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Clássicos na Crítica | A Pequena Sereia

 

 

 

 

Olá, acho que boa parte de vocês já conhece o meu trabalho como o Animaluco, fui editor do Animatoons por mais de dois anos, e a partir de agora pretendo apenas fazer participações especiais nos sites. E que ocasião poderia ser mais especial do que a oportunidade escrever para todos vocês, fãs Nº1 da Disney, sobre o filme mais encantador que já vi, nessa impecável série sobre os Clássicos Disney? Foi um prazer escrever esse artigo e espero que vocês todos o apreciem. Coloquem seus trajes de banho e vamos mergulhar no mundo de uma das melhores animações já concebidas pela Disney.

Aqui no mar,

Aqui no mar,

é mais molhado,

eu sou vidrado

por tudo aqui!

 

 

Ariel, a adorável sereia, se envolve em uma incrível aventura com Linguado, seu melhor amigo, e com Sebastião, o caranguejo caribenho cantor de reggae. Mas ela vai precisar de muita coragem e determinação para realizar seus sonhos e salvar o amado reino de seu pai da terrível  Úrsula.

A Pequena Sereia é o primeiro conto-de-fadas moderno da Disney e tem características que fazem com que os fãs o considerem melhor que os três contos anteriores – Cenas de ação antes do desfecho, humor mais “contemporâneo” e até mesmo a música, que em “Under the Sea” assume um tom de reggae que jamais poderia ser ouvido numa produção da década de 1950. Outro ponto que diferencia A Pequena Sereia de Branca de Neve, Cinderela e A Bela Adormecida é a sua heroína – Isso é historicamente recorrente, cada princesa herda as ideias de sua época e Ariel foi a primeira a conduzir ativamente sua história, introduzindo uma geração de novas personagens: Bela, Jasmine, Pocahontas e Mulan.

Falando em introduzir, escrever sobre A Pequena Sereia sem falar da Era Dourada que o filme introduziu seria um crime.  Quando olhamos para filmes como O Caldeirão Mágico ficamos nos perguntando como o estúdio que os produziu evoluiu tão rapidamente para obras-primas da animação como  O Rei Leão – É um contraste muito grande.

 

 

Foi uma série de fatores que possibilitou essa renascença, mas com certeza o principal deles tem nome, sobrenome e marcou a infância de uma geração (e continua a marcar até hoje): A Pequena Sereia. Foi esse filme que mostrou á Disney o que o público queria: Uma história bem-contada, com personagens carismáticos, canções contagiantes e visual inovador, porém “aconchegante” – São algumas das regras que Walt estabelecia para sua equipe, mas que pareciam ter sido esquecidas após sua morte.

Quando pensamos na renascença da década de 1990, geralmente nos referimos especificamente a Aladdin, A Bela e a Fera e O Rei Leão, mas na verdade as bases lançadas por A Pequena Sereia também foram importantes para o sucesso de todas as produções CGI  da década de 2000. Afinal, o dinheiro gerado por Sereia e pelos filmes subsequentes foram cruciais para que Jeffrey Katzemberg deixasse a Disney e fundasse a DreamWorks, que impôs novos rumos para a animação a partir de Shrek. Esse dinheiro também foi usado na produção de Toy Story, que também encontrou um público mais confiante em filmes animados depois de tantos sucessos. E finalmente, pode-se dizer que até a categoria dedicada aos desenhos no Oscar tem suas raízes no ano de 1989.

 

Trailer original de cinema de 1989:

 

Trailer do relançamento nos cinemas em 1997:

 

O valor artístico de A Pequena Sereia também é inestimável, tendo construído um modelo sob o qual A Bela e a Fera foi produzido – Sem o dinheiro, as inspirações e os compositores consolidados por Ariel e sua turma, A Bela e a Fera dificilmente seria o filme que é, e isso acaba se estendendo a todos os animados subsequentes, inclusive o tão festejado O Rei Leão.

Enfim, como não restam dúvidas que Ariel representa uma das joias mais preciosas do imenso tesouro da Disney, vamos voltar a falar dos 83 minutos sobre os quais essa obra-prima se estende. São muitos os aspectos positivos a serem tratados, mas um deles se sobressai: A música. Com melodias e letras incríveis, A Pequena Sereia tem uma das melhores trilhas sonoras da história do cinema, e foi premiado com dois Oscar: O de melhor música, Under the Sea, e melhor trilha original. Até então, em 1989, apenas duas animações haviam sido premiadas na cerimônia: Pinóquio, em 1940, e Dumbo, em 1941.

