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Clássicos na Crítica | O Rei Leão

 

 

 

 

 

Olhe para dentro de você. Você é muito mais do que pensa que é. Você tem que ocupar o seu lugar no ciclo da vida. Lembre-se de quem você é. Você é meu filho e o verdadeiro rei. Lembre-se de quem você é. Lembre-se…

“Livre pra poder viver,

Pra fazer o que quiser.

(…)

E o que eu quero mais é ser rei!”

 

 

Expressar em palavras minhas opiniões, sentimentos e interpretações sobre O Rei Leão é algo, inicialmente, muito difícil para mim, portanto esse Clássicos na Crítica virá com um tom muito mais pessoal. Quando o filme chegou aos cinemas pela primeira vez em 1994 eu tinha menos de três anos, mas mesmo assim, tive a honra de ter O Rei Leão como meu primeiro filme no cinema. Não lembro de nada daquele dia, só soube disso porque minha mãe me contou, mas de alguma forma tenho na memória a imagem perfeita de uma tela de cinema com Simba correndo no deserto rumo à Pedra do Rei. É algo que nunca apaguei da mente. Eu não sabia, mas a história de Simba era um espelho do que a minha própria vida traria para mim nesse grande ciclo sem fim no qual fazemos parte. Não é a toa que, desde pequeno, O Rei Leão é, entre animações e live-actions, entre musicais e filmes de fantasia, o meu longa metragem favorito.

O filme conta a história do pequeno leão Simba que sonha com o dia em que irá se tornar rei, herdando o trono de Mufasa, seu pai e atual rei da Pedra do Rei. Apesar de corajoso, Simba é cheio de dúvidas e temores e vive sob a sombra de seu pai, esperando um dia ser um grande rei como ele. Ao ver suas chances de se tornar rei eliminadas por causa do nascimento de Simba, Scar, irmão de Mufasa, arma uma maquiavélica trama para tirar o irmão e o sobrinho de seu caminho. Ao se ver culpado pela trágica morte de Mufasa, Simba foge das Terras do Reino e encontra em seu caminho dois grande amigos, um javali chamado Pumba e um suricate chamado Timão, que lhe ensinam uma nova filosofia de vida para esquecer seus problemas (Hakuna Matata). Porém, anos mais tarde, Simba encontra Nala, sua velha amiga de infância, e se vê em uma encruzilhada: enfrentar o passado e assumir suas responsabilidades como verdadeiro rei ou esquecer tudo e continuar a viver sua vida “sem problemas”.

 

 

Através uma trilha sonora contagiante e épica composta pelo talentosíssimo Hans Zimmer e com canções inesquecíveis compostas por Elton John e Tim Rice , acompanhamos a história de Simba através de músicas como O Ciclo Sem Fim, que abre o filme de forma épica, O Que Eu Quero Mais É Ser Rei, que ilustra perfeitamente a personalidade brincalhona e sonhadora do pequeno leão, e, é claro, Hakuna Matata, que se tornou a música mais famosa entre crianças e adultos ao ilustrar a filosofia de vida de Timão e Pumba. Destaco também Se Preparem que, na minha opinião, é a melhor música de vilão que a Disney já fez. Extremamente maliciosa, Scar deixa claro que não está para brincadeira e faz o expectador de primeira viagem ansiar e temer pelo grande “plano do século” contra Mufasa e Simba.

Por falar em Scar, que vilão da Disney conseguiu superar sua perversidade até hoje? O irmão do grande rei, tomado pela inveja e sede de poder, é capaz de armar um complexo plano com a ajuda das hilárias, porém malvadas, hienas, para matar o próprio irmão e sobrinho. Como o próprio Scar confessa no início do filme, ele não possui nenhuma força muscular, mas sua inteligência, malícia e lábia são o suficiente para conseguir tirar todos de seu caminho até o trono. A morte de Mufasa choca e emociona até hoje até mesmo os fãs que já assistiram ao filme milhares de vezes. Eu mesmo não pude deixar de me emocionar ao ver o pequeno Simba chorando e implorando pro falecido pai acordar depois da épica e tensa cena da debandada da manada. Uma curiosidade interessante é que a morte de Mufasa é a primeira morte que realmente é mostrada ao expectador dos filmes Disney. Antes, a morte era retratada de forma indireta ou metafórica, como a morte da mãe de Bambi.

