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O Rei Leão | O passado e o futuro do grande clássico Disney

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Vinte e três anos atrás, em 24 de Junho de 1994, o mundo se encantava e se embasbacava com a grandeza de O Rei Leão, considerado por muitas pessoas como o melhor longa-metragem de animação já produzido. Porém, antes de se tornar um sucesso de bilheteria e de crítica e de vencer dois Oscar®, o grande clássico surgiu em uma viagem de avião de Londres para Paris.

Durante a turnê de divulgação de Oliver & Sua Turma (1988), Jeffrey Katzenberg, presidente do Walt Disney Studios na época, o executivo Roy E. Disney, e o produtor Peter Schneider tiveram a ideia de desenvolver uma história de amadurecimento envolvendo leões e ambientada na África, com alguns toques de drama político e morte.

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Em Novembro de 1988, Tom Disch, autor do livro infantil A Torradeira Valente, escreveu um tratamento de roteiro, intitulado O Rei de Kalahari, e apresentou ao estúdio. “Quando o filme entrou em produção, o projeto já havia gerado páginas de roteiro suficientes para preencher uma grande caixa de papelão,” relembra Christopher Finch, escritor de The Art of The Lion King.

Assim como os seus antecessores, O Rei Leão passou por diversas mudanças, tanto no roteiro quanto no título. O projeto ganhou forma quando um grupo de animadores e artistas viajou para a África Oriental. No grupo, estavam os diretores Roger Allers e George Scribner, a roteirista Brenda Chapman, o designer de produção Chris Sanders, e a artista de desenvolvimento visual Lisa Keene.

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Nessa expedição, a equipe descobriu a tão popular expressão “Hakuna Matata” e “Asante sana squash banana”, a rima entoada por Rafiki. “Toda essa experiência nos ajudou a colocar tudo em foco e nos permitiu visualizar a encantada, mas realista África que buscávamos como nosso cenário. O filme não teria sido o mesmo sem essa viagem,” relembra Allers.

Quando retornaram, os cineastas já possuíam um vasto estudo sobre os animais, sobre os ambientes e também sobre a arte e a cultura africana, as quais se manifestaram de modo sutil no decorrer do filme, como na cena da música “O Que Eu Quero Mais é Ser Rei“. Allers, então, ganhou um novo co-diretor, Rob Minkoff, enquanto Scribner passou a servir como consultor.

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Uma versão mais naturalista e colorida da história começou a evoluir. A dupla se reuniu com Brenda Chapman, Don Hahn, Kirk Wise e Gary Trousdale, os quais haviam acabado de finalizar A Bela e a Fera (1991), durante dois dias para uma tempestade de ideias, na qual foram resolvidos muitos dos problemas do roteiro e um claro esboço da história surgiu.

Irene Mecchi e Jonathan Roberts, em seguida, se juntaram ao grupo para escrever o novo roteiro. De acordo com Finch, Mecchi e Roberts foram responsáveis pelo aspecto verbal da história e também por desenvolverem os principais personagens. Enquanto isso, os animadores do estúdio precisavam fazer uma escolha: trabalhar na aventura de Simba ou no primeiro filme do estúdio baseado em uma história real.

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Pocahontas (1995), comandado pelos animadores Eric Goldberg e Mike Gabriel, era um drama muito sofisticado e inspirado na popular jornada da filha do chefe Powhatan. Já O Rei Leão era algo completamente inédito e um experimento, pois era o primeiro filme do estúdio não baseado em algum material já existente, embora tenha utilizado Hamlet de Shakeaspeare como referência.

Como praticamente todos os animadores experientes optaram por trabalhar em Pocahontas, a equipe de Minkoff e Allers foi formada por novatos e entusiastas dos animais. Andreas Deja, o animador responsável por dar vida a Gaston e Scar, resolveu participar do projeto devido ao seu amor por Mogli – O Menino Lobo (1967) e pelo trabalho de Milt Kahl no mesmo.

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Tim Rice, letrista vencedor do Tony, estava envolvido no projeto desde 1991, sob a condição de contratarem um compositor adequado. Rice tentou convencer o grupo ABBA, com o qual havia trabalhado anteriormente. Porém, o grupo sueco estava ocupado e recusou o convite. Então, Rice sugeriu convidar Elton John e o cantor se mostrou entusiasmado com o projeto e se comprometeu de imediato.

Hans Zimmer também se juntou à equipe, muitas vezes retrabalhando as músicas enviadas por John e Rice para encaixar na trilha sonora. Para Zimmer, trabalhar no clássico foi algo extremamente pessoal. “Meu pai morreu quando eu era muito jovem, e eu percebi que precisava lidar com isso nesse filme,” disse o compositor no documentário dos bastidores.

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Escrever para um filme de animação não é tão diferente de escrever para um musical dos palcos. Você está tentando escrever as melhores letras que você consegue, para ajudar a estabelecer os personagens e avançar a trama. Assim como eu, os roteiristas ficam fazendo mudanças até deixarem tudo certinho,” declarou Tim Rice, no livro The Art of The Lion King.

