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A Bela e a Fera | Análise de Fã para Fã

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“Pense naquilo que você sempre quis. Agora encontre-o em sua mente e sinta-o com seu coração.”

Fera

Spoilers! A cada adaptação com atores de uma animação lançada pela Disney, os fãs seguram a respiração, torcendo para o filme não os decepcionar. Principalmente quando se trata de uma das animações mais queridas por todos, um dos maiores clássicos dos estúdios, A Bela e a Fera (1991).

Então, não sem motivo, todos começaram a se desanimar quando as primeiras críticas saíram antes do filme estrear para o grande público. Como poderiam ter escolhido a atriz errada? Como a computação gráfica ficou mal feita? Como puderam destruir minha infância? Assistam ao filme antes de julgá-lo baseando-se em críticas. A sua opinião pode, sim, ser diferente.

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Nem todas as produções precisam se encaixar em “o melhor filme do ano” ou “o pior filme da Disney”. Um filme pode ter problemas técnicos e mesmo assim te tocar, te emocionar. Tudo está tão oito ou oitenta, tão preto no branco, que nem ao menos cogitamos a hipótese de um filme conseguir simultaneamente desagradar alguns e encantar completamente outros.

O fim de semana de estreia chegou e, então, pudemos respirar aliviados. Sim, o filme tem problemas. Mas funciona. Funciona especialmente para você, fã, que conhece as músicas de cor; que sabe cada fala antes de ser dita; que quer ver em tela uma obra que respeita a original e, sem alterá-la demais, adiciona elementos que a enriquecem.

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Claro, sabemos que todo filme deve funcionar sozinho. Entreter cada espectador como se estivesse assistindo-o pela primeira vez. Porém, quantos entre nós nunca assistiu ao clássico A Bela e a Fera? Quantos foram sem nenhuma expectativa para as salas de cinema? Poucos. E se você faz parte do grupo de pessoas que não conhece a história, pare agora e leia antes nossa Crítica de Fã Para Fã. Assista à animação. Se encante. Assista ao filme novo. E não deixe de voltar para contar o que achou.

A partir de agora, elementos da trama serão citados, então, cuidado com os spoilers pelo caminho! Vamos conversar, de fã para fã, sobre o que mais gostamos, e não gostamos, nessa nova adaptação. Anos atrás, quando revelaram que Emma Watson ficaria com o papel de Bela, nossa empolgação não poderia ser maior. Ela era a escolha perfeita! É a Bela da vida real, não é?

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Devo dizer que, para mim, Watson não é a Bela ideal em tela. Suas expressões falham em momentos importantes da trama e pouco mudam ao longo do filme. Como alguém pode assistir a talheres e pratos dançarem ao seu redor sem ficar visivelmente maravilhada? Outro ponto a ser observado é o fato da performance da atriz como cantora, infelizmente, não se comparar de maneira alguma à voz poderosa de Paige O’Hara.

Mas, se por um lado faltou à Emma os sorrisos e olhares constantes da Bela animada por Mark Henn, por outro, sua maneira reservada e séria no início do filme nos faz perceber como ela realmente não se adaptava àquela pequena vila do interior. E quando finalmente sorri, nos mostra o quão confortável está no castelo ao lado da Fera.

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“Você me faz sua prisioneira e agora quer jantar comigo? Ficou maluco?”

Bela

Ao assistir ao filme uma segunda vez, pude perceber maiores sutilezas na atuação de Emma. Sua Bela demora muito mais para baixar a guarda perto da Fera, o que faz todo o sentido. Dan Stevens também interpretou uma nova Fera, e surpreendeu a todos. No desenho, o personagem era muito mais animalesco, não sabia nem ao menos ler ou como interagir com outros humanos. Era uma criança em corpo de monstro.

O que vemos aqui é uma Fera com um lado humano muito presente. Um personagem que lê constantemente e que quer conhecer o mundo. Um personagem com o qual Bela pode se identificar verdadeiramente e, claro, se apaixonar. A atuação de Stevens está sob uma máscara digital e é carregada por sua voz. A captura de seus movimentos faciais foi feita em estúdio fechado após as filmagens do ator interagindo com outros atores serem feitas. E o resultado dividiu opiniões.