 

 

As canções se casam perfeitamente com a história, e em momento algum tem-se a impressão de que o roteiro parou para os personagens cantarem – A ideia é usar as canções para seguir em frente, e não para fazer uma pausa. E mesmo que fosse uma pausa, as canções são tão contagiantes e divertidas que quando os as escutamos, simplesmente nos entregamos ao seu ritmo maravilhoso. Só a Disney consegue nos divertir tão intensamente com uma cena em que um caranguejo caribenho canta para convencer uma sereia a ficar no mar, ou para convencer um príncipe a beijá-la. Mas nem tudo é diversão: A música Part of your World faz com que nos identifiquemos momentaneamente com a protagonista e sua reprise, no final, toca no fundo da alma. A trilha de A Pequena Sereia foi o primeiro grande acerto de Howard Ashman e Alan Menken, que ainda fariam trabalhos tão bons quanto esse em A Bela e a Fera e Aladdin.

E falando em música, não são só coisas boas que vêm á mente quando estamos falando dessa produção. Principalmente entre os brasileiros, que tiveram uma “pequena” surpresa em dezembro de 1997, quando Ariel e sua turma fizeram uma nova passagem pelos cinemas nacionais. Mais especificamente quando a sereia começou a cantar uma das músicas mais envolventes da Disney, os fãs entraram em choque: A voz de sua heroína de infância não era mais a mesma, por razões que até hoje não são muito claras. Há quem diga que a performance original de Gabriela Ferreira deixava muito a desejar em termos técnicos, mas é preciso lembrar que esse “surto” não atingiu apenas os brasileiros – Outros países da Europa também tiveram o filme redublado, sob a desculpa de “nivelar” todas as vozes com a de Jodi Benson, dubladora norte-americana da sereia (até hoje eu não entendo isso muito bem, mas enfim…). Kiara Sasso, a nova cantora de “Part of your World”,  é indiscutivelmente uma ótima dubladora, mas… E daí? Redublagem sempre é redublagem e é sempre imperdoável, ainda mais para um filme como esse. Sorte de quem guardou seu VHS de 20 anos atrás…

 

Cena da canção “Parte de Seu Mundo (Reprise)” na dublagem original:

http://www.youtube.com/watch?v=sxU_qexboM4

 

Bem, pelo menos a nova voz não alterou o perfil das personagens do filme, que constituíram outro aspecto crucial para seu sucesso, começando pela própria Ariel, uma das princesas mais famosas da Disney. A Sereia foi eleita recentemente “a ruiva mais famosa do mundo”, talvez por um motivo muito simples: Ela é a heroína mais humana da Disney. É a única imperfeita, que erra ao se atrasar para o seu coral, ou ao demonstrar rebeldia em suas atitudes (isso fica evidente na Série de TV), ou a pentear os cabelos com um garfo. Isso faz com que ela seja muito mais real do que Branca de Neve e Cinderela, heroínas bastante idealizadas. No entanto, antes de conhecer o príncipe Eric e mostrar seu lado de determinação, Ariel se revela divertida, curiosa, inteligente, brincalhona e altamente simpática.

Mas o que seria de Ariel se não fosse o seu companheiro Linguado? O peixinho medroso (que em nada se parece com a espécie sugerida pelo nome) se tornou um dos coadjuvantes mais queridos da Disney, vendendo milhares de pelúcia em 1989. Totalmente fiel á princesa, Linguado a ajuda em suas decisões, mas mostra-se preocupado quando ela decide fazer um trato com Úrsula.

Falando em Úrsula, estamos diante de uma das maiores vilãs da Disney. Embora não tenha a mesma austeridade e “glamour” de Malévola e da Madrasta de Cinderela, Úrsula convence muito mais como personagem de desenho animado do que essas duas, sendo a típica vilã que quer dominar o mundo – Nesse caso, o oceano. Embora tenha tiradas cômicas, essa lula (sim, ela é uma lula, não um polvo! A não ser que você considere os braços humanos dela como tentáculos…) não está para brincadeira, quase matando Ariel no final do filme.

