de bonecos, não importa. Esse é o objetivo dos cineastas e sempre foi o meu objetivo. É simples assim. E, por acaso, eu sou simplesmente louco por animação. É isso o que eu quero fazer e tudo o que eu sempre quis fazer, desde garotinho, entende? E estou muito feliz por estar de volta Disney para poder fazer um filme como A PRINCESA E O SAPO. Esse é o único estúdio no mundo capaz de produzir um filme como esse.

P: Você falar mais sobre as limitações da animação digital?

Não, não é que nenhum meio seja limitado. Quero dizer, não me entenda mal achando que há algum aspecto negativo quanto à animação digital ou quanto à animação feita à mão.

P: Então, por que vocês não poderiam ter feito Ray ou Louis com computadores?

Eric Goldberg, um dos nossos melhores animadores, foi o responsável pelo personagem Louis, o jacaré. Eu conheço o Eric há muito tempo. Ele fez o Gênio de Aladdin, e quis fazer o Louis. E o modo como Louis foi animado, através do que nós chamamos de squash & stretch, que confere toda a elasticidade ao seu corpo, toda a sua energia, é uma característica da animação feita à mão que torna os movimentos do personagem muito mais convincentes. Se você tentasse fazer isso através da animação digital, o resultado seria totalmente diferente. E eu acho que Eric o animou de um jeito perfeito, com o squash & stretch da animação feita à mão. Ele ganha peso, os movimentos de um personagem do seu tamanho ficam mais convincentes.  Para mim, a animação feita à mão e a animação digital são simplesmente diferentes.  E é a mesma coisa com o Dunga, Sab. Ele tem uma flexibilidade e uma elasticidade em função do squash & stretch da animação feita à mão que são simplesmente perfeitas.

P: John, eu queria voltar à história. Por que você acha que a gente ainda precisa de contos de fadas depois de histórias sobre insetos, carros e robôs que fizeram tanto sucesso?

O que há no centro de todos os parques encantados Disney? Um castelo, não é? Esse é o cerne de tudo o que Walt Disney fez, embora ele não tenha produzido somente contos de fadas. Ele criou muitas outras histórias. Mas há algo nos contos de fadas tradicionais que se presta perfeitamente bem à animação. Eu não acho que os espectadores consideram os contos de fadas ultrapassados. Eu acho que essas fábulas têm muita emoção. E há muito tempo não vemos um conto de fadas. O último conto de fadas produzido pelos estúdios Disney foi A Bela e a Fera, de 1994. E eu sempre achei que não precisamos produzir exclusivamente contos de fadas, mas podemos produzir um de vez em quando, pois são perfeitos para os nossos espectadores e para os parques. Temos a marca Princesas — nós não fazemos esses filmes por causa dos produtos e etc., e sim porque é algo muito importante para a nossa companhia. E eu adoro os contos de fadas. Eles têm algo de realmente especial que me encantava quando eu era garoto e assistia aos filmes Disney.

P: E qual era o seu favorito?

Bem, dentre os contos de fadas, eu acho que eu preferia Cinderela, porque eu adorava os ratinhos. Eu adorava o seu equilíbrio — a fada madrinha, o momento em que Cinderela ganha o vestido novo e a abóbora que se transforma numa carruagem e aí entra a música quando eles vão ao baile. É um filme genial, sabe? Ele é fantástico, então, eu realmente o adorava.

P: A tendência atual parece ser filmes estereoscópicos em 3-D. O que você acha do 3-D?

Ora, eu adoro o 3-D, está brincando? Todos os filmes de animação digital que estamos produzindo nos estúdios Disney são em 3-D. Bolt era em 3-D. Você sabe, os estúdios Disney já tinham produzido dois antes da minha chegada. Eles fizeram dois filmes, O Galinho Chicken Little e Meet the Robinsons. Na Pixar, estamos produzindo agora todos os nossos filmes em 3-D, o que eu adoro. Eu sempre adorei o 3-D. Eu tenho uma coleção de câmeras 3-D e eu tirei muitas fotos em 3-D, sobretudo nos anos 80, e até em 1988, quando eu me casei com a minha mulher, Nancy, nós tiramos as fotos do nosso casamento em 3-D, o que foi muito legal.

P: A PRINCESA E O SAPO é em 3-D?

Bem, é um filme de animação 2-D feito à mão e nós achamos que, com ele, estamos inaugurando uma nova tendência, o 2-D. Ora, vamos tirar esses óculos e ver um filme à maneira antiga, sabe? Não, eu estou só brincando. Mas, sinceramente, eu adoro ambos os estilos.

P: Então, nas suas pesquisas, vocês comeram muita jambalaya e gumbo?