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Particularmente, gostei da versão final. O design seguiu o original em quase todos os aspectos, principalmente mantendo os olhos humanos. Talvez a cena mais problemática no que diz respeito À aparência do personagem tenha sido em seu solo musical, no qual Fera se movimenta sobre os telhados do castelo. Além disso, o ator capturou belamente os trejeitos de sua versão animada quando humano.

Após a transformação, ao vermos o Príncipe – sim, apenas ‘príncipe’ – olhar para Bela, sentimos como se estivéssemos vendo uma animação do próprio Glen Keane. É realmente emocionante. Aliás, os fãs mais fiéis da animação devem ter percebido como a cena da transformação em si bebeu muito da fonte original. Alguns enquadramentos são idênticos aos feitos por Glen. Toda a sequência parece ser uma cópia fiel do desenho clássico. E não ficou maravilhoso?

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Luke Evans também incorporou todos os trejeitos do vilão Gaston. Apesar de não ter o mesmo porte físico do personagem animado, o que seria impossível já que Gaston passa muito perto de ser uma grande caricatura, ele apresenta um temperamento ainda mais explosivo, o que o torna mais perigoso.

Josh Gad teve a missão de ser um dos poucos alívios cômicos do filme. Le Fou, porém, possui um arco muito mais interessante do que sua versão clássica. De bajulador sem opinião própria àquele que percebe o desequilíbrio de Gaston e que faz a escolha certa ao trocar de lado no fim. O personagem foi alvo de polêmica recentemente por ser anunciado como o primeiro personagem abertamente homossexual dos estúdios.

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Porém, esse lado do personagem é praticamente não mencionado ao longo do filme, sendo verdadeiramente lembrado apenas nos instantes finais quando, por alguns segundos, Le Fou dança com outro rapaz. Ainda não foi dessa vez que os estúdios trouxeram um personagem realmente representativo.

Animar os objetos encantados talvez tenha sido um dos maiores desafios dessa produção. A equipe optou por mantê-los mais reais do que cartunescos, o que fez com que melhor se encaixassem nos cenários, mas também os tornaram mais comuns e difíceis de simpatizar.

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“Eu não sou uma fera.”

Fera

Quer dizer, isso é o que teria acontecido se já não os conhecêssemos há anos e pelos grandes nomes por trás de suas vozes, como a atriz Emma Thompson, que está adorável no papel de Madame Samovar; Ewan McGregor, que retorna ao musicais como Lumière; e Ian McKellen, que, com sua voz marcante, recria Horloge.

E o que dizer da trilha? Alan Menken e Howard Ashman são a alma da versão animada da história e já foram vencedores de diversos prêmios pelas canções que ouvimos aqui outra vez. Suas composições dispensam elogios. Como não ficar arrepiado ao ouvir as notas da trilha sonora original ao fundo? Ou cantarolar “Bonjour!” quando o filme começa?

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Há, porém, novos números musicais compostos por Menken e Tim Rice. Todos esperávamos que algumas canções do espetáculo da Broadway estivessem presentes no longa, como “Humans Again” ou “If I Can’t Love Her”, mas elas foram descartadas. Felizmente, fomos surpreendidos por “Days in the Sun“. A canção, que carrega em sua letra o passado e esperança de todos personagens, se tornou tema do filme já que pode ser ouvida como melodia em diversas cenas.

Quando toca, ela cria uma atmosfera delicado no filme, como um respiro entre tanto caos na vida de Bela. Outra feliz surpresa foi o novo solo da Fera, “Evermore“. A voz de Dan Stevens mostra todo o sentimento do personagem e seu amor genuíno por Bela. É quase impossível tirar a música da cabeça ao sair da sala de cinema. Como fãs do filme que nos tornamos, torcemos por uma indicação ao Oscar®. Quem sabe? Seria bom ver Menken recebendo mais uma estatueta.

