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Clássicos na Crítica | O Corcunda de Notre Dame

Olá pessoal, estou aqui apresentando para vocês um novo especial que decidimos fazer para os nossos leitores com a intenção de trazer de volta às nossas memórias alguns clássicos memoráveis da Disney. Portanto, toda semana eu irei tratar de um clássico Disney presente na minha coleção pessoal em casa e de certa forma, especial para mim. Aviso logo que vocês não verão aqui críticas de todos os clássicos Disney. Adoro todos, mas vou dar atenção apenas aos de minha preferência. Eu espero que vocês gostem. A intenção não é destacar os melhores na minha opinião, e sim abrir espaço para discussões sobre os que gostam dos filmes e incentivar outros a assistir clássicos ainda não vistos. Portanto, espero que gostem. E bem vindos de volta ao mundo dos clássicos Disney!

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“Mais triste eu estou, a luz pra mim faltou, e essa falta me faz mal.

Um rosto horrível como o meu, não tem a luz celestial…”

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Lembro que quando era pequeno, “O Corcunda de Notre Dame” era um dos meus filmes favoritos. Tinha o VHS e assistia várias vezes seguidas. Sei todas as falas até hoje… Por isso acho que tenho um carinho especial por esse filme. Pra quem não conhece a história, “O Corcunda de Notre Dame” se passa no século XV e conta a história de Quasímodo, um jovem corcunda que, ainda bebê, teve a mãe assassinada e, em um ato extremo de piedade, foi “acolhido” pelo juiz eclesiástico Frollo. Vinte anos depois, Quasímodo, que se tornou sineiro da famosa catedral de Notre Dame, decide finalmente sair do companário onde viveu toda sua vida para enfrentar as ruas e conhecer de perto o “Festival dos Tolos”, a maior festa de rua de Paris. Ao se tornar o centro das atenções de toda a multidão por causa da sua deformação física, Quasímodo é salvo pela cigana Esmeralda. Humilhado, o corcunda volta à catedral onde decide jamais sair novamente. Mas o estrago já havia sido feito. Envolvido pela fúria e pelo desejo, Frollo começa uma busca implacável por Esmeralda, ameaçando até mesmo a própria Paris. Resta a Quasímodo detê-lo com a ajuda do capitão da guarda Febo.

Bom, depois dessa sinopse digna de verso de DVD Disney, acho que dá pra ter uma idéia da história, não? O filme, dirigido pelos mesmos diretores de A Bela e a Fera, Gary Trousdale e Kirk Wise, foi lançado em 1996 e fez um grande sucesso no mundo todo. Por ser um filme infantil, os diretores fizeram várias modificações na trama original de Victor Hugo, como por exemplo deixar Quasímodo e Esmeralda vivos no final, além de transformar Frollo em juiz, quando no livro o vilão é um Arcebispo. Apesar de fugir da crítica direta à igreja e de temas pesados para um longa voltado para as crianças, o longa trata de assuntos incomuns no mundo Disney como o conceito do inferno, luxúria, religião, discriminação, corrupção, infanticídio e tortura. Conceitos estes presentes de forma quase explícita por exemplo na dança sensual de Esmeralda no Festival dos Tolos e na canção “Fogo do Inferno”, cantada por Frollo e que expressa de forma bem forte sua obsessão sexual por Esmeralda e seu lado vingativo ao desejar que a mesma vá para o inferno caso o rejeite.

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Mas é claro que nem tudo no filme é drama, tristeza e temas polêmicos. Afinal, estamos falando de um filme Disney! Como todo musical que se preze, as canções são belíssimas e altamente apaixonantes.  Compostas por Alan Menken e Stephen Schwartz (Pocahontas e Encantada), elas expressam de forma poética os sentimentos e emoções dos personagens, acrescentando em sua maioria toques religiosos na letra, como em “Salve os Proscritos” e “Lá fora”. Sem falar é claro que conseguem ser muito animadas e engraçadas, como “Às Avessas” e “O Seu Glamour”. Destaque também para a trilha sonora orquestrada composta pelo Alan Menken. Ela varia de momentos de tristeza, comédia e drama para tons altamente épicos nas cenas mais dramáticas (até hoje me arrepio quando Quasímodo aparece na fachada de Notre Dame e clama santuário com Esmeralda levantada em seus braços). Parabenizo também a dublagem do filme. Não sei por que, mas não se fazem mais dublagens nos filmes Disney como as daquela época. É simplesmente impecável!