Comemos! Nós enviamos uma equipe a Nova Orleans, John Musker e Ron Clements e um bando de artistas. Eles conheceram os pontos famosos da cidade, tiraram muitas fotos, conversaram com as pessoas. Eu já tinha visitado a cidade várias vezes. Todos os seus residentes são grandes contadores de histórias. John e Ron fizeram um passeio pelos pântanos com um guia cajun fantástico que era tão engraçado que acabou inspirando o personagem Ray. E eu sempre digo isso aos meus cineastas: pesquisem muito, pois nunca se sabe de onde virá a inspiração. Foi igual com relação à culinária local — ela é fantástica e acabou incorporada ao filme. A música também.  Os artistas participaram do Mardi Gras, eles se fantasiaram, atiraram os colares de contas do alto de um carro alegórico e tudo isso foi aproveitado na nossa história. Nós aproveitamos tudo isso, tornando nosso rico e verossímil.

P: Nas suas pesquisas, vocês usaram sapos vivos?

Os animadores trabalharam com alguns sapos, observando como eles se movimentam e como saltam. E jacarés também, eles observaram um bando de jacarés. Já os vaga-lumes são mais difíceis de avaliar e, por isso, Ray é, basicamente, fruto da nossa imaginação.

P: Você poderia nos contar um pouco mais sobre a pesquisa da música de Nova Orleans, especificamente?

Nas nossas visitas a Nova Orleans, nós ouvimos muita música. Nós estudamos o jazz e a história do jazz e do zydeco. O New Orleans Jazz Festival foi um ótimo lugar, porque eles têm palcos diferentes para todos os seus diversos estilos de música. E o problema foi que nós queríamos usar todos, já é uma música muito boa. O melhor da música local é que ela é única. Só existe lá e é extremamente interessante seu tipo de jazz, zydeco, Dixieland e gospel. Randy Newman conhecia profundamente todos esses estilos. Tudo isso é parte dele. E o curioso, sabe, é que ela influenciou todas as trilhas que ele compôs para os filmes que eu produzi. Há sempre um toque jazzístico na música do Randy. Eu sabia que ele seria perfeito para trabalhar conosco neste filme. Ele foi fantástico, e eu acho que o nosso número de abertura é um verdadeiro hino celebrando Nova Orleans. É muito especial. E conseguir que o amigo dele, dr. John, cantasse a música, foi um dos melhores momentos de toda a minha carreira. Nós fomos a Nova Orleans para gravar o número, achei fantástico acompanhar o trabalho de Randy Newman, dr. John e dos músicos fantásticos de Nova Orleans no estúdio de gravação, e depois sair para jantar com todos eles. E isso foi em plena época do Jazz Fest, então, também tivemos a chance de conferir as apresentações de Randy Newman e Dr. John. Foi uma época simplesmente mágica.

P: A sua primeira heroína afro-americana tem alguma coisa a ver com a eleição de Obama?

[Risos] Você acha que eu tenho uma bola de cristal? Na verdade, nós já estávamos produzindo esse filme há três anos. Não começamos em novembro do ano passado.  Foi simplesmente uma incrível coincidência. John Musker e Ron Clements estavam muito empolgados em fazer criar uma protagonista afro-americana para o filme, e eu também. Nós queríamos fazer tudo bem feito, e por isso, fizemos o nosso “dever de casa”. Nós tentamos contar uma história com uma personagem que nos deixasse orgulhosos e realizados, então, era muito importante criar uma personagem real e convincente para o público atual. E para isso, estudamos o máximo que pudemos. Na verdade, não há nada de novo nisso. Em todos os filmes que eu produzi, nós fazemos um volume absurdo de pesquisas, exatamente da mesma maneira. E eu encaro essas pesquisas como nosso modo de nos assegurarmos que a nossa personagem será verossímil dentro do que estamos tentando criar. Foi assim com Procurando Nemo, quando todo mundo da produção fez cursos de mergulho profissional e trabalhamos com biólogos marinhos. Nós trabalhamos com entomologistas em Vida de Inseto. Eu visitava as lojas de brinquedos durante o horário de trabalho e comprava montes de brinquedos com o cartão de crédito da companhia em Toy Story! Essa foi a minha pesquisa favorita. Mas sempre trabalhamos assim, há sempre muita pesquisa envolvida em todos os nossos filmes.

P: Por que era tão importante ter uma protagonista afro-americana?

É o que John Musker e Ron Clements queriam, e eu lhes dei o meu apoio. Era o que eles queriam fazer com o tipo de história que eles queriam contar.

P: Com o filme sendo passado em Nova Orleans, vocês discutiram a inclusão de alguma referência ao furacão Katrina?