 

 

O Príncipe Eric, por sua vez, perde um bom tempo de tela para a sua parceira, mas não deixa de mostrar a que veio – Nem de longe temos uma repetição dos príncipes “sem nome” de Cinderela e Branca de Neve, que só aparecem para uma dança ou um beijo. Eric mostra grande determinação ao sair do barco de casamento para procurar Ariel após ser levada por Úrsula, e  salva a sereia heroicamente nos momentos finais.

Nesse elenco estupendo inclui-se ainda o Rei Tritão, uma das maiores figuras paternas da Disney, e também um personagem bastante humano, que apesar dos “surtos”, sempre quer o melhor para sua filha. Quando acredita que os humanos são nocivos, ele faz de tudo para que Ariel não tenha contato com eles, mas quando ele percebe que Eric a ama, é capaz de abrir mão de sua presença e de dar de volta as suas pernas (nos momentos finais, ele inclusive aceita ser escravo de Úrsula, trocando de lugar com Ariel). É justamente por Tritão manter essa postura de “sempre querer o melhor para a filha” que discordo de sua representação em A Pequena Sereia – A História de Ariel (na prequel,  ele proíbe a música no reino e chega a prender Sebastião).

 

 

Outro ponto alto da história é a gaivota Sabidão, que se julga um “expert” em humanos, mas confunde um garfo com um pente, e um pente com uma “grubunzunga”, ou um cachimbo com uma flauta e uma flauta com um “chimbaco”. Suas “aulas” acabam fazendo com que Ariel cometa uma série de gafes, rendendo cenas altamente cômicas. Apesar disso, Sabidão é um grande amigo da sereia e avisa que Vanessa na verdade é Úrsula disfarçada.

E por último, e não menos importante, temos um dos maiores personagens da história dos desenhos animados, o caranguejo Sebastião, querido por 10 entre 10 fãs da Disney. O caranguejo compositor rouba 100% das cenas em que aparece, e sua relação de “Morde e Assopra” com a princesa acaba se tornando uma grande parceria. Nesse sucesso todo, estão envolvidos os cinco dedos de Howard Ashman, que transformou o caranguejo de inglês para caribenho e sugeriu duas das suas melhores cenas: Quando Sebastião muda de ideia e resolve ajudar Ariel a achar o príncipe e quando ensina (ou pelo menos tenta ensinar) a princesa a beijar.

 

 

A Pequena Sereia também é um deleite visual, apesar das limitações de orçamento que sofreu, já que foi produzido numa época em que o estúdio estava sem recursos. Mesmo assim, somos premiados com efeitos especiais estonteantes na cena da explosão do barco e na batalha final no oceano. Além disso, os cenários aos quais somos apresentados são caprichados, embora não tenham a mesma minunciosidade de A Bela Adormecida (afinal, que filme tem?). Vale lembrar que esse foi o último clássico a ter seus desenhos pintados á mão – A partir de Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus e A Bela e a Fera, as cores passaram a ser adicionadas digitalmente, pelo processo CAPS.

Também foi aqui que os grandes animadores que trabalharam nos clássicos da década de 1990 finalmente puderam mostrar ao mundo o seu potencial. Glen Keane, hoje aclamado como um dos maiores profissionais dessa área (futuramente animou Tarzan, Pocahontas, Fera e Aladdin), deu vida a Ariel, com ajuda do ótimo Mark Henn, gênio futuramente responsável por Mulan, Jasmine e  Tiana. Andreas Deja, conhecido pelos seus vilões (Jafar, Gaston e Scar), ficou encarregado de dar vida ao Rei Tritão. Com tantas feras em sua equipe, a animação de A Pequena Sereia não fica devendo nada aos clássicos da era Walt.

 

 

Bem, pessoal, ao longo das 1989 palavras desse especial vocês leram a opinião de um fã quase alienado por esse desenho. Fãs alienados costumam omitir quaisquer defeitos dos seus ídolos, mas como A Pequena Sereia beira a perfeição, espero que isso não tenha sidoo um problema. Espero também que cada um de vocês tenha passado a gostar ainda mais dessa obra-prima depois de ler esse artigo! Até a próxima.

 

Vamos andar,

vamos correr,

ver todo dia o sol nascer,

e sempre estar

em algum lugar só seu e meu

 

 

Fique de olho para os próximos especiais dos “Clássicos na Crítica“!


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Escrito por Animaluco

Editor do Animatoons de 2008 a 2011; Autor convidado para especiais CNC do Disney Mania