 

 

O Rei Leão está cheio de cenas icônicas. Desde as impactantes abertura e cena final, que dispensam comentários devido à sua beleza musical e poética, até Hakuna Matata, que faz todo mundo cantar junto com o filme, ou a cena em que Mufasa mostra o futuro reino de Simba ou explica ao filho sobre a morte usando a metáfora dos reis que vivem sob a forma de estrelas. Sou suspeito pra falar, mas acho todo o filme memorável. Não existe uma única cena que não seja marcante ou inesquecível.

A qualidade da animação também merece destaque. As cores vivas e alegres do filme saltam aos olhos do expectador durante toda a história, desde os momentos de alegria e música até as cenas mais sombrias com Scar ou no clímax por exemplo. Outro fator interessante é que, depois de Bambi, O Rei Leão é o primeiro filme a retratar os animais de acordo com sua forma física real (diferente do que foi feito em Robin Hood, por exemplo), além da rotina dos personagens, muito relacionada com a realidade dos animais de verdade.

 

Trailer dublado da Edição Diamante de 2011:

 

Que o filme é incrível, todo mundo já sabe, mas algo novo foi apresentado ao público com o relançamento de O Rei Leão nos cinemas: o 3D. O filme foi convertido para a terceira dimensão para atrair mais público e propiciar uma nova experiência aos que já conheciam o longa. Por mais que eu seja fã, achei que poderia ter sido bem melhor. O 3D escurece muito as cores vívidas do filme e em vários momentos, os personagens e alguns elementos de cena saem de foco (reparem nas cenas em que os personagens ou cenários tremem, como as hienas e as pedras em Se Preparem). Tirando algumas poucas cenas onde o 3D realmente impressiona, como Zazu voando rumo à Pedra do Rei em O Ciclo Sem Fim, ou Scar pulando em nossa direção durante o duelo final com Simba, a terceira dimensão se resume a um leve toque de profundidade em alguns momentos do filme.

Também esperava um pouco mais da potência do som. Não sei exatamente se foi problema só na cópia que veio para minha cidade, mas o som não estava na potência que o cinema é capaz de atingir. E não era problema na sala, pois os trailers e até mesmo a propaganda do Disney Digital 3D estavam com o som perfeitos. Mas o filme estava mais baixo e até mesmo uma faixa de áudio não estava sendo reproduzida, causando até a “omissão” de algumas falas e sons do filme que, por eu ser fã, sabia que estavam lá. Isso não prejudicou totalmente a experiência. Por mais que não estivesse inteiramente potente, ver O Ciclo Sem Fim em um cinema foi algo de arrepiar.

 

 

Se comparado aos outros clássicos Disney, O Rei Leão tem a história que mais foge do estereótipo de “princesa/donzela indefesa que é vítima de uma trama maligna e é salva pelo heróico príncipe para viverem felizes para sempre”. Apesar de ter a presença do vilão que arma contra o mocinho, de existir o romance entre o mocinho e a mocinha e de tudo terminar bem no final, O Rei Leão nada mais é do que um filme sobre a jornada interna de um herói cheio de dúvidas, medos e questionamentos sobre a vida e sua personalidade.

A própria abertura do filme já é um exemplo do quão profundo e metafórico é o filme. Toda a história e processo de amadurecimento de Simba, nada mais é do que apenas uma parte do grande ciclo da vida que é representado no longa. Aspectos da personalidade, trama e atitudes dos personagens servem como um grande exemplo para nós, expectadores. Talvez esse lado mais filosófico da história venha da clara influência que o filme tem da obra de Shakespeare, Hamlet. O que importa é que O Rei Leão é um filme que nos leva a refletir sobre nós mesmos e sobre nossas vidas.