Não, não fazemos nenhuma referência a ele. Você sabe, eu adoro a cidade de Nova Orleans. Eu a adoro, adoro, adoro, e fiquei arrasado quando aconteceu aquela catástrofe terrível. E ainda há muita devastação pela cidade. Por isso, nós nos orgulhamos em situar o filme em Nova Orleans e nos orgulhamos em contar com a sua música. Todo mundo devia visitar Nova Orleans. É um lugar simplesmente espetacular.

P: Há uma cena maravilhosa no filme que se passa na floresta, com os vaga-lumes. Ela lembra um filme de Hayao Miyazaki. E como todo mundo sabe, você é um grande fã de Hayao Miyazaki.  Seria uma possível referência ou alguma homenagem?

Não, nós não fizemos nenhuma homenagem expressa a Miyazaki, mas, sem dúvida, eu sou o primeiro a admitir que ele tem sido uma grande inspiração para mim. Eu espero que você tenha assistido aos filmes dele, pois são alguns dos melhores que o cinema já fez, e não falo simplesmente de animação. Mas uma das coisas que aprendi com os filmes do Miyazaki é que eles são o oposto do que se vê produz Hollywood. Ele privilegia os momentos de silêncio em seus filmes. Você não vê isso com muita frequência. Ele ressalta os momentos intimistas. Em todos os seus filmes, há uma cena de grande serenidade, e ao mesmo tempo alguma coisa acontece. E isso é ótimo, pois ele é um mestre do ritmo. E com esse momento de tranquilidade, ele nos prepara para algo que virá depois, a ação. Ele é um dos melhores diretores de ação do mundo e essa ação que vem logo antes ou logo depois, não seria tão boa se não houvesse esse momento de serenidade. Toda essa velocidade dos filmes atuais, sempre mais, mais, mais, mais rápido, mais rápido, está deixando as pessoas entediadas, sabe? E o que eu gosto no Miyazaki é a sua coragem e a sua segurança, pois ele sabe que os espectadores manterão a sua atenção fixa no filme durante esses momentos mais intimistas. E eu acho que UP – Altas Aventuras é um ótimo exemplo disso. Acho que Pete Docter também é um grande fã dos filmes do Miyazaki.

P: Você agora está dirigindo três companhias?

Sim, Pixar Animation Studios, Walt Disney Animation Studios e Disney Toon Studios, que produz os filmes Tinker Bell.  São esses os três estúdios de animação que eu dirijo, e ainda trabalho como conselheiro de criação do Walt Disney Imagineering.

P: Ainda sobra tempo para você dirigir algum filme ou você se ressente um pouco de ter tanta responsabilidade no momento?

Não, nesse exato momento, eu não estou dirigindo. Mas eu dirijo os Cars Toons, os curtas-metragens que produzimos com os personagens de Carros. Eu tenho a chance de dirigi-los, e fico feliz com isso. Mas não estou dirigindo nenhum longa-metragem no momento, porque já estou muito ocupado. Eu faço muita coisa. Eu adoro o que eu faço. Sou o cara mais feliz do mundo. Está brincando? Olhe bem para o que eu tenho o privilégio de fazer. Eu trabalho com John e Ron fazendo esses filmes, e em breve vamos lançar Toy Story 3 e Carros 2. Veja filmes como UP – Altas Aventuras, em que trabalhei com Pete Docter, e Bolt, ambos fantásticos. Eu simplesmente adoro tudo isso. E espere até você conhecer a Cars Land na Disney’s California Adventure.  No verão de 2012, baby, você precisa ir conhecer a Cars Land, é fantástica.

P: Parece que a marca Disney atrai a criança que há em todos nós, enquanto a Pixar fala ao adulto que há em nós. Concorda?