Destaque também para todo o design do longa. Para a construção de Notre Dame em forma de desenho, os animadores tiveram que fazer inúmeras visitas à catedral durante a produção do filme para enfim reproduzir fielmente a estrutura do prédio. Não é a toa que cada gárgula, estátua, imagem e estrutura presentes no filme realmente possuem o estilo gótico presente na catedral. Estilo esse que ajuda a passar ao espectador a atmosfera de tensão, suspense e misticismo que rodeia a catedral durante algumas cenas do filme. Na verdade, muita coisa da catedral foi utilizada para acrescentar algo interessante na trama, fazendo de Quasímodo um Tarzan de Notre Dame, já que ele várias vezes escala de forma acrobática os muros e paredes do prédio, usando exatamente as estruturas presentes na catedral original e que estão também no filme. Outro exemplo desse cuidado é a cena em que Quasímodo apresenta os sinos da catedral à Esmeralda, citando o nome deles. Cada detalhe de cada sino é representado fielmente na animação, dando lógica à idéia dos nomes diferentes para cada um, já que seus designs são suas personalidades.

O humor também não está de fora do filme. Levando em conta que a trama em si é um tanto quanto dramática e pesada, o alívio cômico do filme fica por conta do trio de gárgulas falantes amigas de Quasímodo. Victor, Hugo e Laverne protagonizam a maioria das cenas engraçadas do longa, incluindo aí as melhores piadas e a ótima canção “O Seu Glamour”, já citada anteriormente. O trio representa na verdade o inconsciente de Quasímodo que, preso na catedral durante toda a sua vida, fantasia com a amizade das gárgulas, como forma de se socializar de alguma forma com alguém além do seu mestre Frollo. A idéia de que a animação das gárgulas é fruto da imaginação de Quasímodo fica implícita no filme, já que elas sempre voltam a ser estátuas quando alguém, além do corcunda, entra em cena. Elas apenas ganham vida quando estão a sós com ele.

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Trailer original dublado de 1995:


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Apesar da grande quantidade de personagens cativantes, “O Corcunda de Notre Dame” no final realmente conta a saga de Quasímodo. No caso do romance de Victor Hugo, Quasímodo não é tratado como protagonista. Ele é apenas um personagem importante. O livro tem na verdade a própria Notre Dame como protagonista já que a intenção de Victor Hugo na época era fazer um romance histórico, para incentivar as pessoas a preservar a catedral. Não é à toa que o título original é “Notre Dame de Paris”. O corcunda só foi aparecer no título quando a obra foi adaptada para o inglês. No filme, o contrário acontece: Notre Dame é apenas o palco de  uma história que tem Quasímodo como total protagonista, contando toda a sua história desde sua origem cigana até os acontecimentos que o levam a enfrentar o próprio mestre para salvar quem ele ama.

Sim, Quasímodo também se apaixona por Esmeralda no filme, porém sua paixão não é correspondida, já que ela se apaixona ao mesmo tempo por Febo. Acho que é a única coisa que ficou estranha na trama. Se no livro Febo morre para salvar Esmeralda e depois ela mesma morre, levando Quasímodo à loucura, no filme os três se mantém vivos. Então a idéia dos autores foi deixar claro para Quasímodo em certa altura da trama que ele e Esmeralda são apenas amigos e juntar a mocinha com o galã coadjuvante com cara de príncipe Disney. Não vou questionar, mas fico um pouco triste por Quasímodo. Ficou parecendo que ele só serve para ser amigo…

A inocência de Quasímodo também é escancarada em grande parte da trama. Ao crescer ouvindo de Frollo que ele  não passa de um monstro no qual o mundo não está preparado para acolher, o corcunda cria em torno de si um bloqueio ao mundo real que só é quebrado depois de ver a verdadeira face de Frollo e a grande mentira que foi a sua vida. É  essa a grande sacada do filme, na minha opinião. A trama brinca discretamente com termos como “humanidade” e “monstruosidade”, criando uma comparação direta entre Frollo e Quasímodo baseada em suas atitudes. Confesso que só fui entender a metáfora presente no filme, anos depois, já adulto, quando revi o longa depois de muito tempo sem assistir. Na cena de abertura, quando o artista cigano Clopin começa a contar a história, e no final, quando ele encerra a trama, o espectador é apresentado a uma espécie de enigma, que deve ser resolvido durante o longa. Enigma esse que retrata exatemente toda a mensagem por trás da trama. Portanto, se você ainda não viu “O Corcunda de Notre Dame”, te convido a assistir e repito aqui às palavras cantadas por Clopin no início do filme e que, já adulto, me fizeram chorar ao realmente entender o que, quando criança, não tive malícia nem inteligência para absorver e aprender com essa linda história sobre preconceito e superação.

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Responda ao enigma assim que puder ao soar de Notre Dame.

Quem é o monstro? E o homem quem é?

Dizem os sons de Notre Dame.

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Fique de olho para os próximos especiais dos “Clássicos na Crítica“!

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Escrito por Felipe Andrade

Estudante de Administração, nerd, cinéfilo, colecionador e uma eterna criança. Não exatamente nessa ordem...