 

 

O filme trata de amizade através da lealdade de Timão e Pumba, de amor, através de Nala, e de superação e amadurecimento através de Simba. Mas um tema muito interessante presente na trama é a relação pai x filho que Mufasa tem com Simba. Eles, acima de tudo, são dois amigos, que confiam suas alegrias e medos um com o outro. É o tipo de relação que deveria existir em todas as famílias. Vejo muito de meu pai em Mufasa, que faz de tudo para proteger e educar seu filho da melhor forma possível. Seu caráter íntegro e seus valores são muito parecidos. Meu pai não é nenhum rei em termos financeiros ou políticos. Mas, apesar de eu não demonstrar muito essa minha admiração, vejo meu pai como um pai tão incrível quanto Mufasa foi para Simba. Talvez por isso eu me emocione tanto com a morte de Mufasa e me identifique com Simba.

 

 

Apesar de ser teimoso, ansioso, brincalhão e até um pouco hiperativo, Simba demonstra sentir o medo de não conseguir se tornar o grande rei que seu pai é. Isso fica claro na singela cena em que ele encara a pegada de Mufasa e compara com a própria pata, ainda pequena. Por sua inocência, o pequeno leão cai na armadilha de Scar, vê o próprio pai morrer e, desesperado, foge de seu reino para logo depois encontrar Timão e Pumba. E não é nenhuma surpresa quando Simba aceita o modo de vida da dupla de amigos. Após o trauma da morte do pai e da culpa interna que ele sente por isso, esquecer o passado é tudo que ele poderia querer.

É preciso um reencontro quase espiritual com o falecido pai (e aqui ressalto ainda mais a importância da relação de pai x filho de Mufasa e Simba) para Simba se lembrar de suas reais responsabilidades e deveres como rei e filho de Mufasa e aprender, com a ajuda do sábio babuíno Rafikki, que não devemos fugir do passado e de seus problemas, mas sim aprender com eles para termos um futuro melhor.

 

 

Quantas vezes na vida buscamos o caminho mais fácil e fugimos de nossos problemas e responsabilidades simplesmente porque eles são difíceis ou dolorosos demais para serem enfrentados? Quantos de nós tivemos ou temos medo de crescer e defender o nosso próprio reino? Todos esses questionamentos que a história de Simba levanta foram um retrato de muitos momentos e fases da minha vida. Eu sempre me identifiquei com Simba: desde pequeno, com seu modo de viver brincando e buscando sempre algo novo, até mais velho, com medo de assumir suas responsabilidades e sua própria vida. Eu passei por todas as fases de aprendizado e amadurecimento que Simba passou, e seria prepotente se disse que já amadureci como ele. Eu ainda sou Simba. E ainda estou aprendendo meu lugar no ciclo da vida. Tenho certeza que a mesma coisa acontece com muitos de vocês.

 

 

Depois de 17 anos desde que vi O Rei Leão pela primeira vez na minha primeira sessão de cinema da vida, já tive muitas interpretações diferentes desse filme. Mas ele nunca deixou de ser meu favorito e muito menos deixou de ser importante na formação do meu caráter e na minha forma de pensar e agir. E agora, com 19 anos, reviver a experiência de assistir ao grande ciclo da vida nos cinemas é como reviver e repensar minha própria vida. É rever grandes amigos como Timão e Pumba. É admirar grandes reis como Mufasa. É aprender com Simba. É jamais esquecer quem eu sou. E principalmente jamais esquecer que eu, você, todos nós, temos um papel nesse grande ciclo sem fim.

 

“Até encontrar

O nosso caminho.

Neste ciclo…

Neste ciclo sem fim.”

 

Fique de olho para os próximos especiais dos “Clássicos na Crítica“!


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Escrito por Felipe Andrade

Estudante de Administração, nerd, cinéfilo, colecionador e uma eterna criança. Não exatamente nessa ordem...