Não, eu realmente nunca penso nesses termos. Um estúdio não é um prédio. Um estúdio é a sua equipe, é nisso que eu acredito. A única coisa que nós trouxemos, de fato, da Pixar para o Walt Disney Animation Studios, é que é um estúdio dirigido pelos cineastas. Isso significa que as ideias dos filmes são sugeridas pelos próprios cineastas — não como num estúdio dirigido por executivos, em que um bando de executivos de desenvolvimento sugere as ideias e contrata um cineasta para dirigi-la.  Nós não trabalhamos assim. E essa é a única coisa que nós importamos. Nós também acreditamos na colaboração dos colegas, isto é, os diretores todos se reúnem e são muito sinceros com os demais quanto aos seus filmes e o que está ou não funcionando. E isso é o que considero a coisa mais importante: esse diálogo honesto em que todos sabem que não importa de quem é a ideia, e sim que as melhores ideias serão aproveitadas. Não há diretrizes obrigatórias em nenhum dos dois estúdios, não mesmo da minha parte, sabe. É importante que os cineastas ouçam e estejam abertos. Uma das diferenças fundamentais, além de serem equipes diferentes em cada um deles, é a sua herança. Ambos os estúdios têm uma herança muito forte e, ao mesmo tempo, muito diferente. Os cineastas de ambos se orgulham do legado dos seus respectivos estúdios. A Pixar é um estúdio em que nós começamos tudo literalmente do zero. Ele está fundamentado na animação digital, novas tecnologias, sempre extrapolando os limites dessas novas tecnologias. E estamos localizados na área de São Francisco, com um pé no Vale do Silício, outro em Hollywood, e Steve Jobs é o nosso CEO e meu parceiro nesses anos todos, nós realmente nos orgulhamos dessa herança. O The Walt Disney Animation Studios é o estúdio fundado por Walt Disney. Ele nunca fechou as suas portas. Ele continua fazendo filmes animados até hoje. E todos os artistas do Walt Disney Studios têm um enorme orgulho da sua herança. Um dos recursos mais valiosos do nosso estúdio é a Animation Research Library, o arquivo que abriga todos os desenhos da animação de todas as produções de Walt Disney, todos os cenários, os esboços de história, tudo. Ele é simplesmente inacreditável. Mas é um lugar onde você pode entrar para estudar e tentar aprender com os mestres.

P: Cada estúdio tem uma sensibilidade diferente?  E quais seriam?

Sim. Veja A PRINCESA E O SAPO, sabe? Eu acho que há diferenças sutis. Ambos os estúdios foram fundados sobre os mesmos princípios, isto é, todos nós adoramos entreter espectadores de todas as idades. Nós nunca pensamos que estamos fazendo algo apenas para o público infantil ou apenas para o público adulto. É realmente para todos os espectadores. Nós também acreditamos no nosso público, acreditamos na sua inteligência e que eles irão prestigiar uma história realmente genial e inteligente.  Por exemplo, este é um conto de fadas perfeito para o Disney Animation Studios.  Mas não sei se o filme produzido na Pixar, porque os cineastas de lá têm uma sensibilidade diferente. Já Toy Story, eu não sei se teria sido produzido nos estúdios Disney, e esse tipo de coisa. Há diferenças sutis entre os dois e isso é o que fantástico com relação aos dois estúdios. Mas posso garantir que um se orgulha do outro e eles se ajudam mutuamente, através da troca de sugestões. Nós levamos A PRINCESA E O SAPO inúmeras vezes à Pixar e o exibimos aos cineastas de lá a fim de ouvir os seus comentários. E nós trouxemos Toy Story 3 aos estúdios Disney para ouvir o que eles tinham a dizer. Então, eu acho ambos os estúdios mantém uma relação extremamente benéfica, com um tremendo respeito mútuo.

P: John, você recebeu um Lifetime Achievement Award em Veneza.

Sim, foi uma grande honra.

P: E você sempre usa suas incríveis camisas havaianas. Isso significa que você está pronto para se aposentar?

Nãosir! Eu uso camisas havaianas há muito tempo. E saiba que elas são apenas para os aposentados. Eu considero a camisa havaiana como um brinquedo que eu posso vestir. Sou uma criança grande. Eu já percebi que não quero crescer nunca e dou muito valor a isso. E quanto ao prêmio pelo conjunto da minha carreira, o Lifetime Achievement Award, bom, eu tenho 52 anos. Eu ainda sou jovem e ainda tenho muitos filmes pela frente. Então, eu acho que vou receber um segundo prêmio pelo conjunto da minha obra, e eu não sabem disso. Mas eu me senti extremamente honrado no Festival de Cinema de Veneza. Foi uma grande honra. E vou lhe dizer, uma das coisas que mais me honraram nisso é que é a primeira vez na história do festival, que é o festival de cinema mais antigo do mundo, que eles premiaram um cineasta, a mim, e um estúdio, a Pixar, e isso é algo que eles nunca tinham feito antes. E Andrew Stanton, Brad Bird, Pete Docter e Lee Unkrich, os demais diretores que trabalham comigo, estavam todos lá em Veneza para receber o prêmio junto comigo. Eu acho que é a primeira vez na história que isso acontece, o que me deixa muito honrado, pois o prêmio foi outorgado a todos nós pelo modo como nós fazemos cinema, e acho que isso foi realmente especial.

A Princesa e o Sapo

Escrito por Jonas

O diretor de marketing de O Camundongo iniciou sua aventura virtual com a Disney há mais de seis anos e, desde então, acompanha o crescimento do projeto e se orgulha do que foi e será feito por aqui.