O elenco também ajudou a definir o tom e o visual do longa. Por exemplo, Deja foi influenciado pela aparência de Jeremy Irons, a voz original de Scar, enquanto a juba de Simba se tornou mais suave e menos selvagem após a contratação de seu intérprete, Matthew Broderick. E assim como em Bambi (1942), animais foram levados ao estúdio para serem observados pelos animadores.

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Uma das preocupações dos animadores, no entanto, era a falta de adereços, pois os personagens não tinham nada para se apoiar. No entanto, a falta de objetos nos cenários permitiu os animadores ousarem e tirarem performances mais poderosas dos personagens. Do mesmo modo, muitos movimentos de câmeras nunca haviam sido testados em animação, a exemplo do giro em 360º no ápice da história.

Seis meses antes da estreia nos cinemas, o primeiro trailer foi exibido nos cinemas. Com um fundo preto e texto em vermelho, a prévia anunciava: “No meio do ano, Walt Disney Pictures irá apresentar seu próximo longa de animação. O que se segue é a música de abertura que começa a história.” E após a exibição completa de “Ciclo Sem Fim“, o letreiro surgia com “Continua. Junho de 1994.”

Primeiro trailer em inglês de O Rei Leão:

https://youtu.be/YkULiFjPj_U

Era o anúncio de algo novo, ousado e cheio de emoção. E a resposta do público motivou ainda mais os cineastas, a ponto de sequer um terremoto de 6.7 na escala de magnitude, no Vale de São Fernando, onde o filme estava sendo produzido, conseguir interrompê-los. O sucessor de Aladdin (1992) foi finalizado na garagem de alguns animadores, enquanto outros acampavam no estúdio.

Felizmente, mesmo com as estradas e ruas destruídas, O Rei Leão conseguiu ser finalizado dentro do prazo previsto para o lançamento nos cinemas mundiais, recebendo críticas arrebatadoras. O clássico, em pouco tempo, cativou a imaginação de crianças e adultos ao redor de todo o globo, quebrou recordes de bilheterias, inspirou e continua a inspirar novos empreendimentos criativos.

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A animação tradicional de maior arrecadação nas bilheterias gerou um musical na Broadway, o qual posteriormente veio ao Brasil, onde também se provou como um sucesso; atrações dos Parques Disney; seriados de televisão; e uma quantia impressionante de produtos. E em 18 de Julho de 2019 no Brasil, será a vez da história de Simba receber uma nova versão nos cinemas.

Jon Favreau, responsável por Mogli – O Menino Lobo (2016), assumiu a delicada e difícil tarefa de dirigir essa readaptação, ciente dos riscos e da pressão do público de trabalhar com uma história tão querida, especialmente uma ainda recente na imaginação do público, ao contrário da história do menino lobo, cuja nova versão veio cinquenta anos depois do original animado.

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Durante o Tribeca Film Festival 2017, Favreau comentou a respeito da responsabilidade de comandar tal obra. “Quando você está dirigindo, você precisa amar [o que está fazendo]. Você precisa amar ao ponto de ser uma obsessão. Eu preciso viver, respirar, dormir e sonhar com isso. Se eu vou fazer o meu melhor trabalho, preciso estar completamente imerso,” disse para a Entertainment Weekly.

Você olha para o material, se inspira e tenta atualizá-lo para os tempos atuais,” continua Favreau. “As pessoas conhecem muito bem as coisas da Disney. E elas realmente conhecem O Rei Leão. Elas cresceram com isso e há um grande impacto emocional. Eu penso naquilo que me faz lembrar de O Rei Leão.”

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O diretor explicou ter passado pelo o mesmo processo com Mogli – O Menino Lobo, listando diversas cenas memoráveis do clássico, como a de Mogli e sendo hipnotizado por Kaa, e a de Mogli e Baloo descendo o rio. “Essas eram as imagens que realmente precisávamos… E isso nos deu mais espaço para alterar e mudar as coisas,” ressalta.

Mogli foi há cinquenta anos. O Rei Leão foi há vinte. E as pessoas cresceram com ele em uma época na qual podia assisti-lo diversas vezes […] O que eu estou tentando fazer é honrar o que já existia… As pessoas possuem certas expectativas,” revela o diretor. Até o momento, os detalhes acerca da produção são escassos. Jeff Nathanson (Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar) está escrevendo o roteiro.

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James Earl Jones irá reprisar o seu papel como Mufasa, enquanto Donald Glover será Simba. Os comediantes Billy Eichner e Seth Rogen darão vida a Timão e Pumba, respectivamente. E segundo rumores, a cantora Beyoncé é a favorita do diretor para interpretar Nala nessa nova versão. Embora a oferta já tenha sido feita pelo estúdio, a cantora ainda não se decidiu.

Favreau terá o desfaio de criar uma versão totalmente em computação gráfica do clássico, afinal não há humanos na trama, mas para ele, o segredo está em saber agradar o público. “Tudo se trata de dar ao público a experiência pela qual estão esperando e, se você conseguir surpreendê-los ao longo do caminho, eles vão gostar ainda mais. Porém, você precisa entregar o que as pessoas querem,” finaliza.

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Escrito por Lucas

Um grande aficionado por cinema, séries, livros e, claro, pelo Universo Disney. Estão entre os seus clássicos favoritos: "O Rei Leão", " A Bela e a Fera", " Planeta do Tesouro", "A Família do Futuro" e "Operação Big Hero".