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Durante a infância, nos acostumamos a ouvir grandes dubladores, como Garcia Jr, atuando no filme. Nada mais normal então que o fato de ouvirmos novas vozes em português nos cause estranheza. Com um passado e experiência em musicais, todos os dubladores fizeram um ótimo trabalho nas canções – vocês podem e devem conferir a trilha em português e em inglês no Spotify.

Muitos fãs perceberam nas canções a troca de vários versos já conhecidos por nós, e isso não foi por acaso. As letras das músicas foram trocadas também em sua versão em inglês. Porém, em vários momentos as falas e canções não pareciam tão bem sincronizadas com os movimentos de boca dos atores. Ou pelo menos não tão bem sincronizadas quanto na animação.

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“Se ela for aquela que quebrará o feitiço, você deve aprender a amar.”

Lumière

É verdade, a trama desse filme é quase idêntica a de 1991. Diversas falas, por sinal, são iguais. No entanto, finalmente pudemos ter várias de nossas perguntas respondidas. Sempre quisemos saber por que Maurice, um inventor, saiu de um grande centro como Paris, por exemplo. E agora sabemos que ele mantém sua filha presa em uma pequena aldeia porque teme perdê-la, como perdeu sua esposa para a peste. Isso o torna muito mais humano.

Ter perdido a mãe de maneira trágica faz com que Bela tenha mais um motivo para se identificar com Fera, que aqui ganha um novo passado. O príncipe mimado e sem motivo é na verdade uma criança órfã de mãe, solitária e criada por um pai cruel. Também descobrimos finalmente que, sim, o Príncipe governa a vila de Bela. Os moradores apenas tiveram suas memórias apagadas. E quão surpreendente foi descobrir que Senhor Samovar, o pai de Zip, estava entre esses camponeses?

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Tantos elementos adicionais e mudanças de comportamento dos personagens trouxe, porém, um ritmo estranho ao filme que, muitas vezes, se mostra corrido. Personagens novos ou mais presentes – como a Feiticeira – têm pouco espaço para serem aprofundados e podem parecer adicionados sem cuidado. Novamente, o fato de conhecermos tão bem a animação clássica preenche essas lacunas. Não há reais furo na trama ou pontas soltas.

Quero saber, qual foi a cena favorita de vocês? Sei que para mim seria quase impossível escolher. São tantas cenas nostálgicas e empolgantes. Tal qual a cena da taverna, uma das mais empolgantes, na qual Gaston e Le Fou cantam; ou quando Fera e Bela salvam um ao outro dos lobos; ou ver Bela recebendo a biblioteca de presente; cantar com Lumière em “Be Our Guest“…

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“Minha querida Bela, você está tão a frente de seu tempo. Essa vila é pequena, com mentes pequenas. Mas pequeno também significa seguro”.

Maurice

E, claro, ver os dois dançando “Beauty and the Beast” pelo grande salão – aliás, o icônico vestido amarelo, tão criticado nos trailers por ser simples demais, funcionou belamente em cena, com suas centenas de cristais cintilando enquanto os dois valsam. As camadas soltas e sobrepostas deram leveza nos giros e combinaram com a naturalidade dessa nova Bela. Talvez não seja historicamente correto, mas esses ainda é um conto de fadas antes de ser um romance de época.

Como fã, saí da sala completamente encantada. As mensagens do filme continuam atuais: precisamos ser nós mesmos, mesmo quando parecemos destoar da multidão. E não devemos julgar outros por sua aparência ou posição social. Com novas cenas para me lembrar e uma trilha maravilhosa para cantarolar todo o tempo, foi como voltar a ser criança por um instante. Como voltar para um lugar familiar.

Não há verdadeiramente nada de novo no filme.

E tudo bem.

Ele é maravilhoso.

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Escrito por Caroline

Designer Gráfico, Disney freak, viciada em café, quer ser roteirista e princesa quando crescer. Têm mais livros do que deveria e leu mais vezes “Orgulho e Preconceito” do que têm coragem de admitir.